Estar entre a cruz e a espada! Certamente você já ouviu essa expressão. Basicamente a interpretação é: “Não há como fugir. Você precisa se decidir\”. E as circunstâncias se agravam ainda mais se a sua decisão envolver outras pessoas.
É justamente uma destas decisões que está dividindo as opiniões dos catarinenses neste momento: a do governo do estado, com o plano de retomada de atividades (reabertura do comércio e de atividades não essenciais previsto para a próxima semana).
\”Santa Catarina foi o primeiro estado a adotar medidas rigorosas de contenção da pandemia e o primeiro que irá sair destas medidas, e muito provavelmente o primeiro que irá voltar para elas, a um preço muito maior e à custa de vidas de muitos cidadãos\”, é o que diz um manifesto assinado por pelo menos 54 entidades médico-cientistas de Santa Catarina, que foi publicado nesta sexta-feira (27).
\”As evidências já são cristalinas sobre a alta capacidade que o vírus tem em se disseminar, de causar hospitalizações e mortes nos pacientes que requerem internação\”, diz o documento.
As entidades afirmam que no cenário atual, as medidas de contenção adotadas pelo governo do estado de SC estão suportadas em evidências científicas e por associações acadêmicas e assistenciais, e reforçaram a necessidade de continuidade do isolamento social, alertando que qualquer orientação contrária é irresponsável e pode pôr em risco a vida de milhares de pessoas.
Quanto a idade dos infectados, a manifestação dos cientistas diz que \”Santa Catarina tem mais idosos que a média do país – 17% da população total – e poucos deles vivem sozinhos. Nesse momento a disponibilidade de insumos não permitem fazer testes em massa para identificar todos os casos, de modo a permitir isolamento apenas dos grupos de risco, pois não sabemos se eles estarão ou não em contato com portadores sem sintomas\”.
\”Dados da própria Secretaria Estadual da Saúde de SC apontam que a doença ocorre mais frequentemente entre pessoas de 30 e 39 anos. Dados internacionais mostram que há muitos infectados jovens sem sintomas. Não há como ter um isolamento efetivo de grupos de risco nessas condições\”.
O manifesto ainda afirma que \”no enfrentamento à emergência sanitária causada pela COVID-19, não deve haver antagonismo entre a melhor evidência científica e a melhor ação para o estímulo econômico\”.
\”A conduta a ser encaminhada pelos gestores públicos é aquela que protege a vida de seus cidadãos e suporta a economia mediante políticas eficientes\”.
Leia o manifesto na íntegra:
\”As entidades científicas, acadêmicas e de saúde que subscrevem este documento manifestam sua preocupação com a divulgação do plano de retomada econômica anunciado pelo Governo do estado em 26 de março de 2020.
Tanto quanto os demais setores da sociedade catarinense, as comunidades científica e médico-sanitária de SC também veem com grande preocupação a grave situação da pandemia de COVID-19, seja por seu impacto na saúde ou por seus efeitos econômicos.
No cenário atual, as medidas de contenção adotadas pelo governo do estado de SC estão suportadas em evidências científicas e por associações acadêmicas e assistenciais.
Um artigo publicado na revista Science informa que as medidas drásticas de controle implementadas na China diminuíram substancialmente a expansão da COVID-19.
Não há justificativas epidemiológicas para sustentar essa opção e ela tem o potencial de causar a explosão de infecções, hospitalizações e mortes no estado.
Além disso, o Brasil registrou, na terceira semana de março, dez vezes mais internações por insuficiência respiratória grave que o esperado para o período, e foram reportados 100 mil novos casos de COVID-19 no mundo nos dois dias anteriores ao anúncio do governo estadual.
Ou seja, a disseminação do vírus não está controlada e não há evidências de que já tenhamos conseguido achatar a curva de crescimento de casos novos, que até o momento é semelhante às de Itália e Espanha, onde tem havido muitas mortes.
Também não podemos considerar que o sistema de saúde esteja preparado para receber a quantidade de pessoas que podem necessitar de cuidados intensivos.
Já são 474 casos confirmados, mas o número certamente é maior em função da baixa testagem. Estimativa de pesquisadores britânicos projeta cenário dramático para o Brasil, caso as estratégias de controle não sejam adequadas e haja grande contaminação.
O estado tem mais idosos que a média do país – 17% da população total – e poucos deles vivem sozinhos. Nesse momento, a capacidade instalada e a disponibilidade de insumos não permitem a testagem em massa para identificar todos os casos, de modo a permitir isolamento apenas dos grupos de risco, pois não sabemos se eles estarão ou não em contato com portadores sem sintomas.
As evidências já são cristalinas sobre a alta capacidade que o vírus tem em se disseminar, de causar hospitalizações e mortes nos pacientes que requerem internação. O caminho desenhado nesse momento por SC se mostrou desastroso em outros contextos internacionais.
MAIS QUE NUNCA, É HORA DE CONFIAR NA CIÊNCIA\”.
Assinaram esse manifesto em 27 de março de 2020:
Secretaria Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência de SC – SBPC-SC
Departamento de Saúde Pública – CCS/UFSC
Programa de Pós-Graduação em Farmacologia – UFSC
Programa de Pós-Graduação Multicêntrico em Ciências Fisiológicas – UFSC
Programa de Pós-Graduação em Neurociências – UFSC
Mestrado Profissional em Perícias Criminais Ambientais – UFSC
Mestrado Profissional em Farmacologia – UFSC
Mestrado Profissional em Ensino de Biologia – UFSC
Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia – CCB/UFSC
Departamento de Nutrição – CCS/UFSC
Departamento de Ginecologia e Obstetrícia – CCS/UFSC
Departamento de Patologia – CCS/UFSC
Coordenação do Curso de Graduação em Ciências Biológicas da UFSC
Coordenação do Curso de Graduação em Farmácia da UFSC
Coordenação do Curso de Graduação em Nutrição da UFSC
Coordenação Local do Programa de Pós Graduação em Assistência Farmacêutica – associação de IES
Núcleo de Promoção e Atenção Clínica à Saúde do Trabalhador – NUPAC-ST/UNESC
Núcleo de Estudos e Pesquisas em Saúde do Trabalhador – NUPEST/UNESC
Núcleo de Pesquisa de Nutrição em Produção de Refeições – NUPPRE/UFSC
Núcleo de Estudos em Linguística Aplicada – NELA/UFSC
Núcleo de Pesquisa e Extensão em Bioética e Saúde Coletiva – NUPEBISC/UFSC
Grupos de Estudos em Linguagem, Cognição e Educação – GELCE/UFSC
Grupo de Pesquisa em Farmacoepidemiologia – SPB/CCS/UFSC
Grupo de Pesquisa em Política de Saúde – GPPS/CCS/UFSC
Laboratório de Águas Urbanas e Técnicas Compensatórias – Lautec/UFSC
Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis – SINTRASEM
Fórum Saúde e Segurança do Trabalhador no Estado de Santa Catarina – FSST/SC