Mesmo com a afirmação do presidente do Banco Central de que “o pior da inflação já passou“, a geladeira vazia continua a assombrar os lares.
Um em cada quatro brasileiros avalia que a quantidade de comida disponível em casa é inferior ao necessário para alimentar sua família, segundo pesquisa realizada na última semana em todas as regiões do país.
A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos considerando um nível de confiança de 95%.
De acordo com o levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa Datafolha, 63% declararam que o valor da renda mensal é insuficiente para pagar todas as despesas. Destes, 26% declararam
que o montante é muito pouco e enfrentam muitas dificuldades e 37%, que é insuficiente e as vezes falta dinheiro.
Um terço (32%) declarou que a renda familiar mensal é o suficiente para viver e 5%, mais do que o suficiente.
Além da alta de preços resistente, a volta do emprego com funções mais precarizadas e de baixa remuneração e o acúmulo de incertezas quanto ao ambiente político e econômico dos próximos meses têm feito do custo da comida um assunto central no dia a dia dos brasileiros.
A sensação de insegurança alimentar afeta sobretudo as famílias mais pobres. Entre os que têm renda familiar de até dois salários mínimos (R$ 2.424), ela é de 38%.
A quantidade insuficiente de comida também é uma realidade mais presente entre moradores do Nordeste (32%) e Norte (30%), mas não deixa de afetar quem vive no Centro-Oeste (24%), Sul (24%) e Sudeste (22%).
Entre os desempregados, 42% disseram que não tiveram o suficiente (eles eram 38% em março). Essa situação também afeta gravemente os que desistiram de buscar trabalho (39%), as donas de casa (38%) e os autônomos (27%).
Recentemente, outras pesquisas também ajudaram a detalhar a gravidade desse cenário. Em uma cidade como São Paulo, a renda dos 5% mais pobres não é suficiente para comprar dois pratos feitos ou 1 quilo de carne por mês.
Além disso, 33,1 milhões de pessoas passam fome no país, segundo apontou a segunda edição do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil –um patamar semelhante ao que havia sido registrado há três décadas. No fim de 2020, eram 19,1 milhões de brasileiros conviviam com a fome.
PARA 67%, SITUAÇÃO ECONÔMICA DO PAÍS PIOROU NOS ÚLTIMOS MESES
A maioria dos eleitores (67%) avalia que a situação econômica do país piorou nos últimos meses. Para 17%, a situação econômica do país ficou como estava, para 15%, a situação melhorou e 1% não opinou.
Daqueles que avaliam que a situação econômica pessoal piorou nos últimos meses, observam-se taxas mais altas entre as mulheres do que entre os homens (54%, ante 40%).
Quanto à expectativa futura da economia do país, o pessimismo diminuiu e o otimismo cresceu. Um terço (34%) acredita que a situação econômica do país irá piorar nos próximos meses (eram 40% em março), 29% acreditam que ficará igual (mesmo índice anterior) e 33% acreditam que irá melhorar (eram 27%). Uma fração de 4% não opinou (mesmo índice de março).
22% SÃO BENEFICIADOS POR AUXÍLIO BRASIL
Um quinto (22%) dos brasileiros com 16 anos ou mais recebe Auxílio Brasil, programa de transferência de renda do Governo Federal que substituiu o Bolsa-Família, ou mora com alguém que é beneficiado por este programa.
Já, 78% declararam não receber ou morar com alguém que receba o benefício. Os índices são próximos aos do mês passado, quando eram, respectivamente: 21% e 79%.
Desemprego de longa duração é desafio para próximo governo
Apesar de os índices de desemprego mostrarem recuperação ante os piores momentos da pandemia, a qualidade dos empregos gerada e as incertezas quanto ao desempenho da economia nos próximos meses pesam no humor dos brasileiros.
A informalidade é uma situação crescente na saída do pior momento da pandemia. Dos brasileiros que trabalham e não têm carteira assinada, 65% já trabalharam com carteira e 32% nunca trabalharam registrados.
Do total dos entrevistados, 37% têm algum desempregado em casa (incluindo o próprio entrevistado) e 49% dos que estão nessa situação têm renda familiar de até dois salários mínimos por mês.
Também preocupa o tempo em que muitos desses trabalhadores estão fora do mercado de trabalho. Dos entrevistados pelo Datafolha que estavam desempregados, 39% estavam nessa situação há mais de dois anos, 29% há no máximo seis meses, 18% há mais de um ano e menos de dois anos e 12% de 6 a 12 meses.
Neste caso, as diferenças regionais também pesam: o desemprego de mais de dois anos é um problema maior no Norte (45%), Nordeste (41%) e Sudeste (41%) na comparação com Sul (24%) e Centro-Oeste (28%).























