O canoinhense parece que esquece com facilidade as injúrias, as patifarias antissociais, as agressões ao próprio direito de ser representando no processo político. Hoje em dia é muito comum ouvir de pessoas que se dizem esclarecidas – ou se acham – frases do tipo: “Não suporto política”, “Prefiro não me envolver com essas questões”, não sabendo elas que tudo depende da política: a saúde, a educação, a segurança pública e a própria qualidade de vida do cidadão.
Mas o eleitor tem sua mea culpa, quando traz de volta as mesmas figuras políticas. E o drama se repete feito aqueles velhos filmes vespertinos que não valem a pena ver de novo.
Amigo(a) leitor(a), você já parou para pensar como funciona a engenharia da política, principalmente aqui em nossa cidade, após todos esses escândalos e prisões? É justamente dessa engenharia que passaremos a falar a partir de hoje, como um enredo de novela, que com altos e baixos vai se desenhando dia a dia os mocinhos, vilões, egoístas, coadjuvantes, os enganados e mais um monte de personagens, muitos que sequer aparecem direito.
Não é novidade para ninguém que a turma da antiga, para não dizer velha política, já está arrumando seu caminho, não com asfalto de qualidade, mas com pedras antigas que já estão lascadas de tanto uso. E assim vai se desenhando o roteiro de novela da Record, não as de religião, porque santos nesse enredo são poucos.
Quando o atual governo municipal enviou o tão famoso projeto dos R$ 30 milhões foi que tudo começou. Até então estávamos na primeira parte da novela, aquela em que ainda parece que todos são os mocinhos.
Com o projeto na Câmara se desenhou o cenário do enredo, e o mais engraçado, continua tendo os seis versus o quarteto, mas agora cada lado com novos personagens e com amizades de anos constituída em poucos minutos.
Quem são os personagens
Cinco são iguais: Willian Godoy, Osmar Oleskovicz , Wilmar Sudoski, Gil Baiano e Maurício Zimmermann. O espanto aqui fica para troca de lado da presidente da casa, vereadora Tati Carvalho, que agora se une aos cinco amigos, de um minuto atrás. Essa semana, por exemplo, Tati e Willian postaram fotos lado a lado. Nem parece o mesmo Willian que já utilizou a tribuna para ‘detonar’ a campanha a vereadora de Tati, dando até a entender que ela havia recebido dinheiro indevido de veículos de comunicação.
Do outro lado temos o novo quarteto, esse composto pela já veterana Zenilda Lemos, pela vereadora Silmara Gontarek, que agora assumiu o posto no quarteto, antes ocupado pela vereadora da causa animal, e pelos novos vereadores Adilson Steidel e André Flenik. E assim já temos os personagens, cada um em seu lugar, ocupando seu posto.
Mas espera, ainda resta uma pergunta. Quem está ocupando a vaga de articulador junto aos seis vereadores de oposição? Essa vaga antes era dividida entre Beto Passos e Renato Pike, os ex prefeito e vice, presos no tão fatídico 29 de março de 2022.
Ao que tudo indica, o líder dessa nova/velha oposição é um conhecido na política canoinhense. O ex-presidente da Câmara, candidato a vice-prefeito e a deputado estadual, o emedebista de carteirinha Paulinho Basílio.
Corre nos bastidores que não é incomum ver Basílio perambulando pelos corredores e gabinetes da Câmara de Vereadores, em tese, articulando com os seis vereadores oposicionistas.
As conversas de bastidores também sussurram que, no dia da votação dos R$ 30 milhões, onde a urgência do projeto foi derrubada, Paulinho Basílio teria sido um dos arquitetos para que, independente da questão técnica, o projeto não avançasse, e assim a questão política prevalecesse sobre tudo.
Conversas de bastidores, dizem alguns, é só fumaça, porém, conforme o ditado, onde há fumaça há fogo. Algumas labaredas, inclusive, puderam ser vistas esta semana. Onde antes era oposição e severas críticas, agora são abraços.
Basílio, Godoy e Oleskovicz também trocaram fotos e eventos nos últimos dias. William levou o agora amigo Paulinho na reunião do PSD e Paulinho levou William na reunião do MDB. Uma aproximação que, aos olhos de muitos, nasce com um único objetivo: retirar do palco do executivo aqueles que vieram, e foram eleitos pela vontade da maioria, com a visão da nova política.
Da mesma origem
Em uma rápida análise, esses personagens, Paulinho Basílio (MDB), William Godoy (PSD), Osmar Oleskoviski (PSD), Wilmar Sudoski (PSD), Gil Baiano (PL) e Maurício Zimmermann (PL) comungam de uma mesma ligação (leia-se Beto Passos e Renato Pike). Explicando:
William Godoy
Surgiu politicamente pelas mão de Beto Passos. Foi Assessor da Juventude no governo Passos e, dizem, só virou vereador porque o ex-prefeito literalmente o colocou embaixo do braço e foi pra rua pedir voto. Não que todos os votos de Willian tenham ligação direta com Passos, mas digamos que pelo menos uns 90%. Talvez por isso foi um dos maiores defensores de Passos e Pike na Câmara, e nunca sequer desconfiou do mar de corrupção que havia na prefeitura, segundo ele.
Osmar Oleskovicz
Defendeu e, aos mais observadores, defende até hoje o governo Beto Passos e Pike. Foi Secretário da Educação no governo deles. Em seu depoimento ao Ministério Público, afirmou que nunca soube, nem viu, nem desconfiava de nenhuma corrupção/fraude no transporte escolar. Diz um passarinho verde por aí, que até os dias atuais ainda tem reuniões secretas com o ex-prefeito.
Wilmar Sudoski
O que dizer de Sudoski. Fala mansa, ‘liso’, adjetivam alguns, pois desliza de lá pra cá, porém todos sabem que tinha uma forte ligação com Beto Passos. Defensor fiel do ex-prefeito preso (agora solto porque assumiu que era corrupto e fez acordo para delatar os ‘colegas’), Sudoski em certos momentos, ainda passa a impressão de defender o ex-alcaide.
Gil Baiano
Também da velha política. Cinco mandatos como vereador. Já foi traído por Beto Passos, que inclusive, enquanto vereador, criticou o colega de plenário, dizendo que nunca iria precisar de Gil para nada. Mas como as coisas mudam, e a política fala mais alto, Gil virou secretário de Obras de Beto Passos, e ainda um fiel escudeiro de Pike, o qual levou Gil para o PL.
Maurício Zimmermann
Zimmermann nasceu pelas mão de Renato Pike. Quando ganhou muitos se perguntaram: quem é esse? De onde veio? A resposta sempre é simples: era o candidato a vereador que o Pike elegeu. Quem acompanhou as sessões da Câmara pode constatar que defendeu o governo Beto Passos e Pike com unhas e dentes.
Paulinho Basílio
Por que deixar Basílio por último? Primeiro porque aparentemente é o líder dos oposicionistas. Segundo porque não tem cargo eletivo, perdeu as duas últimas eleições. Basílio nasceu na política, é MDB roxo (o famoso pé vermelho), mas também é do poder. Virou vereador porque um Beto o elegeu, o Faria nesse caso. Mas virou presidente da Câmara por mãos de outro Beto, desta vez, o Passos.
Para quem não lembra, dois nomes estavam na disputa em 2020: Gil Baiano e Paulinho Basílio. Beto Passos vislumbrou uma oportunidade e ordenou aos seus súditos da Câmara, que votassem em Basílio. Mas porque? A resposta é óbvia. Passos fez um gesto de confiança para ter Paulinho Basílio como seu vice, mas não esperava que no MDB naquela época, pessoas coerentes não deixaram a união acontecer. Mas se fosse pela vontade dos caciques do partido, o MDB estaria como vice de Beto Passos nas eleições municipais daquele ano.
Todos juntos novamente
Como se pode perceber amigo(a) leitor(a), isto sim é o famoso ‘mais do mesmo’. E agora todos juntos, arquitetando engenharias na política municipal, aparentemente tentando de todas as formas se desvincularem de Passos e Pike, mas a história, ah, essa não tem como apagar.
Não lave as mãos
Depois de tudo isso, você ainda diz que ‘não suporta política’ e ‘prefere não se envolver”? Não podemos lavar as mãos e entregar o destino de 55 mil habitantes à própria sorte, ou ficar refém da mesma casta de políticos.
O cidadão tem que se envolver em tudo o que diz respeito a sua cidade, ao seu emprego, a sua saúde e a educação de seus filhos, e não ser marionetes nas mãos de políticos ou se deixar influenciar por pessoas que só visam o poder. Canoinhas não merece viver de reprises do seu próprio drama!
Como dizia Maquiavel*, “A política tem pelo menos duas caras. A que se expõe aos olhos do público e a que transita nos bastidores do poder”.
Logo vem mais
O Canoinhas Online estreia hoje a coluna Política & Bastidores. Nela serão abordados temas relacionados a política estadual e regional, mas principalmente no âmbito municipal. O objetivo é manter o cidadão informado, permitindo que ele tenha acesso a opiniões diferentes das pessoas que estão no poder. Isso é democracia.
Líderes comprometidos com a democracia provavelmente não gostam que suas políticas sejam desafiadas publicamente, mas defenderão o direito da imprensa de fazê-lo.
Nota do autor: Nicolau Maquiavel* (1469-1527), foi um filósofo, historiador, poeta, diplomata e músico de origem florentina do Renascimento. É reconhecido como fundador do pensamento e da ciência política moderna, pelo fato de ter escrito sobre o Estado e o governo como realmente são, e não como deveriam ser.