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Tiroteio e mortes na Rua Eugênio de Souza abalaram a pacata Canoinhas

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Manchete publicada no jornal \’Avante\’, em 1935. Crimes abalaram a pacata vila de Canoinhas. Foto: Canoinhas Online

Seguindo a série \”Nossa História\”, Canoinhas Online publica mais um episódio ocorrido em nossa região.

O fato a ser narrado a seguir aconteceu em uma quinta-feira, em 6 de julho de 1935 e foi destaque na época, em reportagem publicada pelo Jornal Avante.

Para sentir as emoção dos fatos, transcrevemos a notícia exatamente como ela foi publicada, há 83 anos. Boa leitura!

\”Canoinhas foi theatro, a noite de quinta feira, de uma lamentavel occurrencia, da qual foram victimas duas pessoas, assassinadas a tiros de revolver.

Cerca das onze horas, quando a cidade dormia, a visinhança do bairro junto á via ferrea foi sobressaltada pelas detonações de muitos tiros, depois do que nada mais se ouvio, até que pela manhã veio a ser contatada a gravidade de um conflito, que teve origem em frente ao moinho de trigo, de propriedade do sr. Gustavo Schoroeder Sobrinho, situado a rua Eugenio de Souza, do lado da linha da Estrada de Ferro.

Alli foram consumados os assassinatos de duas pessoas, estando um cadaver junto ao predio do alludido moinho e a segunda victima agonisava em sua residencia, vindo a fallecer momento após.

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Amanheceu, pois a população sobresaltada e os commentarios eram differentes, mas unanimes em affirmar que a chacina fora levada a effeito por elementos integralistas, em represalia pela implantação dentre nós de um nucleo da Alliança Nacional Libertadora.

Dirigindo-nos ao local da tragedia, alli encontramos um grande numero de populares a as autoridades que tomavam as primeiras providencias e deparamos com o cadaver do conhecido cidadão sr. Cid Vieira, funccionario do Ministerio do Trabalho, que jazia junto ao predio do referido moinho, apresentando um ferimento por bala no rosto que lhe atravessára o craneo.

Quadro desolador e macabro que feriu de fundo a população pacata da cidade.

Outra victima, o sr Juventino Jungles, operario, residente nesta cidade, fallecia em sua residencia quando recebia soccorros medicos, victimado por 4 tiros durante o intenso tiroteio verificado.

O grave conflicto deu-se, segundo fomos informados, quando se dirigiam as victimas, em companhia de outras pessoas, pela rua Eugenio de Souza, affixando boletins de propaganda da Alliança Nacional Libertadora.

O grupo ao defrontar o referido moinho, de propriedade do sr. Gustavo Schroeder Sobrinho, que fica situado proximo á linha ferrea e ás casas de residencia deste e do sr. Luiz Tack, chefes integralistas, foi alvejado de dentro desse moinho, por uma verdadeira saraivada de balas.

Informam ainda haver uma terceira victima, um popular de nome Carlos, ferido no pé.

Jornal Avante começou sua circulação em 1930, quando Canoinhas ainda denominava-se Ouro Verde. Foto: Canoinhas Online


Pela autoridade policial foram effectuadas varias prisões, dentre as quaes as dos srs. Gustavo Schroeder Sobrinho e Luiz Tack, indigitados responsaveis pelos graves acontecimentos da noite de quinta feira.

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Soubemos que o Dr. Governador do Estado, a quem foi communicada a tragedia, fez seguir para esta cidade o sr. Capitão Antonio de Lara Ribas e um contingente da Força Publica, afim de serem procedidas deligencias que venham aclarar a situação.

Trecho da notícia publicada na época. Foto: Canoinhas Online


O corpo do inditoso operario, sr. Juventino Jungles, que deixa viuva e filhos menores, foi hoje dado a sepultura e do sr.Cid Vieira seguio hoje, pelo trem, para ser sepultado em S. Francisco.

Avante! associando-se ás homenagens que foram prestadas aos mortos, pela população da cidade, apresenta pezames ás familias enlutadas.\”

Nota do editor: Atualização em 21/05/2020:  Em recente postagem em um grupo do Facebook, descobrimos uma parte desconhecida desta história.

Ariel Seleme, neto do Sr. Luiz Tack que fez parte da história contada acima, contou detalhes deste triste episódio, que teve motivação política, e abalou os moradores da época.
Relato de Ariel:

\”Minha mãe morreu com essas memórias que nunca a deixaram. Ela, com cinco anos, conduzida por minha avó, procurando o corpo do meu avô. O tiroteio durou toda a madrugada e no amanhecer diziam que meu avô, Luiz Tack, morreu.

Nunca gostei do radicalismo político, como o que vivemos hoje e que existiu em Canoinhas em 1935. Naquela época Canoinhas e o Brasil estavam divididos entre os Integralistas (fascistas) e os ALN(comunistas). Meu avô era integralista.

O tiroteio ocorreu em frente ao moinho de trigo, de propriedade de Gustavo Schroeder Sobrinho, situado a rua Eugenio de Souza, do lado da linha da Estrada de Ferro.
Morreram os canoinhenses Cid Vieira e Juventino Jungles, comunistas da ALN.

Condenados foram Gustavo Schroeder Sobrinho e meu avô Luiz Tack, que cumpriram vários anos de prisão em Joinville.

Nunca entendi minha avó, Ema Tack, levar minha mãe, de apenas 5 anos de idade, para a cena do tiroteio, passando sobre cadáveres, na procura de meu avô Luiz Tack. Trauma é o que ficou até o fim da vida da minha mãe.

Meu avô, Luiz Tack, que morreu de câncer em 1970 e está enterrado em Canoinhas, me confidenciou, uma vez, quando caminhávamos à noite na praia de Canasvieiras, em Florianópolis.

—Essas mortes me perseguem. Nunca tive tanto arrependimento. Só queria voltar no tempo e corrigir esse erro. É só isso que peço à Deus. Nunca deveria ter apertado aquele gatilho. Só peço à Deus, perdão. Perdão meu Deus.
Meu avô morreu dias depois. Não sei se Deus o perdoou.
Espero que sim\”.
Acompanhe \’Nossas histórias\’.