Um homem de 39 anos, morador do município de Campo Bom, a 57 km de Porto Alegre, foi infectado por duas variantes do coronavírus em um intervalo de três meses e 11 dias.
A primeira infecção, detectada em 30 de novembro, foi assintomática; a segunda, em 11 de março de 2021, o levou à morte.
O caso está relatado em um artigo científico produzido por 15 pesquisadores brasileiros comandados pelo Laboratório de Microbiologia Molecular da Universidade Feevale (RS), publicado na terça-feira (19), na plataforma Research Square em pré-impressão, ou seja, ainda em fase de revisão dos pares.
“A análise genômica mostrou diferenças geneticamente significativas entre os vírus recuperados em ambas as infecções”, explicam os pesquisadores no texto. Segundo o artigo, o paciente era portador de doença cardiovascular crônica e diabetes. “Ele relatou dois episódios clínicos de covid-19. O primeiro foi em 30 de novembro de 2020, enquanto o segundo se deu em 11 de março de 2021”.
No primeiro episódio, o gaúcho teve infecção pela variante P.1. Já no segundo, foi pela P.2. Ambas as cepas têm origem no Brasil.
“Durante o primeiro caso de infecção, os sintomas e sinais clínicos do paciente não haviam sido relatados. No entanto, o paciente relatou ter tido contato com seu irmão, que testou positivo para SARS-CoV-2 anteriormente. Ele também visitou seu pai no hospital em um quarto compartilhado com outros pacientes com diagnóstico de covid-19. No segundo episódio, o paciente apresentou como sintomas dispneia [falta de ar], fadiga e dificuldade respiratória; e saturação menor que 95% como sinal clínico”, completa o texto.
Ainda segundo o estudo, a segunda infecção evoluiu para complicações. O agravamento do quadro fez com que fosse levado à UTI e intubado.
Um dos pontos que intrigou os cientistas é que as duas variantes têm mutações parecidas, que poderiam resultar em imunidade para caso de reinfecção.
“É notável que as variantes P.1 e P.2 compartilham a mutação E484K típica no local RBD, que tem sido relacionada ao escape de anticorpos em pacientes previamente imunizados por linhagens não mutadas. Embora o paciente possa ter formado anticorpos que incluíram o local S: 484K, isso aparentemente não evitou uma infecção secundária de P.2”, relatam.
O estudo continua em andamento, no sentido de rastrear seus contatos próximos. A Vigilância Sanitária local também trabalha nas investigações para identificar como ocorreu a contaminação.
Os pesquisadores examinaram dezenas de amostras dos mesmos dias durante novembro e dezembro de 2020. A análise foi intensificada nos três primeiros meses de 2021, quando descobriram que a reinfecção havia sido um fato isolado, de acordo com Spilki.
“No final de janeiro, a P.1 entrou com toda a força e dominou o cenário no Rio Grande do Sul. Hoje, ela é quase totalitária. Na Argentina e no Uruguai foram feitas detecções pontuais de P.1, em meados de janeiro, mas não houve transmissão. Depois, a partir de fevereiro, nestes dois locais, e agora, o vírus se disseminou numa nova introdução. O mesmo ocorreu no Rio Grande do Sul; no início não houve transmissão e, depois, foi terrível. A P.1, e agora temos também a P.2”, explica.
O caso de reinfecção ocorrido no Rio Grande do Sul serve como alerta para que os cuidados como distanciamento físico, uso de máscaras e evitar aglomerações sejam mantidos mesmo após a vacinação e período de imunização, que acontece três semanas após a segunda dose, em média.
Em dezembro, o Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso de reinfecção pelo coronavírus ocorrido com uma profissional de saúde de 37 anos num intervalo de 116 dias. Na ocasião, ela morava no Rio Grande do Norte e trabalhava na Paraíba.
Para Spilki, pelo menos nos primeiros anos, a prevenção contra a Covid-19 exigirá, provavelmente, a vacinação anual.