O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) informou que irá acompanhar todos os desdobramentos no âmbito criminal e cível sobre o ataque a creche ocorrido em Blumenau, no Vale do Itajaí. O MPSC também orientou que, em situações dessa natureza, a imprensa e os profissionais de comunicação devem evitar identificar o suposto autor por meio de imagens, nome e biografia, para evitar o estímulo para novos ataques. A Polícia Civil de São fez a mesma recomendação.
Nesta quinta-feira (6), grandes veículos de imprensa, como CNN, Grupo Globo, Band e Agência Brasil, anunciaram mudanças na forma de noticiar ataques a escolas e decidiram não divulgar nomes, fotos e vídeos dos acusados.
As medidas, que serão acatadas também pelo Canoinhas Online, seguem recomendações de especialistas e de instituições para que a imprensa evite usar imagens, nomes e informações principalmente de suspeitos. O objetivo é evitar o chamado efeito contágio, que é estimular outros atentados.
Entidades médicas apontam conexão causal entre violência na mídia e comportamento agressivo em algumas crianças.
A professora e pesquisadora da Unicamp, Danila Zambianco, diz que o ideal é não trazer espetáculo e notoriedade para os autores desses atos.
“Não publicizar o seu nome, não publicizar a sua imagem, não trazer detalhes de como a situação aconteceu, de como eles construíram esse percurso. Às vezes, a notícia é quase um tutorial do massacre, de como se fazer. Então esse tipo de informação não tem que ser publicizado, não tem que ser veiculado”, disse.
Danila Zambianco destaca qual seria o papel da mídia na cobertura. “O papel da imprensa precisa focar nas vítimas, na reconstrução daquele espaço, na reconstrução do sentido dessa escola, Cantinho Bom Pastor, para que ela possa adquirir agora um novo significado para essas pessoas, para que essa política pública de promoção da convivência [seja difundida], o acompanhamento disso junto às instituições estaduais, esse é o papel da imprensa.”
Após o ataque na Escola Estadual Thomazia Montoro, na capital paulista, em 27 de março, a Polícia Civil de São Paulo identificou, no ambiente virtual ou escolar, um aumento de situações que indicam planos de possíveis ataques em escolas. Em uma semana, foram registrados 279 casos.
A idolatria a autores de ataques a escolas circula livremente em redes sociais
Inúmeros textos, fotos e vídeos com elogios e celebração a autores de ataques a escolas e à violência cometida por eles circulam livremente nas redes sociais. Basta uma busca no Twitter ou no TikTok para encontrar publicações que exaltam atiradores que invadiram unidades de ensino.
Para especialistas, esses conteúdos abertos na internet também são formas de cooptar jovens que tenham algum mínimo interesse no tema.
O Twitter, que relaxou seu controle após ser comprada por Elon Musk, não responde mais a questionamentos da imprensa. O TikTok afirma que tem mecanismos para receber denúncias sobre possíveis casos de incitação a ataques e que trabalha continuamente para remover esse tipo de conteúdo.
O delegado-geral da Polícia Civil de Santa Catarina, Ulisses Gabriel, destacou a importância do uso da inteligência policial para intensificar as ações preventivas e de monitoramento da web. Ele ressaltou que esta já é uma prática da Polícia Civil de SC, que constantemente faz operações policiais, com mandados de busca e apreensão na casa dos indivíduos que disseminam ameaças.