Prefeito preso na Mensageiro diz que usou dinheiro de propina para comprar imóvel

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Segundo ele, os valores eram pagos, normalmente, duas vezes ao ano ao cunhado. A partir de 2022, a propina deixou de ter um valor fixo.

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O prefeito de Itapoá, Marlon Neuber (PL), confirmou durante audiência de instrução da Operação Mensageiro o recebimento de aproximadamente R$ 460 mil em propina. Ele foi preso em dezembro na primeira fase da operação, que investiga um esquema envolvendo corrupção em contratos para coleta de lixo.

Segundo ele, durante a sessão nesta terça-feira (30), os pagamentos teriam ocorrido entre 2017 e 2022.

Durante o depoimento, aberto à imprensa no Fórum de Joinville, o prefeito afirmou que teve o primeiro contato em 2016 com a empresa Serrana Engenharia, pivô da investigação. Na época, ele era candidato a prefeito.

Marlon Neuber (PL), prefeito de Itapoá, está preso desde dezembro de 2022  — Foto: Reprodução

Na ocasião, relatou ter pedido doação de R$ 150 mil para a campanha eleitoral, valor que foi pago pela empresa. Já eleito, entre 2017 e 2018, teria procurado a Serrana e combinado um pagamento de propina de R$ 120 mil por ano.

Segundo ele, os valores eram pagos, normalmente, duas vezes ao ano ao cunhado. A partir de 2022, a propina deixou de ter um valor fixo e passou a ser paga com base em um percentual do contrato que a empresa tinha com o município.

A reportagem procurou a defesa de Marlon Neuber e do cunhado Amilton José Reis, mas o advogado de ambos afirmou que não iria se manifestar porque o processo está sob sigilo. A empresa também informou que só se manifestará à Justiça.

Uso do dinheiro

Marlon afirmou que chegou a comprar um imóvel em Itapoá com o valor recebido, e que usou recursos para “compromissos sociais que assumia publicamente, e compromissos pessoais”.

Também disse ter usado recursos em campanhas eleitorais de 2018 no âmbito estadual e federal e para outros gastos pessoais, como contas de telefone.

O prefeito admitiu que os R$ 180 mil apreendidos na casa dele durante a prisão seria, na maior parte, resultado de propina com a Serrana.

Marlon alegou não saber se o edital continha informações que favoreciam a Serrana, mas admitiu que o prefeito poderia “impedir o curso natural das coisas”, mas disse que ele “deixava fluir naturalmente”.

“Se o prefeito fosse agir, tomasse qualquer iniciativa, poderia dificultar a vida da empresa. Era de interesse de ambos que o relacionamento corresse normalmente”, afirmou.

Cunhado diz que foi envolvido no caso e alertava prefeito

O cunhado do prefeito, que também prestou depoimento, afirmou que foi “envolvido num esquema de corrupção” e que alertava o prefeito de que o recebimento de propina “não estava certo”.

Ele disse que teria saído do esquema há dois anos e que não recebeu valor algum pelas entregas ao prefeito.Segundo Reis, ele chegou a pensar em denunciar o cunhado e sabia que os valores eram referentes à propina. Afirmou que “não sabia se era de contratos (da prefeitura), mas sabia que era duvidoso”.

Em relação ao esquema, disse que era procurado pelo “mensageiro” e geralmente se encontrava em um centro comercial de Brusque, no Vale do Itajaí, para receber o dinheiro, que vinha em envelopes pardos e que seriam destinados ao prefeito de Itapoá.