festival

Assassinato de idosos que chocou Porto União: “Ficha ainda não caiu”

Avatar photo
Neta conta que o casal já havia cogitado trocar as fechaduras de casa, pois estavam sumindo alimentos e a suspeita era de que o filho de Ivo fosse o responsável por isso.

Mesmo com o principal suspeito pelos assassinatos já preso, as famílias do casal Ivo Romano Lerner, de 63 anos, e sua esposa Ana Rita Zanelle, de 68, ainda buscam por respostas para entender a motivação do crime que chocou a cidade de pouco mais de de 35 mil habitantes. O casal foi encontrado morto na localidade de Colônia Cerne, interior de Porto União, no dia 26 de outubro.

Em entrevista ao Diário Catarinense, a neta de Ana Rita Zanelle, a jovem Stephanny Chrystine Sabini Cechetto, de 22 anos, diz que “a ficha ainda não caiu“.

Stephanny mora em Caçador, mas conta que tinha contato diário com a avó, que às vezes mandava áudios ou fazia ligação por vídeo. Uma das suspeitas de que algo estava errado, inclusive, é de que na noite do sumiço, Ana Rita parou de receber mensagens no celular por volta das 21h.

Mas como o casal morava no interior, já haviam ficado sem internet anteriormente, e por isso a família não esperava pelo pior. No fim de semana anterior ao desaparecimento, inclusive, a idosa recebeu a mãe de Stephanny em casa e enviou para a neta bolachinhas caseiras que costumava fazer. Na última conversa, trocaram mensagens carinhosas e reforçaram o amor que sentiam uma pela outra.

“Eles faziam de tudo para agradar as pessoas, a maior alegria deles era encher a casa de gente para o almoço de domingo. Não mediam esforços para fazer a gente se sentir bem. Anteriormente, a “vó” foi casada por 10 anos com um senhor um pouco agressivo, por isso estava tão feliz com o casamento. Para mim ainda não caiu a ficha. Ela era saudável, poderia viver muitos anos se não fosse essa fatalidade”, lamenta a jovem.

Stephanny conta que, nos últimos meses, Ana Rita passou a reclamar que estavam sumindo alimentos de dentro de casa e a principal suspeita era de que o filho de Ivo fosse o responsável por isso. O homem, inclusive, morava a 150 metros do casal e a jovem acredita que ele tivesse feito cópia das chaves da casa dos idosos.

Como atuava na lavoura do casal, que produzia soja e milho, era comum que o suspeito fosse visto pelo terreno. Mas a falta de privacidade fez com a a idosa desabafasse com familiares.

“A “vó” tinha trancado as janelas que não tinham cadeado com um pedaço de madeira, mas ele deve ter feito cópia de alguma chave. O senhor Ivo não colocava limites, pelo o que percebemos, e eles pretendiam trocar as fechaduras na semana seguinte”, afirma a jovem.

Momento em que familiares e vizinhos encontraram os corpos, que estavam enterrados nos fundos da propriedade do casl — Foto: Polícia Civil/Divulgação

Stephanny complementa que o filho de Ivo apresentava um comportamento mais arredio e pouco participava dos almoços em família, no entanto, jamais imaginavam que pudesse ser capaz de cometer o crime. Mesmo preso preventivamente e sendo apontado como autor, no entanto, não confessou os assassinatos em depoimento.

Prisão

Marcelo Lerner de 40 anos, filho de Ivo, foi preso na quinta-feira, 26 de outubro, mesmo dia em que os corpos foram encontrados. Saul Bogoni Júnior, delegado que iniciou a apuração do caso, disse que, apesar de não haver histórico de briga entre a família, testemunhas relataram divergências financeiras recentes. Foi descoberto, posteriormente, que o suspeito movimentou contas bancárias do casal.

A principal linha de investigação aponta, inclusive, que a motivação dos assassinatos tenha sido por dívidas e outras pendências financeiras que o filho de Ivo tinha. Mas a polícia ainda trabalha para comprovar a hipótese correta.

A minha avó tinha em torno de R$ 17 mil na conta e ele retirou todo esse dinheiro, entre saques e compras no mercado. Da conta do seu Ivo a gente ainda não sabe, afirma Stephanny.

Segundo o delegado Eduardo de Mendonça, que agora esta à frente do caso, o valor total movimentado pelo suspeito só será levantado após o envio dos extratos bancários que já foi solicitado às agências.

Além de confirmar a autoria dos crimes, a Polícia Civil ainda aguarda o resultado do exame cadavérico do Instituto Médico Legal (IML) para confirmar as causas das mortes dos idosos. A princípio, a suspeita é de que Ivo e Ana Rita tenham sido mortos a tiros, já que as vítimas tinham perfurações na cabeça e no corpo.

Na quinta-feira, quando os cadáveres foram encontrados, familiares do casal entregaram aos policiais uma espingarda que pode ter sido utilizada para cometer os assassinatos. A arma tinha documentação e é registrada no nome do suspeito. A Polícia Científica irá fazer a análise para descobrir se os tiros partiram, de fato, desta espingarda.

Além disso, de acordo com o delegado Eduardo de Mendonça, a polícia aguarda os extratos bancários para confirmar quanto no total de dinheiro foi retirado das contas dos idosos.

Apesar de não ter assumido a autoria do crime, o investigador aponta que ele continua sendo o principal e único suspeito do crime. Há a possibilidade de que ele tenha contado com um cúmplice intelectual, que o auxiliou a arquitetar os assassinatos, mas tudo leva a crer que na ação em si agiu sozinho.

Marcelo Lerner foi encaminhado ao Presídio de Porto União onde está à disposição do Poder Judiciário.