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Servidores que estavam no Rio Grande do Sul retornam para Canoinhas

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Dois voluntários canoinhenses que trabalham com salvamento e mergulho ainda estão em solo gaúcho.

O filho pilotando um jet ski com o corpo do pai amarrado. Foi com esta cena que a missão canoinhense de ajuda humanitária chegou ao Rio Grande do Sul na semana passada. “As dificuldades iniciaram no trajeto. Foram mais de 15 horas para chegar até Canoas com desvios, barreiras, água e acidente”, relata Jean Paulo Barbosa.

Equipe de ação humanitária no Rio Grande do Sul – Divulgação

E as cenas de angústia, da fragilidade da vida humana como um pedaço de papel em um dia de chuva e a dor avançaram durante os dias e noites: “é chocante ver que durante os resgates crianças acabaram sendo separadas dos pais. A dor de ver um pai em desespero à procura do filho foi muito grande”, lembra a assistente social Zenilda Lemos.

Os servidores públicos municipais de Canoinhas retornaram no final de semana. Dois voluntários canoinhenses que trabalham com salvamento e mergulho ainda estão em solo gaúcho.

A bagagem veio carregada de amor pela vida que cada um possui aqui em Santa Catarina e com lições: “a principal delas é agradecer por tudo o que temos, especialmente nossa família. Aquelas pessoas estão vivas e são muito gratas por isso, mas perderam tudo e mesmo assim não reclamam da situação em que vivem”, relata a assistente social Marilin Werka.

O grupo foi recebido pela prefeita Juliana Maciel, amigos e familiares. “Apesar de tudo o que passamos eu tinha para quem voltar. Nunca abracei meus filhos com tanto amor como quando cheguei”, afirma Mayra Martinhuk.

Apesar do cansaço físico e esgotamento emocional, o grupo é unânime em dizer que faria tudo de novo.

“Ao final do dia, já de noite, a gente sentava no meio-fio, tamanha era a dor no corpo, mas o cansaço ia embora com a gratidão daqueles que ajudamos. Este missão foi uma virada de chave na minha vida”, relata Adilson Alves Bueno.

Todo trabalho realizado pela equipe fez a diferença. “Nosso grupo trabalhou em duas frentes: uma nos abrigos com cadastramento, levantamento social e orientações e outra no resgate de pessoas vivas, corpos e animais”, detalha Ivan Karuncho, coordenador da Defesa Civil de Canoinhas.

É incalculável o número de animais resgatados por dia com o apoio da equipe canoinhense. Entre os bichos salvos está o “cavalo Caramelo”.

O descanso, mesmo durante a noite, era dentro do ônibus e parte em um abrigo com mais de 500 pessoas. Banhos foram escassos. Sem água, a cidade mantinha poucos pontos com abastecimento para a higiene pessoal: “por dia a gente ajudava a fazer três, quatro viagens de ônibus para levar os abrigados para tomarem banho. Diariamente, naquele lugar, mais de 1,2 mil pessoas iam tomar banho”, pontua Ilda Iarrocheski.

O vice-prefeito Marcos Homer atuou fortemente na enchente de 2023 em Canoinhas levando alimentos aos locais de difícil acesso, ajudando as pessoas a saírem de casa, fazendo mudança:

“Mas não tem como comparar com o RS. Aquilo é algo que ninguém está preparado para ver. E quando a água baixar, há grande possibilidade de serem encontrados corpos dentro das casas agora inundadas”, expõe.

O bairro onde a equipe de salvamento atuou é conhecido como Mathias Velho, onde mais de 100 mil habitantes estão foram de casa. Diques romperam. A água que subia lentamente, em uma hora atingiu o telhados das casas “e as pessoas só saíram com a roupa do corpo.

Por isso, a todo momento, havia busca e salvamento com barcos e helicópteros. O barulho das aeronaves não sai da minha cabeça ”, conta Dudu Vipevski, que coordenou os trabalhos na enchente de 2023 em Canoinhas.

“Hoje nosso município retribuiu um pouco de toda a ajuda que recebemos ano passado. Vocês são serem humanos incríveis. Não é todo mundo que estenderia a mão como vocês fizeram, correndo o risco de não conseguirem voltar”, agradece a prefeita Juliana Maciel.

A chefe do poder executivo canoinhense já garantiu que uma nova missão voltará ao solo gaúcho, mas quando as águas baixarem: “Faremos mutirão de limpeza e apoio no retorno das famílias para casa”.

A dor da perda das famílias gaúchas não vai encaixar com explicações, mas será amenizada com o carinho catarinense e com o apoio de pessoas como os servidores públicos municipais da prefeitura de Canoinhas.

Canoinhas vai auxiliar parte de quem vive em Canoas a juntar as peças, contar os espaços que restam levando esperança, ensinando que a vida muitas vezes não passa de uma oportunidade de encontro. De encontrar quem a gente ama, de nos doarmos inteiramente mesmo sem a gente perceber que isso foi o suficiente.