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Gigante, raríssima e com mais de 500 anos, árvore é “assassinada” em Santa Catarina

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Imbuia gigante, árvore símbolo de Santa Catarina, com idade estimada em mais de 500 anos, foi derrubada para virar cerca. Foto: Polícia Militar Ambiental de SC

Uma imbuia gigante, alta como um prédio de dez andares,  larga a ponto de só poder ser abraçada por seis pessoas juntas e mais antiga que a chegada do navegador Pedro Álvares Cabral ao Brasil, foi derrubada para virar cerca, segundo a Polícia Militar Ambiental.

Essa gigante imbuia, árvore símbolo de Santa Catarina, foi “vítima” de crime ambiental em um terreno em Vargem Bonita, no oeste catarinense, em fevereiro de 2018, mas só agora uma análise apontou a idade da árvore gigante: ao menos 535 anos.

Na época, foi encontrada em uma cena de devastação ao lado de outras 16 árvores caídas — a maioria araucárias — em uma área desmatada de 1459 metros quadrados. O proprietário do terreno foi multado e a madeira foi apreendida.

Pelo cenário encontrado e a característica dos cortes, acredita-se que a madeira seria utilizada na construção de cercas e portões para propriedades rurais.

Proprietário foi multado pela Polícia Militar Ambiental em R$ 12.750. Foto: Policia Ambiental de SC
É um problema cultural do nosso país, onde as pessoas não sabem o valor de uma árvore. Aquelas que caem por ação da natureza deveriam ser exploradas de forma mais nobre, virar peça de museu. Mas fazer uma derrubada de uma árvore rara saudável para fazer palanque de cerca é duplamente criminoso” — afirmou o professor Marcelo Scipioni, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), especialista em árvores gigantes.

A idade foi estimada por Scipioni e outros dois pesquisadores a partir da análise dos anéis de crescimento das árvores, que servem de base para a datação por meio da ciência chamada dendrocronologia.

— Fizemos a contagem dos anéis dessa imbuia. Algumas espécies como a imbuia e a araucária marcam os anéis de crescimento ao longo do tempo, e isso está relacionado com o período das estações climáticas, então é possível fazer essa adaptação da idade da árvore. A partir de uma parceria com a PM Ambiental, pedaços dessas árvores que caem por causa da natureza ou por ação criminosa são levados para a universidade e possibilitam esses estudos. É um projeto que leva muito tempo — explica o professor Scipioni.
Como a umidade e outras variações climáticas interferem no tamanho desses anéis de um modo distinto ao longo do tempo, pesquisadores agora buscam outras imbuias antigas para uma análise de construção climática dos últimos séculos que permita determinar com mais exatidão a idade da árvore.

Os agentes chegaram ao local do desmate ilegal após uma denúncia. Foto: Polícia Militar Ambiental de SC
Segundo a Polícia Ambiental de SC, a derrubada de árvores teria sido feita à revelia dos donos do terreno, mas estes acabaram multados, em R$ 12.750,00 por serem, em última instância, os responsáveis pela área.

Essa árvore, de nome científico Ocotea porosa, pode ser encontrada em florestas de araucária no Paraná, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.

Por causa da exploração desenfreada, entrou para a lista de espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção.

Ou seja, são proibidos “coleta, corte, transporte, armazenamento, manejo, beneficiamento e comercialização” da imbuia, à exceção dos “exemplares cultivados em plantios devidamente licenciados”.

O policial militar ambiental Teylor Comunello, relata ter sentido tristeza ao ver árvores raras no chão (a imbuia e 16 araucárias):
Nunca tinha visto uma árvore assim, desse tamanho, cortada desse jeito. É bem triste porque, além de ser uma espécie ameaçada de extinção, é centenária e rara  —afirmou.

Ele participou do trabalho de remoção da árvore, que agora está exposta na sede da Polícia Ambiental para fins educativos.

Se não tivesse sido derrubada, essa imbuia de Vargem Bonita teria entrado para o mapeamento de árvores gigantes no sul do país conduzido pelo professor Scipioni, da UFSC, com auxílio também da Polícia Ambiental de Santa Catarina.

Publicado em 2017, um trabalho liderado por ele percorreu mais de 6,8 mil km ao longo de três anos e identificou as últimas 13 araucárias gigantes (acima de 2 metros de diâmetro nessa espécie) da região.

O pesquisador também mapeou como esses enormes troncos de árvores se tornaram monumentos em cidades do interior do país. “A maioria das pessoas infelizmente valoriza mais as árvores mortas do que vivas”, lamentou o professor.

Uma árvore dessas tem um grande valor ambiental, é importante o resgate do estudo delas para mostrar à sociedade como degradamos e alteramos as nossas paisagens. Me deixa preocupado que nas araucárias, por exemplo, querem um plano de manejo sem conhecer o ciclo da espécie. As pessoas estão interessadas em explorar os recursos naturais de uma forma não sustentável — avalia o pesquisador.

*Com informações da BBC News/Brasil