Rio Iguaçu em maio de 2020. Foto: Arquivo pessoal/Edegar Gasnhar |
O recorde, conforme o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar), foi registrado em maio quando o rio atingiu 1,29 metro, sendo que o normal é 2,7 metro. É a pior seca do rio desde 1931 – quando o monitoramento foi iniciado.
A população da cidade tem histórias marcadas pela água que, rápida e insistente, levou muitas vezes além de objetos, também alguns sonhos.
\”Não é que a gente se acostuma com abundância da água, mas a gente vê que pessoas acabam desistindo de muitas coisas depois da enchente, perde emprego, deixa de estudar, infelizmente é assim. Esse ano não choveu aqui, só garoa. Foi bem atípico. São extremos que prejudicam muito\”, diz Maria Regina Martins Gelchaki.
Menor nível do Iguaçu
O Rio Iguaçu é monitorado continuamente há quase 90 anos. Na primeira quinzena de maio de 2020, o nível do rio, em União da Vitória, ficou em menos de um metro e meio, de acordo com Arlan Scortegagna Almeida, engenheiro sanitarista e ambiental do Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar).
Almeida explica que os baixos níveis registrados neste ano resultaram na pior seca da série histórica.
Foto: Arquivo pessoal/Aline Gasnhar |
Dores da enchente
Maria Regina mora em União da Vitória há quase 50 anos e, vendo a situação atual do rio, conta que é inevitável não relembrar tudo o que passou por causa dele. A moradora presenciou, em 1983, a considerada pior enchente da cidade e também outras duas grandes que ocorreram em 1992 e 2014.
Ela conta que, na manhã que antecedeu a tragédia em 83, foi trabalhar com o pai de bicicleta e os dois ouviram um apito do trem, mas, mesmo com a chuva forte, não pensaram que se agravaria. O sinal do trem era para alertar o povo que a água do rio estava subindo.
União da Vitória é caracterizada por fortes enchentes, que cobriram boa parte da cidade. Foto: Arquivo pessoal/Luíza Helena/Edegar Gasnhar |
Durante a tarde, o responsável pela empresa retornou falando sobre o desespero da irmã, e eles resolveram voltar para casa.
\”A gente \’se mandou\’ de bicicleta pela ponte de ferro, dava uns 10 km de distância. Lá de cima já se via a cidade debaixo d\’água. Saímos com a roupa do corpo, os documentos e uma sacola com comida. Minha mãe doente teve que ser resgatada com um trator. Foi difícil olhar para trás e deixar tudo. Não era grande coisa, mas era o que a gente tinha\”, disse.
Foi mais de um mês fora de casa até que o rio abaixasse. A família se alojou em um pavilhão com outras 30 famílias e apenas dois fogões. As doações de cobertores e roupas demoraram a chegar e, conforme Maria Regina, por ser um bairro afastado \”só chegou o resto do resto\”.
Impacto da estiagem severa
De acordo com a Prefeitura de União da Vitória, na cidade que passou por tantas situações difíceis, de reconstrução por anos, em 2020 ocorreu o inesperado: a seca do Rio Iguaçu.
O monitoramento dele é realizado em conjunto pela Companhia Paranaense de Energia (Copel), Simepar e Instituto Água e Terra (IAT).
\”A cidade nunca tinha visto uma seca tão intensa. Até em momento crítico de pandemia, onde as pessoas tinham que ficar em isolamento domiciliar, o Rio Iguaçu foi meio que um ponto turístico, as pessoas se reuniam para ver o quão baixo ele estava nesse período\”, comentou o prefeito Santin Roveda.
Conforme a prefeitura, este foi, na verdade, um dos \”problemas\” da seca para a região, uma vez que não houve racionamento de água. \”As pessoas começaram a economizar muita água, e foi um ponto positivo para que não tivesse a necessidade de uma atitude drástica\”.
O engenheiro sanitarista e ambiental, Arlan Scortegagna Almeida, afirma que apesar de União da Vitória ser caracterizada pelas grandes enchentes de 1983, 1992 e 2014, não há nada de anormal nesse processo de extremos.
\”O rio passa por períodos de vazões altas que causam as enchentes e períodos de baixa vazão que causam as secas. Esse é o comportamento da natureza, é inevitável. Esses eventos extremos têm menor probabilidade de ocorrer, mas infelizmente acontecem\”.