A Polícia Civil indiciou oito pessoas por desvio de cestas básicas que deveriam ser entregues a famílias em vulnerabilidade social em Barra Velha, no Litoral Norte catarinense.
De acordo com a investigação, cerca de 4 mil cestas que deveriam ser distribuídas por programas assistenciais da prefeitura foram usadas para a compra de votos nas últimas eleições. O inquérito foi finalizado nesta quinta-feira (12).
Os indiciados faziam parte da antiga administração municipal e o município afirmou que tem colaborado com as investigações, fornecendo todos os dados solicitados.
A Polícia Civil não divulgou os nomes dos indiciados. Porém, revelou que quatro deles são ex-funcionários da prefeitura de Barra Velha, entre eles um ex-secretário municipal que atuava na gestão anterior.
Outros três suspeitos eram candidatos à Câmara de Vereadores do município, um deles buscava a reeleição em 2020. Também há um cabo eleitoral que trabalhava na campanha de reeleição do então prefeito.
“Eles vão responder pelo crime de peculato, que corresponde ali ao desvio da cesta básica contra um bem público da prefeitura; e pelo crime de corrupção eleitoral, que corresponde ali à suposta compra de votos a partir dessa distribuição de cestas básicas”, afirmou o delegado Eduardo Ferraz.
INVESTIGAÇÃO
As investigações mostraram que documentos falsificados fraudavam a distribuição das cestas básicas, já que, na verdade, eram desviadas.
As cestas que não foram entregues foram encontradas em 13 de novembro de 2020, ou seja, a dois dias do primeiro turno das eleições municipais daquele ano.
A polícia conseguiu mapear quase 5 mil cestas básicas, que deveriam ter sido destinadas a pessoas devidamente cadastradas e aptas a recebê-las. Mas 75% delas sumiram, ou seja, não possuem nenhum comprovante de entrega ou de recebimento. São quase 4 mil cestas básicas que não se sabe para quem foram entregues.
OUTRAS ILEGALIDADES
Os desvios não ocorreram só com cestas básicas. A polícia também identificou uma suspeita de desvio de telhas, lonas e materiais de construção que foram enviados para o município de Barra Velha para auxiliar vítimas do “ciclone-bomba”, que atingiu Santa Catarina em junho de 2020.
Enquanto as doações deixavam de chegar a quem precisava, os investigados riam do inquérito. Veja a transcrição de aúdios, os quais a polícia confirmou a veracidade:
No primeiro arquivo, um dos investigados diz: “Fala, mano véio, beleza? Querem me botar em cana? Se f… [risada]. Não adianta me botar em cana, eu não vou preso, bicho, tá louco? Dessa vez não deu. Tem que ser mais perto, aí, mais pertinho. Dessa vez não deu certo, hein”.
Também há um segundo áudio: “Eu não preciso de escolta mais, vocês têm que fazer escola de manhã cedo. De manhã cedo eu tô com o bolso cheio, agora acabou tudo, rapá. Já foi tudo embora. [risada]. ‘Cabou’ dinheiro, ‘cabou’ cesta, ‘cabou’ tudo”.
A atual prefeitura afirmou em nota que, como os fatos ocorreram no mandato anterior, a atual gestão está aguardando a cópia do inquérito para apuração dos fatos e abertura do processo administrativo competente.