A sessão do Tribunal do Júri da comarca de Campo Belo do Sul, na Serra catarinense, se estendeu até a madrugada desta quarta-feira (28) para julgar dois irmãos, Ronaldo Alves Perão, de 23 anos, e Juliana Alves Perão de 20, acusados pela morte de uma adolescente de 14 anos, em 2021. A época, o crime teve ampla repercussão no Estado.
A vítima, Ana Kemilli, foi amarrada a uma árvore, estrangulada e teve o corpo ocultado pelo ex-namorado por não aceitar o fim do relacionamento.
De acordo com a denúncia, a adolescente e o réu tiveram um relacionamento amoroso entre 2018 e 2019. O acusado não aceitou o fim do namoro e passou a perseguir a garota ao rondar a casa com uma arma de fogo e também enviar mensagens pelo celular. A obsessão pela adolescente e as respostas negativas às investidas teriam motivado o crime.
Ronaldo e a irmã planejaram e executaram o assassinato, afirma o Ministério Público. Naquele dia, Juliana foi até a casa de Ana Kemilli, que morava no Assentamento 17 de Abril, com o pretexto de conhecer seu irmãozinho. No final da tarde, pediu para a adolescente acompanhá-la em parte do trajeto de volta. Ambas caminharam juntas por cerca de 800 metros, então se despediram.
A vítima retornava para casa, mas foi abordada por um adolescente, na época com 15 anos, e convencida a caminhar até uma área de vegetação. O ex-namorado a esperava escondido. A adolescente foi levada à força mata adentro, amarrada em uma árvore e estrangulada até a morte.
O corpo foi encontrado dois dias depois por moradores do assentamento, coberto por folhas, após intensas buscas envolvendo amigos, familiares e órgãos de segurança.
Segundo o laudo, a adolescente tinha mais de 30 lesões. Durante as investigações, o adolescente teria assumido sozinho a autoria do crime, mas durante as buscas, a polícia identificou a participação do ex-namorado e da ex-cunhada. Ambos, inclusive, teriam ajudado nas buscas e foram no velório dela.
Pelo crime de homicídio qualificado por feminicídio, motivo torpe, recurso que dificultou a defesa da vítima e meio cruel, além de ocultação de cadáver e corrupção de menor, Ronaldo Alves Perão teve a pena fixada em 23 anos e seis meses de reclusão, em regime fechado. Depois do resultado, ele retornou à Penitenciária de Curitibanos, onde segue preso.
Juliana Alves Perão foi condenada por homicídio a seis anos de reclusão. Os irmãos têm 23 e 20 anos de idade, respectivamente. Ele permanecerá preso. A ela foi concedido o direito de recorrer em liberdade.
A comunidade onde ocorreu o crime também acompanhou o julgamento. Familiares e amigos da vítima chegaram a usar uma camiseta com a foto de Ana e a frase “violência contra a mulher não tem desculpa, tem lei”.
“Tiraram uma parte de mim. Minha alegria se foi para sempre. Aquele dia fica martelando na cabeça o tempo todo. É impossível esquecer”, desabafa a mãe da vítima, Keli Taques.