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Como a alta do dólar vai afetar o bolso dos brasileiros 

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Com uma economia dolarizada de forma indireta, a subida da moeda norte-americana impacta todos os custos dos brasileiros.

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A moeda do Brasil é o real, mas quase tudo que é comercializado por aqui tem uma parcela de dólar envolvida. O dólar é a moeda padrão para os negócios realizados entre os países, e a tensão com a qual se acompanha o noticiário do câmbio gira em torno do impacto que a divisa tem no dia a dia dos brasileiros.

Os efeitos são não só pelas empresas e agentes econômicos, mas também pelo consumidor. Do alimento ao combustível, do celular às roupas, em alguma medida, o preço do dólar está embutido.

Economistas reforçam que o peso demora a chegar no bolso do consumidor: uma faixa de 6 a 9 meses, ou até de um ano. Não tem impacto imediato na vida do cidadão, mas em algum momento vai chegar, e quando o efeito chegar, não passará despercebido, sobretudo sobre o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – a inflação oficial do país.

“Se a gente para olhar dentro do IPCA, onde tem dólar no nosso dia a dia, vemos a farinha do pão, soja, milho e combustível, principalmente”, destaca o economista Álvaro Marangoni.

Mas como isso funciona? O trigo do pãozinho é importado, o que significa que o produtor tem que comprar a matéria-prima em dólar. Se de um mês para o outro o dólar passou de R$ 5,80 para R$ 6,30, essa diferença de preço vai ser repassada para o consumidor final. 

Essa lógica funciona para muitos alimentos, inclusive os que são produzidos no Brasil. Neste caso, fica mais interessante para os produtores exportarem. Com o dólar mais caro, a mesma tonelada de carne de um mês atrás sai mais cara e aumenta o lucro. 

E aí a lógica é simples: quanto mais tempo o dólar subir, maior vai ser o repasse da desvalorização do câmbio para esses produtos. São dois itens que compõe o IPCA e somam 42% da inflação, itens diretamente impactados pelo câmbio. Tem dólar em tudo que a gente come, bebe e transporta no Brasil, além de outros itens.

O dólar é usado como padrão para os negócios devido a parâmetros internacionais acordados em 1944 por representantes de diversas economias do mundo. Foram estes acordos que estabeleceram as bases do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Por conta disso o dólar acabou se consolidando como “a moeda mais importante do mundo”.

Desse modo, apesar da defasagem de tempo para o efeito chegar, uma hora a alta do câmbio vai cobrar, pontuam os especialistas.

“Gera inflação e faz que o Banco Central suba juros, afetando o crescimento econômico, a taxa de juros de crédito. Afeta toda a economia. E hoje é mais rápido [para o efeito chegar] por conta da economia ainda mais globalizada, conclui o economista.

Os juros altos atuam como inibidores do crescimento econômico. Algo que, na avaliação de economistas, pode afetar não só a inflação, mas os níveis de emprego do país.

Mercado financeiro

A moeda americana passa por uma sequência de fortes altas nos últimos dias, e chegou à casa dos R$ 6,30 na quinta (19). O Banco Central (BC) decidiu colocar US$ 8 bilhões em leilão para aumentar a oferta da moeda no país e conter a desvalorização do real. O dólar recuou e fechou aos R$ 6,1216.

Nesta sexta (20), o BC colocou mais US$ 7 bilhões à venda, sendo US$ 3 bilhões em leilão à vista (em que o valor não volta para o caixa da instituição) e US$ 4 bilhões em leilões com compromisso de recompra dos dólares (quando o valor volta ao caixa do BC). Na mínima do dia, o dólar chegou aos R$ 6,05.

Em pouco mais de uma semana, foram leiloados quase US$ 28 bilhões. No ano, o dólar tem alta de 25%.

O mercado contina de olho no pacote de corte de gastos, com a tramitação dos projetos do governo federal no Congresso Nacional. Investidores acompanham de perto o desenrolar das propostas. Há um temor de que as medidas anunciadas não sejam suficientes para equilibrar as contas públicas e conter o avanço das despesas do governo.