A esquerda, foto do Restaurante anexo a Estação Ferroviária de Marcílio dias, tirada em 2002. A direita, foto atual. Um verdadeiro patrimônio cultural literalmente desabando. |
“Nos anos 1930, o trem a vapor que ia de Porto União para Mafra e São Francisco era chamado de “trem bananeiro”.
Nas estações, as paradas permitiam um café com sonhos, bolinhos de graxa. Em Marcílio Dias, um restaurante ferroviário, o almoço, o café… Em Valões, o Bananeiro entrava na estação apitando de modo diferente.
É domingo, dia de passeio do povo, dos namorados, dos noivos, até dos casados, pelos trilhos enquanto aguardam a chegada do trem. Mais uns quilômetros, mais alguns minutos… Está chegando o Bananeiro”! (relato de autor desconhecido/Estações Ferroviárias do Brasil)
Mais do que emocionante, este relato remonta aos áureos tempos das ferrovias, mais precisamente da nossa estação de Marcílio Dias. Fechando nossos olhos podemos sentir o cheiro do café e dos bolinhos de graxa. Ouvimos crianças correndo. O apito do trem ao longe.
Hoje na estação não existe mais passageiros, viajantes, transeuntes. Nem cachorros sarnentos. O trecho entre Mafra e Porto União está abandonado desde 1997.
A estação de Marcílio Dias está abandonada. O restaurante e o armazém estão entregues àquele que nada perdoa: o tempo.
A consideração destes elementos como patrimônio cultural, é essencial para a compreensão da nossa história.
Por conta do estado lamentável em que se encontram essas verdadeiras jóias históricas, um grupo de amigos está se mobilizando em torno da causa.
Restaurante próximo a estação. Foto de 2002 – Nivaldo Klein |
Querem uma posição do poder público do que pode ser feito para recuperar o que ainda resta da antiga Estação Ferroviária de Marcílio Dias e construções adjacentes, antes que nada mais possa ser feito.
Lindos projetos
Em março de 2015, o então prefeito de Canoinhas, Beto Faria, manifestou ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), o interesse de receber o patrimônio (Estação, Restaurante e Armazém) para o município.
Em maio do mesmo ano, a estação de Marcílio Dias passou a ser responsabilidade do Município de Canoinhas. “—A estação ferroviária de Marcílio Dias é nossa, depende do nosso zelo“, disse Faria na ocasião.
Em março de 2016, um lindo projeto de restauração foi apresentado como concluído. As três construções seriam restauradas: a estação, o restaurante e um antigo armazém, construído em tijolos.
O Instituto Nacional de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), havia feito um estudo, que segundo eles, durou oito anos.
Foto atual da Estação Ferroviária de Marcílio Dias. |
Durante todo esse tempo, equipes do Iphan, acompanhadas pela então gestora da Fundação Cultural Helmy Wendt Mayer, Viviane Bueno, reuniram documentos e realizaram levantamentos e pesquisas sobre a Estação Ferroviária em Marcílio Dias e as construções.
O Iphan licitou e contratou empresa para a elaboração dos projetos de restauração, que resultaram em um diagnóstico completo com informações que iam desde o tipo de piso, até a maneira como devia ser feita a restauração.
O prefeito Beto Faria comentou da importância da preservação da história do município. “Estamos muito contentes pela conclusão dos projetos para a restauração. A preservação do complexo arquitetônico de Marcílio Dias é também uma maneira de resguardar a memória de Canoinhas“, destacou.
A gestora da Fundação, Viviane Bueno, explicou o que iria acontecer após as restaurações: ” —Nas edificações restauradas a Fundação Cultural irá implantar o Memorial do Distrito de Marcílio Dias e do Ferroviário. Uma das construções será sede de cursos e oficinas promovidos pela Casa da Cultura, que também organizará mensalmente feira de artesanato e de produtos produzidos pela comunidade de Marcílio Dias“.
Projeto de restauração apresentado em 2016 na gestão de Beto Faria |
Para que os projetos saíssem do papel seria necessária a sensibilização de empresários e parlamentares para a captação de recursos capazes de tornar viável a realização das obras.
Isso nunca aconteceu!
Talvez seja a hora da comunidade saber o porquê de um projeto, que demorou oito anos para ser concluído, nunca saiu do papel.
Quem quiser apoiar a causa e acompanhar os acontecimentos a respeito do assunto, é só seguir a página no Facebook, ‘Salve a Estação’.
A história da Estação Ferroviária de Marcílio Dias
Originalmente ela denominava-se estação Canoinhas, aberta em 1913. Foi esta estação uma das atacadas e incendiadas durante a guerra do Contestado, nesse mesmo ano.
Esta estação, junto com mais cinco da linha e sucessivas a esta, foi invadida durante as escaramuças do Coronel Fabrício e seus bandoleiros, que queriam a criação do Estado do Iguaçu, compreendendo a zona do antigo Contestado, em 1927 e 1928.
Estação Ferroviária quando ainda denominava-se Canoinhas. Foto sem data |
Com a abertura do curto ramal de Canoinhas, em 1930, ela passou o entroncamento com esse ramal, e teve alterado o seu nome para Marcílio Dias, em homenagem ao marinheiro gaúcho, herói da Guerra do Paraguai, que morreu enrolado na bandeira do Brasil para não ter de entregá-la aos paraguaios, na batalha do Riachuelo, em 1865.
A nova estação de Canoinhas passou a ser a da ponta do ramal. O ramal foi desativado para passageiros no final dos anos 1960 e desativado definitivamente em 1976.
Patrimônios perdidos
Aos poucos vamos perdendo partes de nossa história. Em 2018, um dos imóveis mais antigos de Canoinhas, o casarão da Rua Caetano Costa, foi demolido.
A balsa, que há anos fazia a travessia de pessoas e veículos pelo Rio Iguaçu, de Felipe Schmidt à Paula Freitas, também foi retirada.