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Pressões e disputas políticas envolvem a aprovação de vacinas no Brasil

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Governo de São Paulo e Governo Federal travam disputa pública pela vacina CoronaVac já disponível pelo Butantan. Reprodução

Em coletiva de imprensa neste domingo (17), para anunciar a aprovação do uso temporário e experimental das vacinas CoronaVac e de Oxford, o presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, falou sobre as pressões que a agência sofreu para aprovar o uso dos imunizantes em curtíssimo espaço de tempo.

No último dia 8 de janeiro, cientistas da Fundação Osvaldo Cruz e do Instituto Butantan, apresentaram seus pedidos de autorização para uso emergencial, temporário e experimental das vacinas (Oxford e CoronaVac).
\”De imediato a Anvisa deu segmento a análise de mais de 20 mil páginas de denso material técnico, buscando cumprir o prazo jamais tentado: 10 dias corridos para concluir tão importante e difícil tarefa\”, informou Torres.

\”Em meio a um cenário de incertezas, agravado por pressões de todas as naturezas, infelizmente muitas vezes motivadas por razões outras que não a saúde pública, especialistas de variadas capacitações fizeram renúncias de suas próprias vidas, e não mediram horários nem esforços para honrar a responsabilidade da qual nunca se afastaram: atestar a qualidade, a segurança e a eficácia da esperança, traduzida sob a forma de vacina\”.

Presidente da Anvisa durante pronunciamento neste domingo (17). Reprodução

\”Esses, que construiram ao longo de 22 anos, o renome internacional da Anvisa, deram um testemunho de competência e credibilidade, até o presente momento, sem paralelo no mundo\”.

\”A Anvisa é hoje, a única agência reguladora do mundo a analisar ao mesmo tempo dois protocolos vacinais de uso emergencial. E o fez. Em tempo recorde de 9 dias. Um feito sem precedentes\”, comemorou presidente da Anvisa.

\”Nenhuma outra agência reguladora, com todos os recursos, sejam agência europeia, inglesa ou norte americana, bateram essa marca\”, afirmou.

\”Temos a vacina. Entretanto, que esse modesto júbilo, quase calado em meio a tanto pesar e sofrimento, não seja motivo de relaxamento para as medidas de proteção. A ameaça ainda está a porta, o lobo ainda ronda o nosso quintal. Nessa contenda, as máscaras são elmos, o alcoól em gel e a higiene das mãos são luvas, e o distanciamento social é a forma de ainda mais nos unirmos rumo a vitória final que ainda virá\”.

\”Essas vacinas estão certificadas pela Anvisa, foram analisadas por nós brasileiros por um tempo, o melhor e menor tempo possível. Confie na Anvisa, confie nas vacinas que a Anvisa certificar e quando ela estiver ao seu alcance vá e se vacine, finalizou.

Doria e Pazuello \’disputam\’ as 6 milhões de doses da CoronaVac

Após a aprovação da Anvisa, o Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou que a vacinação contra a covid-19 começa na próxima quarta-feira (20), às 10h, em todo o país, para os grupos prioritários. 
Segundo o ministro, serão inicialmente 3 milhões de pessoas a serem vacinadas, com duas doses cada uma, totalizando 6 milhões de doses da CoronaVac, produzida pela empresa chinesa Sinovac e o Instituto Butantan.

Pazuello afirmou que a CoronaVac foi comprada com dinheiro do SUS e que todas as doses deverão ser entregues pelo Ministério da Saúde.

\”Qualquer movimento fora desta linha está em desacordo com a lei\”, disse o ministro.

Doria rebateu afirmando que a vacina foi financiada pelo governo estadual e que \”Ainda não recebeu nenhum centavo do governo federal\”.

\”Não há um centavo, até agora, do governo federal, para a vacina, nem para o estudo, nem para a compra, nem para a pesquisa. Nada. Chega de mentira, ministro. Trabalhe pela saúde do seu povo, seja honesto\”, disse Doria.

\”Lamento, ministro Eduardo Pazuello, que o senhor, como ministro da Saúde, que deveria estar grato à Anvisa e a São Paulo, que temos uma vacina, usa o tempo para protestar contra isso. É inacreditável uma situação como essa no Brasil. Aqui lutamos pela vida, e Brasília luta pelo quê?\” 

Durante a coletiva sobre aprovação emergenciaal das vacinas, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse que das 6 milhões de doses, 4.636.936 serão enviadas para o governo federal. As outras 1.357.640 serão distribuídas pelo estado de SP.
Ele disse que assinou e já enviou o termo pedido na reunião da Anvisa e que, por isso, não houve nenhuma irregularidade.

\”Eu respeito muito o general Pazuello, mas, como todo general, como todo soldado, ele foi preparado a vida inteira para matar, lutar\”, disse Dimas, complementando que ele age \”ao contrário de quem trabalha na saúde\”. \”A gente foi preparado para salvar vidas\”.

Disputa política

A CoronaVac envolve uma disputa política entre o governador de São Paulo, João Doria, e o presidente Jair Bolsonaro. Em outubro, o presidente chegou a dizer que o governo federal não compraria a Coronavac.

No começo de janeiro, porém, o Ministério da Saúde informou assinou um contrato com o Instituto Butantan para adquirir todas as 100 milhões de doses que o órgão produzir.

Presidente da Anvisa diz que, infelizmente, a agência sofreu pressões de todas as naturezas, muitas vezes motivadas por razões outras que não a saúde pública.

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