Um estudo conduzido no Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (IMT-USP), aponta que o novo coronavírus pode permanecer ativo no organismo de alguns pacientes, com sintomas leves, por mais de 30 dias.
Nesse período, eles também permaneceram transmitindo a doença.
Um artigo, publicado na plataforma medRxiv – The Preprint Server for Health Sciences, em processo de revisão por pares, coordenado pela professora Maria Cassia Mendes-Correa, descreve dois pacientes com formas leves da doença que eliminaram o vírus competente para replicação por 24 e 37 dias, respectivamente, após o início dos sintomas.
Estima-se que o vírus não esteja mais presente em pacientes com Covid-19, cerca de 20 dias após o início dos sintomas.
O relatório descreve duas mulheres infectadas com SARS-CoV-2 com doença leve em que o vírus persistiu por períodos mais longos do que o relatado anteriormente.
Os casos descritos abaixo, foram participantes do Programa Corona São Caetano , uma iniciativa de atenção básica que oferece atendimento Covid-19 a todos os residentes de São Caetano do Sul, região metropolitana de São Paulo.
Resumidamente, moradores do município com sintomas compatíveis com Covid-19 foram incentivados a entrar em contato com a plataforma e convidados a preencher um questionário de triagem inicial que incluía informações sobre o tipo, início e duração dos sintomas.
Aos indivíduos que atendiam aos critérios de triagem predefinidos para doença leve foi oferecida uma visita domiciliar na qual um swab nasofaríngeo coletado por si mesmo foi obtido para análise.
Casos Clínicos
O primeiro caso é uma mulher, na casa dos 50 anos, cujo primeiro contato foi em meados de abril de 2020. Ela apresentou tosse seca, cefaleia, astenia, artralgia e mialgia. Ela negou estar com febre.
Um exame de RT-PCR feito 22 dias após o início do quadro confirmou a presença do vírus no organismo e, nos dias seguintes, a paciente apresentou náusea, vômito, perda de olfato e paladar.
Os sintomas significativos persistiram e um segundo teste realizado 37 dias após o início dos sintomas também foi positivo. A maioria dos sintomas desapareceu gradualmente e, em meados de maio, ela ainda se queixava de leve dor de cabeça e fraqueza.
Posteriormente, ela desenvolveu náuseas, vômitos, perda de olfato e do sentido do paladar
O outro caso também é de uma mulher na casa dos 50 anos, que no início de maio começou a apresentar febre, dor de cabeça, dor de garganta, tosse, coriza, perda de olfato e do paladar, mialgia e náusea.
Ela contatou a plataforma São Caetano e um teste de RT-PCR foi positivo (5 dias após o início dos sintomas).
Seus sintomas persistiram e um segundo teste realizado 24 dias após o início dos sintomas permaneceu positivo. Ela permaneceu sintomática cerca de 35 dias após o início dos sintomas, ou seja, era capaz de se replicar e de infectar outras pessoas.
Como os sintomas eram relativamente leves, as duas mulheres foram aconselhadas a permanecer em casa. Não realizaram exames complementares nem receberam nenhum tratamento e houve melhora gradativa do quadro clínico.
Com apoio da FAPESP, o grupo de Mendes-Correa acompanhou durante seis semanas outros 50 participantes atendidos no programa para estudar o tempo de persistência do vírus no organismo.
Foram coletadas semanalmente amostras de saliva, urina, fezes (swab anal) , secreção nasofaríngea e sangue. Todo o material foi levado ao IMT-USP e inoculado para verificar a presença de vírus ainda infectante.
“As análises indicam que o RNA viral permanece detectável por mais tempo na saliva e na secreção nasofaríngea. Em 18% dos voluntários, o teste de RT-PCR nesse tipo de amostra permaneceu positivo por até 50 dias. Entre estes, 6% mantiveram-se transmissores com o vírus ainda se multiplicando durante 14 dias”, conta Mendes-Correa.
Na avaliação da pesquisadora, portanto, os dez dias de isolamento recomendados atualmente pelo Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos para casos leves podem não ser suficientes para evitar novas contaminações.