Para muitos, é santo casamenteiro. Para os devotos católicos, é um santo milagroso, daqueles mais eficientes na intercessão junto a Deus. Para a Igreja, é a figura que detém o recorde da canonização mais rápida da história.
Para a historiografia, foi um homem notável do seu tempo: intelectual, o frade circulou por parte considerável da Europa do século 13 e ajudou a consolidar o papel dos franciscanos, cuja ordem havia acabado de ser fundada.
Este personagem é Santo Antônio de Pádua — assim chamado por aqueles que preferem enfatizar o auge de sua vida, ou Santo Antônio de Lisboa — como preferem sobretudo os portugueses, enaltecendo suas raízes.
Se muito de sua vida, oito séculos mais tarde, se mistura com lendas, relatos extraordinários e fé religiosa, fato certo e comprovado é que o frade franciscano português morreu há exatos 790 anos, em uma sexta-feira, 13 de junho de 1231.
Em terras brasileiras, a devoção antoniana ganhou seu próprio sotaque.
O sincretismo fez dele uma figura simpática a outras religiões fora do catolicismo, e o folclore garantiu ao santo lugar de honra, seja na hora de pendurar sua imagem de cabeça para baixo até que um namorado dos sonhos apareça, seja em formatos de orações característicos, como a trezena — treze dias de rezas dedicadas a ele.
No ‘Dicionário do Folclore Brasileiro’, o sociólogo, antropólogo e historiador Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) registrou: “Seu nome batiza igrejas, ruas e continua sendo um dos mais escolhidos para menino, em Portugal e Brasil. Rara será a cidade, vila ou povoado sem uma rua de Santo Antônio ou uma igreja de Santo Antônio, em todas as terras do idioma português.”
Curiosidades sobre este religioso cuja fama transcende o catolicismo
De acordo com relatos de seus contemporâneos, Antônio sofria de um quadro de hidropisia, ou seja, acúmulo de fluidos corporais.
Na antiguidade, costumavam serem diagnosticados assim muitos distúrbios de circulação sanguínea — e o quadro, sabe-se hoje, é causa de edemas generalizados e pode acarretar insuficiência cardíaca congestiva.
Antônio era um homem na faixa dos 40 anos — há dúvidas sobre sua data de nascimento —, mas a condição de saúde associada à rotina de peregrinações, jejuns e penitência faziam-no parecer mais velho. Cansado depois de uma intensa quaresma naquele ano, ele havia solicitado, em maio, um período de descanso a seus superiores.
Em 19 de maio de 1231, recolheu-se então na propriedade de um nobre da região, em Camposampiero, a 20 quilômetros de Pádua, no norte da Itália, onde vivia.
Conforme conta a primeira crônica biográfica sobre o santo, publicada pela Ordem dos Frades Menores em 1232, ‘Beati Antonii Vita Prima’, ele parecia muito fraco naquela manhã de 13 de junho e desmaiou.
Foi acomodado em uma cama rudimentar, de palha. Quando recobrou a consciência, pediu que o levassem de volta a Pádua, onde teria a assistência de irmãos religiosos.
Foi colocado então sobre um carro de boi. No caminho, contudo, com o frade visivelmente agonizando, os que o acompanhavam no traslado decidiram parar em um convento localizado em um pequeno burgo, na época chamado de Capo di Ponte — hoje, bairro de Arcella, no subúrbio de Pádua.
E foi ali, numa cela da pequena casa religiosa, que o santo morreu. Só depois foi levado para a Pádua que se tornaria famosa por conta dele.
Não há um consenso sobre a data exata de nascimento de Santo Antônio. Em 1981, durante as celebrações pelos 750 anos de sua morte, o Vaticano autorizou que seus restos mortais, sepultados na basílica a ele dedicada em Pádua, fossem exumados para análise científica.
Exames antropométricos foram então realizados, por uma junta de pesquisadores, alguns ligados à Santa Sé, outros vinculados à Universidade de Pádua. A principal conclusão: o material era compatível com um homem de mais de 40 anos. Seus biógrafos passaram então a situar seu nascimento como tendo sido provavelmente em 1188.
Em 2014, novos estudos científicos foram realizados nos restos mortais de Antônio, por pesquisadores do Museu de Antropologia da Universidade de Pádua, em parceria com o Centro de Estudos Antonianos e com o grupo Arc-Team Open Research. O designer brasileiro Cícero Moraes foi encarregado de fazer, por computação gráfica, a reconstituição facial tridimensional fidedigna do santo. Mais uma vez, a confirmação: tratava-se de um homem de mais de 40 anos.
O que não há dúvidas, contudo, é que seu nome de batismo era Fernando, e não Antônio. Muito provavelmente, a julgar inclusive por ter tido acesso a estudos básicos em uma época de parcos escolarizados, filho de uma família importante da sociedade lisboeta da época.
Diversos pesquisadores concordam que seu nome completo era Fernando Martins de Bulhões e Taveira de Azevedo.
Com informações da BBC NEWS.