Com a guerra entre Rússia e Ucrânia completando já um mês, e sem vislumbre do fim, senadores demonstraram preocupação com as consequências do conflito para a economia brasileira.
O aumento da inflação, a eventual falta de fertilizantes para a produção de alimentos e um possível desabastecimento no mercado interno, estão entre as principais inquietações manifestadas por parlamentares durante sessão temática promovida pelo Senado.
Logo nos primeiros dias do conflito no Leste Europeu, a Fundadação Getúlio Vargas já havia alertado que existem diversos canais pelos quais a crise entre Rússia e Ucrânia poderiam chegar à economia brasileira.
A inflação é talvez o efeito mais notório do conflito, ao lado do recuo do PIB [Produto Interno Bruto] mundial, no que toca à economia. A disparada dos preços do petróleo e de seus subprodutos, ou mesmo a interrupção do gás proveniente da Rússia, afeta diretamente a Europa, mas também impacta todos os demais países. De outro lado, cabe lembrar que a Ucrânia é um grande produtor de grãos — apontou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, durante o debate desta quinta-feira (24).
A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, afirmou que a importação de fertilizantes não foi interrompida até o momento.
O Brasil tem recebido esses fertilizantes. Nós temos acompanhado e monitorado, por meio do Ministério da Agricultura, todos os dias, os navios que saem do Brasil e que chegam ao país com esses fertilizantes — declarou ela.
Segundo a senadora Rose de Freitas (MDB-ES), que propôs a audiência, os impactos do conflito já são perceptíveis e têm gerado preocupação entre os brasileiros.
Hoje quem está preparando sua terra para plantar tem medo. Hoje o preço dos combustíveis, mesmo com todas as atitudes tomadas, nos causa muita inquietação. E é uma cadeia de repercussão que pode levar o Brasil a ficar num caos de abastecimento muito grave — alertou Rose.
Diante das inquietações dos parlamentares, a ministra reiterou que é preciso prudência e calma:
Vamos ter muita calma, muita prudência nesta hora. Nós temos de colocar as informações de maneira muito correta, para que o mercado, que já está numa instabilidade danada, também não aumente essa inquietação. A agricultura brasileira hoje trabalha com várias alternativas, várias opções, para que não tenhamos descontinuidade no nosso plantio e na nossa colheita — disse ela.
Trigo
O risco de desabastecimento de trigo é outro ponto de preocupação. De acordo com a ministra, Rússia e Ucrânia são responsáveis por 14% da produção mundial de trigo e 28,5% das exportações mundiais desse item. Mas Tereza Cristina lembrou que o Brasil importa trigo principalmente da Argentina.
Porém, o Brasil não pode contar com outros mercados porque a seca na Argentina, tradicionalmente maior exportador do grão para o Brasil, está comprometendo a safra local.
Diálogo
Em outra frente, o ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto Franco França, salientou que a situação internacional é desafiadora e reforçou que é preciso criar espaços de diálogo entre Rússia e Ucrânia. A posição do Brasil, segundo ele, é contrária às sanções à Rússia neste momento.
O Brasil não está de acordo com a aplicação de sanções unilaterais e seletivas. Essas medidas, além de ilegais perante o direito internacional, preservam concretamente os interesses urgentes de alguns países, como o fornecimento de petróleo e gás a nações europeias. O grande risco das sanções do modo como têm sido implementadas é que suas consequências recairão, no médio prazo, mais sobre o mundo em desenvolvimento do que sobre a própria Rússia, defendeu o chanceler.
O chanceler reforçou que a posição do Brasil é a de “não abrir mão de ser um ator global” e de evitar repetir “uma lógica da Guerra Fria”. França também afirmou que o presidente Jair Bolsonaro tem ouvido as recomendações do Itamaraty.
Fonte: Agência Senado