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Era julho de 1983: Canoinhas lembra os 40 anos da grande enchente

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A enchente de 1983 atingiu 135 cidades de Santa Catarina. Foram 198 mil desabrigados, pelo menos 49 mortos e 32 dias de isolamento total.

Há exatos 40 anos, o inverno chegava com força em Santa Catarina. Com ele a chuva que insistia em cair desde o início de junho. Era o começo de uma das maiores tragédias naturais vivida pelos catarinenses.

Na edição do dia 4 de junho de 1983, o jornal Correio do Norte destacava que havia chovido quase sem interrupção por vários dias em Canoinhas. A esperança era de que não chovesse mais.

Nesse dia, já contavam cinco pontes destruídas: Rio da Areia de Cima, em Ouro Verde, Rio Bonito, em Imbuia, Rio da Piedade, no Salto d’Água Verde, Rio Preto e Rio dos Bugres. Outras 15 estavam danificadas e mais 110 bueiros destruídos. Para a recuperação, a Prefeitura precisaria de 350 milhões de cruzeiros. Na agricultura, a perda estimada era de 5 mil toneladas de grãos, aproximadamente 400 milhões de cruzeiros.

Em 31 horas de chuva, 40 km² de Três Barras e Canoinhas foram inundados, tendo como base os 80 km de extensão do rio Canoinhas.

O Centro de Saúde vacinava as pessoas contra o tifo e fazia a esterilização de água potável. Enquanto isso, a Cruz Vermelha recebia alimentos e roupas para os desabrigados de Canoinhas e Três Barras. Também conseguiu cobertores para Porto União e Mafra, bastante atingidas pela enchente.

No decorrer da semana, com a trégua das chuvas, os prefeitos de Canoinhas e Três Barras se reuniram para resolver problemas em curto prazo, com sugestões para dragar e retificar os rios Paciência, Água Verde, Canoinhas e Negro, nos pontos de estrangulamento.

MAIS CHUVA

No fim de junho, entre os dias 27 e 30 — mais chuva. A lama que se acumulou na estrada de ligação com Porto União fez com que Canoinhas ficasse isolada. Muita lama. Muitos buracos. Além do atraso devido ao tráfego lento, filas de caminhões que precisavam esperar outros veículos serem rebocados por trator ao longo da estrada.

Dias depois, na noite de quinta-feira, 7 de julho, novas cheias são percebidas. E aí começa o maior desespero. A previsão era de que esta enchente seria a maior.

Em Canoinhas, famílias são removidas para o Ginásio de Esportes Santa Cruz. Em Três Barras, famílias desalojadas vão para creches e pavilhão da igreja ucraniana.

Um casal do bairro Alto das Palmeiras, enquanto dormia, foi atingido por um raio durante um temporal naquela semana. A mulher, de 30 anos, morreu na hora. O raio atravessou a parede do quarto.

951 construções foram atingidas, sendo 846 casas, 56 comércios, 25 indústrias, 3 escolas, 9 oficinas , 3 postos de combustível, 1 igreja e 8 estufas.

Apenas em Canoinhas, 6.975 mil pessoas ficaram desabrigadas, 14,5% da população. 5.023 mil assistidas pela Coordenadoria Municipal de Defesa Civil e 1.952 em casas de parentes e amigos.

Quando parou de chover, eram quatro vítimas fatais e milhares de pessoas atingidas pela enchente. A solidariedade de cidades, empresas e bancos dava força. Até mesmo um Conselho de Reconstrução Municipal foi criado em Canoinhas para ajudar na recuperação de toda a cidade.

De Jaú (SP), oito caminhões com comida, medicamentos e agasalhos. Como pequena demonstração de agradecimento, uma rua: Cidade de Jaú.

Da empresa Volkswagen, de São Bernardo do Campo (SP), dois caminhões com materiais de construção e uma Kombi 83 cheia de remédios para o Hospital Santa Cruz. Essas e todas as doações foram cadastradas pela Cruz Vermelha e ficaram em depósitos cedidos por empresas da região.

Cerca de 1,4 bilhão de cruzeiros foram liberados pelo Banco Nacional da Habitação para atender as vítimas da enchente.

A grande enchente, como ficou conhecida, atingiu 135 cidades de Santa Catarina, deixando 198 mil desabrigados, pelo menos 49 mortos, até hoje não há um número oficial, e 32 dias de isolamento total. Em 8 de julho Santa Catarina decretou estado de calamidade pública.

A Força Aérea Brasileira (FAB), que atuou durante todo o resgate, sobrevoou por 1.320 horas transportando 3.889 pessoas. A enchente deixou gravada na memória de muitas pessoas os momentos de angústia e aflição pelo evento climático.

As cidades mais atingidas foram Rio do Sul, Blumenau e Itajaí. O rio Itajaí-Açu bateu recorde histórico, com 15,34 metros acima do leito

Julho de 1983 ficou marcado na vida de toda a região. Jamais seria esquecido. O nível do rio continuaria sendo temido.

*Com informações do Jornal Correio do Norte e Rádio Educadora.