Mais comum do que pensamos, os engasgos ocorrem em diversas fases da vida, mas na infância, principalmente até os 3 anos de idade, podem ser frequentes e perigosos, além de ser uma das principais causas de mortalidade infantil no Brasil.
Em Santa Catarina, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) atendeu 495 ocorrências em crianças de 0 a 13 anos, em 2022. Este ano, até 24 de setembro, já foram registradas 350 ocorrências com a mesma faixa etária.
O engasgo é quando um corpo estranho entra na traqueia (líquido ou sólido) causando uma interrupção total ou parcial da passagem do ar respirado.
Em bebês, ocorre principalmente por líquidos, em crianças maiores, por sólidos como alimentos (salsichas, balas, amendoins, pipocas) e pequenos objetos (partes de brinquedos, botões, etc).
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, a aspiração de corpo estranho é observada principalmente nas crianças na faixa etária de 1 a 3 anos.
Geralmente alguns sinais dão indicativo que a criança esteja engasgada, tais como tosse, agitação, dificuldade de respirar, a cor roxa ao redor dos lábios e as mãos no pescoço, como se estivesse sufocada são sugestivos do bloqueio das vias aéreas. Algumas vezes, ela pode emitir sons respiratórios agudos ou ausência de som.
No momento em que uma pessoa se deparar com essa situação, tecnicamente chamada de Obstrução das Vias Aéreas por Corpo Estranho (OVACE), deve ligar de imediato para o SAMU 192 ou Corpo de Bombeiros 193.
Enquanto ocorre o deslocamento da ambulância até o local de atendimento, algumas ações não devem ser realizadas e outras podem ser feitas para salvar a vida da criança.
“Se a criança ou o bebê estiverem engasgados e conseguirem tossir, a recomendação é não chacoalhar, não bater nas costas, não virar de ponta cabeça e não tentar tirar o objeto da boca principalmente se não estiver vendo. O ideal é retirar com a mão objetos ou secreção que conseguimos visualizar”, explica o enfermeiro Luciano da Silva Costa, especialista em urgência e emergência.
A criança deve ser mantida em posição confortável. A tosse é a melhor chance de expelir o objeto que provocou o engasgo e indica que a criança está respirando.
Se a pessoa interferir de outras formas, o objeto pode se deslocar e piorar a situação com uma obstrução completa, impedimento a respiração. Nos engasgos com objeto sólido, pode ocorrer obstrução total da passagem do ar pelas vias aéreas e assim haverá impedimento da entrada e saída de ar.
Neste caso a criança ou o bebê não emitem qualquer som vocal e apresentam os lábios e pele arroxeados.
“É imprescindível saber como agir numa situação destas. Qualquer pessoa pode salvar a vida de um bebê ou criança engasgados, sabendo o que fazer. Quanto mais rápido for o socorro, mais chances da vida ser salva”, reforça o enfermeiro Luciano.
Técnica para bebês menores de um ano:
- 1- Reconhecer que o bebê está cianótico, sem respirar ou com muita dificuldade respiratória. Geralmente a boca fica roxa.
- 2-Colocar o bebê sobre a nossa perna. Virar a cabeça dele para baixo, segura a boca até ficar meio aberta e fazer cinco compressões firmes contra o dorso dele. Bater na costas.
- 3-São batidas vigorosas para que a gente consiga realmente empurrar esse corpo estranho. Não tenha medo de machucar a criança, porque a mão de baixo está protegendo a parte frontal do corpo dela.
- 4-Com um dedo, abra a boca da criança. Proteja o tórax e vire a criança de volta para observar se ela continua com dificuldades para respirar.
- 5-Se ela continua com dificuldades para respirar, faça cinco compressões torácicas. Coloque dois dedos na linha entre os mamilos e empurre contra o tórax da criança por cinco vezes por cinco segundos.
- 6-Se ela não se recuperou, não está conseguindo respirar e a boca continua roxa, vire novamente para baixo, abre a boca e faço novamente a manobra.
O que vai acontecer com a criança se ela não se recupera?
Ela pode vir a evoluir com uma parada cardiorrespiratória. Veja como iniciar manobras de reanimação cardiopulmonar:
- 1-Colocar o bebezinho apoiado na nossa coxa e aplicar cinco compressões bastante vigorosas no dorso.
- 2-Retornar a criança para o seu colo. Observe se ela consegue expelir o corpo estranho e se ela tem respiração normal.
- 3-Se ela não tem respiração normal, faça a manobra de cinco compressões torácicas na linha entre os mamilos do bebê. São cinco compressões usando os dois dedos.
Técnica para crianças maiores e adultos:
- 1- Se a criança for pequena, ajoelhe atrás dela e abrace por trás. O ideal é apoiar ela contra o seu tronco.
- 2-É necessário observar a região entre o umbigo e região de baixo do tórax
- 3-Colocar a mão acima do umbigo e virar o nosso dedo polegar contra o tórax. Fazer o movimento para baixo e para cima que lembra a letra J. O objetivo é comprimir o diafragma para ajudar a criança a expelir o corpo estranho.
- 4-Se for adulto, pode-se fazer o mesmo procedimento com ele em pé. Se posicione atrás dessa pessoa e faça o mesmo movimento. Coloque a sua mão acima do umbigo e vire o seu polegar contra o tórax. Fazer o movimento para baixo e para cima que lembra a letra J. Tente realmente expelir o corpo estranho da via aérea dessa pessoa.
Quanto tempo podemos fazer essa tentativa?
- “Se a partir da primeira tentativa a criança não responde ou não consegue respirar, ela pode estar evoluindo para um quadro de parada cardiorrespiratória. Peça ajuda! Precisa acionar 192 ou 193 e tentar uma reanimação cardiopulmonar. Faça até 3 tentativas… Se a pessoa não expelir o objeto, vai ser necessário um profissional ou alguém habilitado para iniciar os passos de reanimação cardiopulmonar”.
Medidas de prevenção para a ocorrência de engasgo em crianças pequenas também devem ser tomadas:
- Supervisionar sempre sua alimentação;
- Cortar os alimentos em pedaços bem pequenos e ensinar as crianças a mastigá-los;
- Não alimentá-las enquanto correm, andam, brincam ou estejam deitadas. Não alimentar no carro em movimento;
- Não colocar alimentos na boca de uma criança chorando. Orientar que ela não deve falar enquanto mastiga;
- Não comprar brinquedos com partes pequenas e manter objetos pequenos fora do alcance das crianças;
- Evitar adereços como pulseiras, berloques e medalhas nos braços dos bebês;
- Seguir a recomendação da embalagem dos brinquedos com relação à idade ideal para aquisição (regulado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia – INMETRO).