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Por que o Hamas atacou Israel agora?

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O conflito duradouro e complexo entre Israel e a Palestina, que combina elementos políticos e religiosos, se estende por décadas e já resultou em milhares de mortos.

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O ataque realizado pelo grupo palestino Hamas contra Israel no último sábado (7), deixando milhares de mortos, deu início a mais um capítulo de um conflito que se arrasta há décadas.

Os atentados coordenados, segundo a mídia internacional, mataram mais de 1,2 mil israelenses, incluindo mulheres, crianças e idosos e resultaram no sequestro de pelo menos 100 pessoas.

Segundo o Hamas, o número de israelenses capturados foi “bem maior” do que as dezenas inicialmente estimadas, e eles são mantidos em locais espalhados por toda a Faixa de Gaza.

Por que o ataque

O motivo alegado pelo Hamas para o ataque brutal a Israel no último sábado está relacionado à mesquita de Al-Aqsa, que fica junto ao Monte do Templo, em Jerusalém, em uma área da cidade considerada sagrada por muçulmanos, judeus e cristãos.

Em uma gravação de áudio divulgada no momento do ataque, Muhammad al-Deif, comandante da ala militar do Hamas, a Brigada al-Qassam, disse que a violência foi uma retaliação ao que chamou de “ataques diários à mesquita Al-Aqsa” que “ousaram insultar nosso profeta dentro dos pátios da mesquita”.

Poucos marcos simbolizam mais as tensões entre israelenses e palestinos do que a região de Al-Aqsa e do Monte do Templo.

O complexo de Al-Aqsa – que inclui também o Domo da Rocha, cúpula dourada que domina a paisagem de Jerusalém – começou a ser construído no século 7 no local de onde, segundo a tradição islâmica, o profeta Maomé teria sido levado aos céus para se encontrar com Deus.

A área, no entanto, também é considerada sagrada pelos judeus, já que fica no lugar onde estava o Templo de Jerusalém, local que segundo a tradição judaica abrigava a chamada Arca da Aliança, que guardava os mandamentos dados por Deus a Moisés.

O templo foi destruído pelos romanos no ano 70 d.C., mas parte da edificação que circundava o lugar ficou preservada, tornando-se local de peregrinação e oração para judeus de todo mundo, o chamado Muro das Lamentações.

Após séculos de disputas sobre a área, um acordo em vigor desde 1967 proíbe que não-muçulmanos orem dentro do complexo da mesquita, embora Israel continue controlando o acesso ao local.

Mesmo assim, nos últimos anos, nacionalistas judeus aumentaram as suas visitas ao complexo onde alguns sonham em construir um novo templo judaico, o que vem gerando críticas e reações dos palestinos.

Em setembro de 2000, uma visita do então líder da oposição israelense Ariel Sharon ao local foi considerada o catalisador da segunda Intifada, uma onda de revolta de palestinos que resultou na morte de 4 mil pessoas entre judeus e muçulmanos.

Desde então, os conflitos em torno da área se intensificaram.

CONFLITOS VIOLENTOS

A tensão entre Israel e Palestina, que se estende há 75 anos, envolve geopolítica, terras e religião, tendo em vista que a região é sagrada para o judaísmo e para o islamismo, assim como também é para o cristianismo.

As raízes do conflito remontam à década de 1940, no pós-guerra, quando o fluxo migratório de judeus alterou a composição demográfica na região, gerando atritos entre a nova população e os árabes-palestinos.

Com o fim do mandato britânico sobre a Palestina, coube à Organização das Nações Unidas (ONU) buscar uma solução. Em 1947, foi proposta a criação de dois estados, mas os árabes rejeitaram o acordo, alegando que ficariam com as terras com menos recursos naturais.

Ainda assim, os judeus celebraram a criação do Estado de Israel em 1948. De lá para cá, em meio a violentos conflitos, Israel foi ampliando suas fronteiras.

Por sua vez, os palestinos que vivem na região estão divididos em dois territórios que não têm, entre si, conexão por terra: a Faixa de Gaza e a Cisjordânia.

Foi na Guerra dos Seis Dias, ocorrida entre 5 e 10 de junho de 1967, que Israel tomou alguns territórios, expandindo seu tamanho original. A situação se agrava pelo fato de Israel deter a soberania do território no qual a Faixa de Gaza está inserida. Segundo o cientista político Leonardo Paz, a nova onda de violência era esperada. “A gente sabia que, eventualmente, podia acontecer outra vez”.

Ele vê um impasse. “Acho que essa ação do Hamas foi sem precedentes. Imagino que a gente vai assistir, nas próximas semanas, a uma mobilização forte das Forças Armadas de Israel para ocupar Gaza e tentar primeiro resgatar os reféns e, na sequência, dar uma resposta muito dura em relação ao Hamas”.

Veja quem são os principais envolvidos no conflito: 

Israel

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, durante declaração conjunta com o presidente da República, Jair Bolsonaro, em Jerusalém.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu – Alan Santos/PR

O Estado de Israel foi fundado em 14 de maio de 1948. As nações árabes vizinhas invadiram o recém-criado país no dia seguinte, em apoio aos árabes-palestinos. Desde então, Israel travou várias guerras, vindo a ocupar territórios e ampliando seus domínios.

Em Jerusalém, palco de passagens bíblicas sagradas para judeus, cristãos e muçulmanos, estão localizados o complexo do Monte do Templo compreende o Domo da Rocha, o histórico Muro das Lamentações, a Mesquita de Al-Aqsa e a Igreja do Santo Sepulcro. O centro financeiro de Israel é Tel Aviv.

Líder do partido de direita Likud, Benjamin Netanyahu é o primeiro-ministro de Israel desde 2022. Já tendo ocupado o cargo outras duas vezes, ele é o político que mais ficou a frente do governo na história israelense.

Palestina

A Palestina reivindica soberania sobre os territórios da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e também considera Jerusalém como sua capital. Seu centro administrativo está na cidade de Ramallah, na Cisjordânia.

Sua independência foi declarada em 15 de novembro de 1988 pela Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Entretanto, a maioria das áreas reivindicadas pelos palestinos está ocupada por Israel desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967.

OLP

A Organização para a Libertação da Palestina é uma entidade multipartidária e originalmente paramilitar. Criada pela Liga Árabe em outubro de 1964, foi apresentada como única representante legítima do povo palestino.

Sua meta era a libertação da Palestina através da luta armada. A OLP foi considerada por diversos países ocidentais, entre os quais os Estados Unidos, como uma organização terrorista.

Em 1993, o então presidente da OLP, Yasser Arafat, reconheceu o Estado de Israel numa carta oficial ao primeiro-ministro daquele país, Yitzhak Rabin. Em resposta à iniciativa de Arafat, Israel reconheceu a OLP como representante legítima do povo palestino. Arafat foi presidente do Comitê Executivo da OLP de 1969 até a sua morte, em 2004.

ANP

Presidente palestino, Mahmoud Abbas, durante coletiva de imprensa no Palácio do Eliseu, em Paris
Presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas – REUTERS/Francois Mori

Em 1993, foi firmado o Acordo de Oslo, por meio do qual Israel e a OLP pactuaram a criação da Autoridade Nacional Palestina (ANP), um governo autônomo provisório que administraria territórios palestinos enquanto as negociações se desenrolassem para resolver questões importantes pendentes sobre o conflito. Atualmente, a área A da Cisjordânia está sob segurança e controle civil da ANP. A área B está sob controle militar de Israel e controle civil da ANP. Uma terceira área – C – concentra assentamentos israelenses. O atual presidente da Autoridade Nacional Palestina é Mahmoud Abbas. 

Fatah

O Fatah é a maior das forças políticas dentro da OLP. Apresenta-se como um grupo nacionalista e laico. Foi criado em 1959, tendo Yasser Arafat como um de seus fundadores. É considerado mais moderado que o Hamas e tem maior presença na Cisjordânia.

Hamas

O Hamas, nome que significa, em árabe, Movimento de Resistência Islâmica, é um movimento palestino constituído de uma entidade filantrópica, um braço político e um braço armado. Criado em 1987, ele é considerado hoje como organização terrorista por vários países, como Estados Unidos, União Europeia, Japão, Israel e Canadá.

A Organização das Nações Unidas (ONU) e alguns países membros, como o Brasil, não usam a mesma denominação.

Em 2006, o Hamas derrotou o Fatah nas eleições legislativas para a ANP, conquistando o direito de formar o novo governo. Os dois partidos, no entanto, entraram em conflito.

O Hamas expulsou o Fatah da Faixa de Gaza. Em resposta, o Fatah rejeitou o governo de unidade e se manteve à frente da ANP, que passou a ter uma administração política voltada para as áreas da Cisjordânia.

Segundo o cientista político Leonardo Paz, o Hamas não reconhece o Estado de Israel e briga pela independência de um Estado Palestino. “Israel, por sua vez, diz que o território é seu e não tem como oferecer qualquer tipo de soberania a esse Estado palestino porque não haveria nenhuma garantia de segurança de que esse Estado não seria um posto avançado para atacar Israel”, acrescenta.

Hezbollah

Aliado do Hamas, o Hezbollah surgiu durante a Guerra Civil do Líbano, entre 1980 e 1990. É uma organização política e paramilitar. No mundo islâmico, é visto como um movimento de resistência legítimo.

No mundo ocidental, porém, é tido como organização terrorista por diversos países. A entidade ganhou popularidade no mundo muçulmano xiita, por ter levado Israel a desocupar o sul do Líbano, em maio de 2000. Em 2019, a organização constituiu-se em um dos principais movimentos de combate à presença israelense no Oriente Médio, utilizando ataques de guerrilha.

Fontes: BBC NEWS Agência Brasil i24TV Reuters

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