Menino de 10 anos se torna rosto da fome em Gaza

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Pelo menos 20 crianças palestinas morreram de desnutrição e desidratação, segundo autoridades de saúde de Gaza.

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A foto do menino Yazan Kafarneh, com rosto esmaecido, que está circulando na imprensa internacional neste sábado (9), chama novamente a atenção para a grave crise humanitária na região da Faixa de Gaza.

Ele tinha 10 anos, mas nas fotografias dos seus últimos dias em uma clínica, parece pequeno para a idade e ao mesmo tempo velho. Na segunda-feira (4), Yazan estava morto.

Em uma série de fotografias jornalísticas do menino, tiradas com a permissão de sua família enquanto ele lutava pela vida, seus olhos com cílios compridos olhavam para fora, desfocados.

Yazan tinha paralisia cerebral e por causa de sua condição dependia de uma alimentação especial, com frutas e diversos tipos de leite misturados. Os pais de Yazan lutaram durante meses para cuidar do filho, cuja condição, dizem os especialistas, significava que ele tinha dificuldade para engolir e precisava de uma dieta leve e rica em nutrientes.

Após o bombardeio israelense em Gaza na sequência do ataque liderado pelo Hamas em Israel, em 7 de outubro, os pais do menino fugiram de casa, levando Yazan e outros três filhos para um lugar que esperavam ser mais seguro.

Dia após dia, vi meu filho ficando mais fraco“, disse seu pai, Shareef Kafarneh, um taxista de 31 anos de Beit Hanoun, no norte de Gaza. Por fim, eles acabaram em Al-Awda, na cidade de Rafah, no sul, onde Yazan morreu na manhã de segunda-feira. Ele sofria de desnutrição e infecção respiratória.

As fotos de Yazan que circulam nas redes sociais rapidamente fizeram dele o rosto da fome em Gaza. Grupos de ajuda alertaram que as mortes por causas relacionadas à desnutrição apenas começaram para os mais de 2 milhões de habitantes da região.

Cinco meses após o início da campanha de Israel contra o Hamas e do cerco a Gaza, centenas de milhares de palestinos estão à beira da fome, dizem os responsáveis das Nações Unidas.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) tem alertado sobre a morte de crianças com fome porque alimentos e remédios não estão chegando a Gaza devido à guerra entre Israel e o Hamas.

Pelo menos 20 crianças palestinas morreram de desnutrição e desidratação, segundo autoridades de saúde de Gaza. Tal como Yazan, que precisava de medicamentos que eram extremamente escassos no lugar, muitos dos que morreram também sofriam de problemas de saúde que colocavam ainda mais suas vidas em risco, disseram as autoridades sanitárias.

Quase nenhuma ajuda chegou ao norte do enclave palestino durante semanas, depois de as principais agências da ONU terem suspendido suas operações, citando os saques em massa de suas cargas por pessoas desesperadas, as restrições israelenses a comboios e a má condição das estradas danificadas durante a guerra.

Em meio à crise, um novo esforço de ajuda humanitária está sendo iniciado pelo mar. O navio Open Arms deve sair de Chipre neste final de semana para levar suprimentos a Gaza.

A embarcação foi abastecida com caixas com arroz, farinha e proteína em uma operação organizada pela instituição de caridade World Central Kitchen (WCK) e financiada pelos Emirados Árabes Unidos.

Biden diz que um cessar-fogo em Gaza antes do Ramadã ainda é “possível”

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse em uma entrevista neste sábado (9), que um acordo de cessar-fogo em Gaza antes do início do Ramadã ainda é “possível”. O líder americano afirmou ainda que o diretor da CIA, Bill Burns, está na região para ajudar as negociações “neste minuto.” O evento religioso começa na segunda-feira (11).

“Eu nunca desisto disso”, disse Biden, quando perguntado se um cessar-fogo poderia ser alcançado antes do início do mês sagrado muçulmano.

Biden também disse que gostaria de retornar a Israel, mas não deu detalhes sobre a possível viagem.

O ex-primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, disse à CNN na semana passada que Biden deveria passar por cima do atual primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e falar diretamente com o parlamento do país para um avanço maior nas negociações.