Os corpos das vítimas do trágico acidente na BR-376 em Guaratuba (PR), deixaram Curitiba na tarde de terça-feira em um voo da Força Aérea Brasileira (FAB). O avião chegou em Pelotas (RS) por volta das 17h10.
Os caixões foram colocados em caminhões e blindados do Exército e partiram até o local do velório. Viaturas da Brigada Militar, Polícia Civil, Polícia Federal e caminhões do Corpo de Bombeiros acompanharam o cortejo.
Com os caixões fechados, medalhas, fotos e flores simbolizaram cada uma das nove vítimas do acidente durante o velório coletivo realizado no município do sul gaúcho. A cerimônia, que começou às 18h30 desta terça-feira (22), seguiu durante a madrugada desta quarta (23).
As medalhas conquistadas pelos atletas foram encontradas no local do acidente. Elas foram recolhidas e levadas no avião da FAB que transportou os corpos até Pelotas.
Cerca de mil pessoas acompanharam a despedida dos sete atletas, com idades entre 15 e 20 anos, do professor de remo e do motorista da van que transportava a equipe.
Os enterros devem ocorrer em horários e locais diferentes, com a definição feita por cada uma das famílias das vítimas. Não há previsão de um enterro coletivo, ao contrário do que ocorreu no velório.
Investigação do acidente
O acidente ocorreu após uma carreta contêiner, carregada com 30 toneladas de peças de ferro, tombar sobre a van que transportava a equipe de remo. Em depoimento à polícia, o motorista do caminhão, Nicollas Otilio de Lima Pinto, de 39 anos, disse que o veículo apresentou problemas ao longo da viagem e passou pelas mãos de um mecânico duas vezes no dia do acidente.
O motorista, de 39 anos, prestou depoimento ontem (22), por chamada de vídeo, conforme o delegado responsável pelas investigações, Edgar Santana.
À polícia, o motorista da carreta afirmou que saiu de Santos, em São Paulo, e ia levar a carga de de ferro para a Argentina. No entanto, no sábado (19), enquanto passava pelo Paraná, a carreta começou a apresentar problemas.
O motorista disse ter parado o veículo assim que notou o problema. Um guincho da concessionária que administra o trecho o levou até um posto em Campina Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba, onde o motorista disse ter acionado o dono da carreta.
No domingo (20), um mecânico consertou o veículo e Nicollas seguiu viagem. Porém, cerca de um quilômetro depois, o mesmo problema voltou a aparecer, afirmou o motorista em depoimento.
Novamente, conforme o relato, a carreta foi guinchada, desta vez para uma base operacional. O mecânico foi chamado de novo, mexeu no veículo e o motorista continuou a viagem.
Segundo o depoimento de Nicollas, ao se aproximar de trecho de serra, a falha reapareceu, momento em que perdeu o controle da carreta e bateu na van que transportava atletas do time de remo.
“Ele tentava engatar as marchas e algumas marchas terminaram não se encaixando. A partir daí ocorreu a perda do controle do veículo, um excesso de velocidade e, na sequência, um impacto na traseira da van”, detalhou o delegado.
Conforme o delegado, o mecânico que mexeu no veículo será intimado para prestar depoimentos. A polícia aguarda o resultado de laudos para verificar se a causa do acidente foi, de fato, problema mecânico.
Dono da carreta também foi ouvido
De acordo com o delegado, o proprietário da carreta também prestou depoimento. Ele afirmou que contratou Nicollas de maneira informal e que foi a primeira viagem do motorista faria em favor do proprietário.
À polícia, o proprietário disse que todo problema mecânico era reportado a ele, que tomava as providências de procurar um mecânico, o que confirma a versão apresentada por Nicollas.
Apesar de ter sido a primeira vez que o motorista fazia uma viagem para o proprietário desta carreta, o delegado informou que, no depoimento, Nicollas esclareceu que em março tirou a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) da categoria E, que permite que o condutor dirija veículos automotores de todos os tipos.
Segundo o relato do delegado, o motorista detalhou que já tinha habilitação para dirigir veículos de transporte de carga anteriormente e que trabalhou com eles em outras empresas.
Motorista também é de Pelotas, cidade das vítimas
O advogado Richard Noguera representa o motorista e afirma que Nicollas Otilio de Lima Pinto é morador de Pelotas, cidade das vítimas.
“Ele está profundamente comovido, abalado. Ele é de Pelotas também, é da terra dos meninos, então ele está transtornado, abalado, chora em todo momento, está muito fragilizado com essa tragédia. Notadamente, pela narrativa e pela dinâmica dos fatos, se percebe que realmente foi um acidente”, afirma o advogado.
Conforme o delegado Edgar Santana, ao longo do depoimento, o motorista chorou e demonstrou estar abalado com o acidente.