Está na memória e na boca do povo: lá se vão quase 40 anos desde que o mesmo toque passou a ser ouvido por todo brasileiro nas chamadas a cobrar. Era um tempo em que os orelhões ainda eram muito usados.
E, como toda música, essa também tem um autor: e ele é paranaense, de Curitiba.
Em 1987, Carlos Roberto de Oliveira Freitas, baterista, criou uma melodia marcante para ligações a cobrar, a pedido de um amigo, então líder de marketing da extinta Telepar. Usando um sintetizador, ele elaborou três versões e escolheu a que viria a ser adotada por diversas operadoras, tocada antes da mensagem “Chamada a cobrar. Para aceitá-la, continue na linha após a identificação”.
Anos depois, em 1990, ao receber uma ligação de um contato do Maranhão, Carlos Roberto descobriu que sua criação era conhecida em todo o Brasil – a ponto de inspirar paródias populares, como “Tem pobre ligando pra mim”. Mesmo tendo o nome associado informalmente à melodia, ele nunca recebeu qualquer remuneração.
Incentivado pela família, o compositor registrou a obra na Escola de Música da UFRJ e moveu ações judiciais para obter o reconhecimento formal. Embora tenha sido reconhecido como o autor da canção, os processos não lhe garantiram direitos patrimoniais, permanecendo sem compensação financeira – mesmo diante de cálculos que, à época, estimavam 39 milhões de ligações diárias, o que, se cobrado um centavo por ligação, representaria uma quantia expressiva.
Carlos Roberto continuou em disputas judiciais por anos, mas sem sucesso. Ele faleceu em 5 de agosto de 2024, aos 77 anos, deixando um legado que, apesar de icônico, nunca lhe proporcionou os benefícios econômicos que merecia.
Em dezembro de 2024, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu a favor das empresas, negando seu pedido. Segundo a família, o processo ainda não foi encerrado, e há ainda prazo para a apresentação de recurso.