Kelly Lisiane Muller e seu marido, Fabio Wilkes foram a Kiev – capital da Ucrânia – buscar a filha recém-nascida, Mikaela – gerada em barriga de aluguel – e acabaram presos em meio à guerra.
Kelly, de 39 anos, nasceu no Paraná, porém veio morar em Canoinhas ainda criança. Ela é filha do professor João Rosa Muller, falecido em 2010, vítima de um câncer.
O casal está num bunker da empresa que realizou o processo de fertilização e reprodução humana assistida e não tem como voltar ao Brasil. O local onde estão abrigados é uma sala de 40 metros quadrados, tem apenas um banheiro e nenhum fogão.
No local estão estrangeiros da Itália, Alemanha, Noruega, Turquia e outros do Brasil. Todos que estão no abrigo improvisado foram para Ucrânia para buscar os filhos que foram gerados por reprodução assistida. Apenas nesse abrigo são cerca de dez bebês, dois são de brasileiras.
“Escutamos explosões… É cenário de filme. Quando a minha filha sorri e esqueço que tem uma guerra lá fora. Estamos de mãos atadas, não tem o que fazer com uma bebê recém nascida nos braços”, contou em entrevista à CNN Brasil.
Kelly e o marido estão juntos há mais oito anos e depois de várias tentativas de engravidar, resolveram procurar uma clínica especializada em barriga de aluguel na Ucrânia.
O casal chegou ao país no dia 7 de janeiro para acompanhar o nascimento da filha. Há quase dois meses em Kiev, ela conta que não esperava que o conflito pudesse realmente ocorrer, porque nos últimos dias a situação estava mais tranquila.
Kelly e Fábio contaram que registro de nascimento ucraniano ficou pronto na quarta-feira (23), um dia antes da invasão Russa. No dia seguinte, com o espaço aéreo fechado, o casal se viu preso em Kiev, mesmo com a documentação necessária para o passaporte.
Entre o clima de tensão, Kelly se diz não conseguir assimilar os sentimentos. Para passarem o tempo que foi necessário no abrigo, a brasileira e os outros estrangeiros se preparam. Primordial neste momento, o leite foi um dos itens indispensáveis.
Acho que cada um aqui se preparou. Nós temos para alguns dias leite, nós compramos pra voltar para o Brasil, compramos para fazer a transição do leite para o Brasil. Então temos umas caixas a mais, o leite temos para alguns dias”, contou.
Mercados e alguns estabelecimentos ainda estão abertos. A compra de mantimentos ainda é viável, mas Kelly não sabe até quando será.
Enquanto a preocupação de Kelly e Fábio é sair da Ucrânia com sua bebê, outros pais brasileiros que contrataram o tratamento de barriga de aluguel no país se preocupam em como farão para entrar e buscar seus filhos que ainda vão nascer.
BARRIGA DE ALUGUEL
A Ucrânia tornou-se um dos principais destinos de pais e mães em busca de barriga de aluguel devido ao preço atraente – quase metade do valor cobrado em outros países.
O investimento gira em torno de R$ 250 mil, pagos ao longo da gestação, enquanto em outros países esse valor pode mais que dobrar.
Atualmente, mais de 15 casais de estrangeiros vivem momentos de tensão em Kiev – capital da Ucrânia – ao buscarem seus filhos gerados em barrigas de aluguel.