The Wall Street Journal — O ex-presidente Jair Bolsonaro disse, em entrevista ao jornal norte-americano The Wall Street Journal, nesta terça-feira (14), que planeja retornar ao Brasil em março para liderar a oposição política ao presidente esquerdista Luiz Inácio Lula da Silva e se defender das acusações de ter incitado ataques de manifestantes a prédios do governo no mês passado.
“O movimento de direita não está morto e continuará vivo”, disse Bolsonaro em sua primeira entrevista desde que trocou o Brasil pela Flórida no final do ano passado, após uma derrota eleitoral apertada para Lula.
Bolsonaro, que estava na Flórida quando houve a invasão em Brasília, afirmou que é inocente de qualquer irregularidade e que acolheu uma investigação dos eventos de janeiro. “Eu nem estava lá, e eles querem me culpar!” Ele disse estar consternado com a violência, que condenou na época em um post no Twitter. Mas ele disse que era errado dizer que os ataques representavam uma tentativa de derrubar o governo de Lula.
O ex-presidente, de 67 anos, chegou aos Estados Unidos com visto diplomático e está há mais de um mês na Flórida, na casa de amigos. Bolsonaro voou para a Flórida dois dias antes de Lula tomar posse em 1º de janeiro e depois solicitou um visto de turista de seis meses para continuar sua estada nos EUA.
Quanto a sua volta ao Brasil, disse que está ansioso para voltar para casa, mas reconheceu os riscos legais, ponderando risco de prisão. “Uma ordem de prisão pode aparecer do nada”, afirmou Bolsonaro, citando o caso do também ex-presidente Michel Temer, que foi preso em março de 2019, três meses após deixar o mandato.
Na entrevista, Bolsonaro ainda comentou sobre as eleições: “Perder faz parte do processo eleitoral”, disse. “Não estou dizendo que houve fraude, mas o processo foi tendencioso.”
Ao jornal americano, confessou que ficou surpreso com a derrota, dada a forte exibição de seu partido nas disputas estaduais e parlamentares. “O povo estava comigo, o agronegócio estava comigo, a maioria dos evangélicos estava comigo, a indústria estava comigo, os armadores estavam comigo”.
Ele disse que ainda está indeciso se concorreria à presidência novamente, acrescentando que o trabalho foi “muito mais difícil” do que ele imaginava.
Quando voltar ao Brasil, diz que trabalhará com apoiadores no Congresso e nos governos estaduais para promover o que chamou de políticas pró-negócios e combater o aborto, o controle de armas e outras políticas que ele diz serem contrárias aos valores familiares.
Leonardo Barreto, analítico político baseado em Brasília, disse que Bolsonaro ainda é um líder muito popular e pode causar problemas para o governo de Lula se ele lançar um movimento organizado de resistência, mas muito também dependerá das batalhas legais de Bolsonaro e de seu poder de fogo financeiro para combater tantos casos no tribunal.




