A primeira sessão ordinária do ano na Câmara de Vereadores de Bela Vista do Toldo foi marcada por temas, até certo ponto, reveladores sobre a administração municipal. O prefeito Carlinhos Schiessl (MDB) usou a tribuna para passar sua mensagem de início de governo, responder a requerimentos e pedir urgência na votação do projeto de lei que cria novos cargos comissionados.
Contudo, o momento que mais repercutiu foi sua resposta a uma cidadã que questionou, via redes sociais, uma compra de 40 quilos de café realizada pela Prefeitura, destinada ao Gabinete do Prefeito.
O prefeito demonstrou indignação com a crítica, defendendo a aquisição como algo necessário para receber a população que busca atendimento na Prefeitura e na Câmara.
Em sua fala, Schiessl afirmou que “fica triste” ao ver pessoas criticando a compra, reforçando que a Prefeitura realiza pedidos em maior quantidade para evitar compras diárias e que o café é distribuído para atender os cidadãos que procuram os serviços municipais.
“Se nós não pudermos receber um cidadão belavistense e oferecer um cafezinho, um chá, uma água, então nós temos que rasgar o certificado. Pelo amor de Deus“, disse o prefeito.
No entanto, ao justificar a compra, Schiessl alegou que o pedido foi feito via licitação, o que não corresponde à realidade apresentada no Portal da Transparência. Segundo os registros oficiais, a aquisição foi realizada por Compra Direta, sem um processo licitatório, e os documentos fiscais sobre a transação não estão disponíveis para consulta pública.
A cidadã que trouxe a questão à tona reafirmou seu direito de fiscalizar os gastos municipais e questionou não apenas a compra do café, mas também a aquisição de um smartphone de quase R$ 5 mil para o Gabinete do Prefeito.
“Eu sempre entro no Portal da Transparência e sempre postei minha opinião. É um direito meu como cidadã. Eu não disse que ele não podia comprar, eu só achei um absurdo. É dinheiro público, não é do bolso dele. Eu não disse que você não podia dar cafezinho pras suas visitas. Aí colega, eu não disse isso, não. Se você vai distribuir essa quantidade para as repartições, para eles fazerem um cafezinho pro povo, ah, eu acho o máximo, vou aí te dar um abraço. Aí sim“, afirmou a cidadã. Em seguida, questionou a necessidade da compra do smartphone: “Eu achei um absurdo porque os outros prefeitos não compraram. Pra que você precisa de um smartphone novo, colega? Pra fazer vídeo?“.
Outro ponto sensível abordado pelo prefeito foi a criação de 48 vagas para 14 novos cargos comissionados, incluindo um no Gabinete do Prefeito com salário de R$ 4.289, exigindo apenas ensino médio como requisito.
O prefeito defendeu a medida alegando que alguns desses cargos são exigência da Secretaria de Educação e que a mudança não traria impacto financeiro, pois apenas “regulamenta e acerta” o que já existe. A declaração, porém, gera dúvidas: se novos cargos estão sendo criados, como isso não afetará a folha de pagamento do município?
A política é, por natureza, um campo de críticas e fiscalização. Ocupantes de cargos públicos devem estar preparados para questionamentos, principalmente quando se trata do uso de dinheiro público.
O que a população espera do gestor municipal não é apenas a distribuição de cafezinhos, mas sim transparência, planejamento e eficiência na aplicação dos recursos. Diante da situação, a pergunta que fica é: todo cidadão belavistense será de fato recebido com um café quando for à Prefeitura? Ou apenas aqueles que não fazem perguntas incômodas?