A partir de segunda-feira (10), os policiais rodoviários federais de Santa Catarina que atuam no GAECO retornarão às suas unidades de origem. A suspensão da parceria foi determinada pelo Ministério da Justiça.
“Estamos absolutamente perplexos com a suspensão do convênio da Polícia Rodoviária Federal com o Ministério Público de Santa Catarina, em que nós temos policiais rodoviários federais na força-tarefa do GAECO. A partir desse momento, infelizmente, o combate à criminalidade organizada em Santa Catarina será fragilizado, como aos assaltos a bancos, ao tráfico de entorpecentes e às facções criminosas. Também em relação ao combate aos crimes praticados contra a administração pública, como a Operação Mensageiro e tantas outras”, declarou o Procurador-Geral de Justiça Fábio de Souza Trajano.
A medida foi motivada por uma portaria do Ministério da Justiça que limita a participação da PRF em operações fora das rodovias federais.
Na reunião com o Superintendente da PRF em Santa Catarina, Trajano sinalizou, ainda, que já está tratando com o Conselho Nacional de Procuradores Gerais (CNPG) e com o Grupo Nacional de Combate às Organizações Criminosas (GNCOC) para que o cancelamento da parceria seja revisto e as investigações e trabalhos em andamento não sejam prejudicados.
“Temos uma expectativa muito positiva de que o senhor Ministro da Justiça reveja esse posicionamento e permita que em Santa Catarina nós possamos continuar com essa força-tarefa, que tem dado resultados tão positivos à sociedade. Nós precisamos de união e não de divisão”, complementou o Procurador, que no final da tarde de quinta-feira contatou o Coordenador do Fórum Parlamentar Catarinense no Congresso Nacional, Valdir Covalchini, a fim de buscar apoio dos parlamentares do Estado para reverter a situação.
OPERAÇÕES EM PARCERIA COM A PRF
A parceria do GAECO com a PRF resultou nos últimos anos em operações que contribuíram significativamente para o combate ao crime organizado em Santa Catarina, entre as quais se destacam as seguintes:
- Operação Mensageiro: a maior operação de combate à corrupção, resultando na prisão de diversos servidores públicos e empresários. A PRF teve participação importante, com a identificação de pessoas e veículos envolvidos nos crimes.
- Roubo de ônibus de turismo e bancos: uma organização criminosa que atuava há mais de 30 anos foi desmantelada em parceira com a PRF, resultando na prisão de envolvidos e na apreensão de armas e munições.
- Roubo ao Banco do Brasil em Criciúma: um assalto de grandes proporções no estilo “novo cangaço” foi solucionado com a identificação de pessoas e veículos, com ajuda fundamental da PRF.
- Operação 60 Segundos: uma organização criminosa que realizava furtos de caminhonetes no Vale do Itajaí foi desarticulada com ajuda da PRF.
- Operação ABRA: uma associação criminosa que roubava veículo no Rio Grande do Sul e os trazia para desmonte e venda de peças em Santa Catarina foi desmantelada graças à expertise da PRF.
- Operação Rota 600: a partir da apreensão de 600 quilos de maconha pela PRF, foram identificados outros veículos e pessoas da organização criminosa, resultando na apreensão de mais de seis toneladas de drogas.
Sem a parceria com a PRF, operações como essas não teriam ocorrido e a partir de agora o combate ao crime organizado poderá ser impactado em Santa Catarina, com prejuízos à sociedade e às próprias instituições que fazem parte da força-tarefa.
O GAECO é integrado pelo Ministério Público, Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Penal, Receita Estadual e Corpo de Bombeiros Militar, e tem como finalidade a identificação, prevenção e repressão às organizações criminosas.
REPERCUSSÃO
Especialista em combate a organizações criminosas fala em retrocesso
Uma das maiores autoridades no combate a organizações criminosas no Brasil, o Promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do GAECO de São Paulo, disse em uma entrevista recente que a medida é um retrocesso. “Estamos num momento em que se fala no mundo inteiro de integração e de cooperação, não só entre os países, mas entre estados e entre as policiais.
Me parece que a retirada da PRF dessas forças, como os GAECOs no Brasil inteiro, vem na contramão. É um retrocesso. Precisamos de integração e cooperação entre as instituições”, declarou Gakiya.