Por mais que os ventos da legalidade soprem em direção à transparência, em Bela Vista do Toldo, eles parecem encontrar fortes barreiras – ou, no mínimo, um redemoinho de incoerências e irregularidades.
Mais uma polêmica sacudiu a pequena cidade, desta vez envolvendo dois processos seletivos lançados pela prefeitura para preencher pelo menos 58 vagas no serviço público municipal. Só que a confusão começou já no primeiro parágrafo dos editais.
De um lado, o edital 006/2025 fala em emprego público, regido pela CLT. Do outro, o 007/2025 trata de cargos estatutários, ou seja, vínculos com o Estado – o que, por lei, exigiria a realização de concurso público, e não um mero processo seletivo simplificado. Detalhe que passa batido por muita gente, mas que muda toda a natureza do ingresso no serviço público.
E mais: tudo isso organizado por uma comissão formada por aliados nomeados pelo prefeito, sem qualquer vestígio de isenção técnica.
Segundo os próprios documentos, a comissão responsável pela elaboração e aplicação das provas é composta por um motorista, uma técnica de enfermagem, um assistente administrativo, a secretária de educação e o diretor de comunicação (este último comissionado, e não servidor de carreira).
Que formação técnica essa equipe tem para organizar um processo tão sensível? Eis a primeira de muitas perguntas sem resposta.
Falando em incoerências, não se pode deixar de mencionar o Projeto de Lei 005/2025, enviado pelo prefeito à Câmara, pedindo autorização para criar 48 cargos nas áreas da Educação e Saúde, mais um cargo comissionado com salário de R$ 4.200,00.
Curiosamente, os editais para os processos seletivos não correspondem aos cargos do projeto de lei. Cadê as vagas para Monitor de Educação Especial? Onde foram parar os Pedagogos e Professores Oficineiros mencionados no projeto? Se esses cargos foram mesmo criados, a quem foram entregues?
E como se não bastasse a bagunça administrativa, a aplicação das provas foi um capítulo à parte.
No dia 22 de março, candidatos denunciaram envelopes abertos e provas com respostas já marcadas. Resultado: duas provas foram canceladas – para os cargos de Assistente Administrativo e Assistente Social – e remarcadas para este sábado, dia 12.
O problema é que o próprio edital afirma que “não será permitida, em hipótese alguma, a realização das provas em outro dia”. Ou seja, a prefeitura descumpriu sua própria regra.
Nas redes sociais, a indignação ganhou voz. Um internauta resumiu o sentimento geral: “Todos os capachos, secretários e cargos comissionados estavam lá! As provas deveriam ser aplicadas por professores, não por gente do círculo do prefeito. Isso tá cheirando a falcatrua!”.
Para completar o circo, após divulgar o resultado final, homologar e convocar os aprovados, a prefeitura cancelou tudo quatro dias depois e soltou um novo edital “corrigido”. Um verdadeiro festival de erros – inclusive de português.
Expressões como “dos proceso selteivo” constam nos documentos oficiais. Não, não é erro desta coluna. É exatamente assim que está escrito nos papéis da prefeitura.
E o que diz a Câmara de Vereadores diante de tudo isso? Silêncio. Conivência. Inércia. Nenhum requerimento formal, nenhuma investigação. Um único vereador fez um breve comentário verbal na sessão, pedindo “esclarecimentos”. E ficou por isso mesmo.
A reportagem do Canoinhas Online tentou ouvir os parlamentares, mas todos disseram “desconhecer os fatos”. A Secretária de Educação, que faz parte da comissão do processo seletivo, não atendeu às ligações. A assessoria do prefeito, idem.
Também ignorou perguntas sobre a outra polêmica, envolvendo o prefeito e um policial militar, que inclusive já resultou em inquérito e investigação pela Polícia Civil.
Diante de tanta bagunça, o que resta é aguardar o desfecho – que pode vir pelas mãos do Ministério Público, para onde, dizem, já foi enviada uma denúncia formal. Informação que ainda carece de confirmação, mas que parece o caminho natural diante de tamanha nebulosidade.
Em Bela Vista do Toldo, o que deveria ser um processo técnico, sério e transparente virou mais um caso para a coleção do prefeito. E o povo? Mais uma vez assiste indignado à velha política em cena.
O espaço segue aberto para manifestações.