A senha do bolsonarismo: quem prometer indulto leva o apoio na corrida presidencial

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O recado da família Bolsonaro é direto e sem rodeios. O candidato vai ter que ter comprometimento com a pauta do indulto.

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A disputa pela cabeça de chapa da direita para 2026 já começou — e não é nos palanques, mas nos bastidores.

Pré-candidatos à Presidência da República ligados ao campo conservador estão se movimentando para conquistar o apoio de Jair Bolsonaro, hoje inelegível, mas ainda a figura mais influente da direita brasileira. E a promessa de um indulto ao ex-presidente tornou-se, mais do que um gesto político, uma espécie de senha de entrada no bolsonarismo.

O apoio da base bolsonarista não virá por simpatia, mas por comprometimento concreto. E para boa parte desse eleitorado, o perdão judicial a Bolsonaro e seus aliados é condição mínima para se engajar na campanha de qualquer sucessor.

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), foi o primeiro a dar o passo. Desde fevereiro deste ano, vem vocalizando sua defesa da anistia a Bolsonaro e aos condenados pelos atos de 8 de janeiro. “Precisamos acalmar o país”, justifica.

Sua fala, repetida em diferentes ocasiões, tenta embutir o discurso de pacificação nacional com a reabilitação política do ex-presidente — um equilíbrio delicado entre a legalidade e a fidelidade ideológica.

Entre os nomes mais fortes, pelo menos até o momento, está o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Ex-ministro da Infraestrutura e figura de confiança do ex-presidente, Tarcísio já aparece em pesquisas empatado tecnicamente com Lula em um eventual segundo turno.

Sua possível chapa com Michelle Bolsonaro como vice circula nos corredores do poder como a fórmula ideal: carrega tanto a experiência técnica quanto o carisma evangélico que mobiliza a base mais fiel do bolsonarismo.

Tarcísio também já manifestou apoio à pauta da anistia, criticando a condenação de manifestantes do 8 de janeiro e questionando a própria inelegibilidade de Bolsonaro. “Qual a razão para afastar Jair Messias Bolsonaro das urnas?”, disparou, colocando-se claramente no campo dos que consideram a decisão judicial um ato político.

Menos popular nas pesquisas, o governador Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, também entrou no jogo. Sua fala sobre a anistia é, talvez, a mais simbólica. Ao defender uma cabeleireira condenada por pichar uma estátua com batom, Zema apela para o senso comum, tentando aproximar-se do eleitor que vê exagero nas punições do 8 de janeiro.

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Flávio Bolsonaro deixa claro o preço do apoio

O recado da família Bolsonaro é direto e sem rodeios. “O candidato vai ter que ter comprometimento com a pauta do indulto”, disse o senador Flávio Bolsonaro. Não é uma sugestão, é uma exigência. Para que qualquer nome herde o espólio político do pai, será preciso garantir não apenas continuidade ideológica, mas também proteção judicial. “Vai ter que ser alguém na Presidência que tenha o comprometimento, não sei de que forma, de que isso (o indulto) seja cumprido”, afirmou o senador.

O que está em jogo

Essa antecipação da corrida presidencial mostra como o bolsonarismo, mesmo sem Bolsonaro na urna, ainda ditará as regras do jogo à direita.

O indulto, longe de ser apenas uma medida jurídica, transformou-se em moeda política de alto valor. Quem oferecer a garantia do perdão, leva o selo da fidelidade. E quem não o fizer, dificilmente conseguirá quebrar o bloqueio da base bolsonarista.

Com o PT no Planalto e Lula elegível, a direita busca não só um nome viável eleitoralmente, mas alguém capaz de unificar o campo conservador e sustentar a narrativa de que o ex-presidente foi vítima de perseguição política.

Em 2026, não será apenas um projeto de país que estará em disputa — será também a reabilitação simbólica de um ex-líder cuja sombra ainda domina o tabuleiro.