Em depoimento prestado à CPI da Pandemia nesta quarta-feira (29), o empresário Luciano Hang reconheceu que sua mãe, Regina Hang, recebeu tratamento com medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19.
Antes disso, ele havia alegado, em vídeo, que sua mãe não teria falecido se tivesse recebido esse tipo de tratamento. A mãe do empresário morreu em fevereiro, em um hospital da Prevent Senior — empresa que enfrenta várias acusações, entre elas a de induzir médicos a prescrever esses medicamentos.
Ao ser questionado sobre o motivo da ausência de citação à covid-19 no atestado de óbito de sua mãe, Hang atribuiu a omissão a um “erro do plantonista”.
Kit Covid
Parte da inquirição do relator da CPI, Renan Calheiros, foi centrada sobre as declarações públicas de Hang a respeito da morte da mãe do empresário.
Ela faleceu em um hospital que pertence à Prevent Senior, empresa de planos de saúde para idosos que está sendo investigada por incentivo ao tratamento com o chamado “kit Covid”, que inclui hidroxicloroquina, ivermectina e outros medicamentos cuja eficácia contra a covid-19 não foi cientificamente comprovada.
Os parlamentares que criticam o empresário suspeitam que ele omitiu essa informação para não prejudicar a promoção desses medicamentos.
Em vídeo publicado por Hang em suas redes sociais e exibido pela CPI, o empresário afirmava que a mãe poderia ter sido salva se tivesse feito “tratamento preventivo”.
No entanto, o prontuário do hospital informa que ela recebeu os medicamentos do kit covid antes, informação que ele omitiu nesse vídeo. Ao se justificar, o empresário alegou que ela tomou as medicações como “tratamento precoce”, administradas após os primeiros sintomas da doença, e não como “tratamento preventivo”, antes da infecção pelo coronavírus.
Além disso, Hang atribuiu a um “erro do plantonista” a omissão da covid-19 no atestado de óbito da mãe. O depoente afirmou que, até a CPI revelar a informação, ele ignorava que a covid-19 não figurava como causa mortis dela. Porém, o presidente da CPI, Omar Aziz, apontou contradição no depoimento do empresário, pois em uma reportagem, em abril, ele já havia falado sobre o atestado de óbito de sua mãe.
Hang acusou a CPI de desrespeito à memória da mãe por divulgar detalhes desse prontuário médico. O presidente da CPI negou que tenha havido desrespeito:
“Esta CPI, eu pessoalmente, e muitos senadores aqui nunca usaram o nome da sua genitora politicamente. A primeira pessoa a falar que, se tivesse dado os medicamentos, ela poderia ter se salvado, foi o senhor”, relembrou Omar Aziz.
Luciano Hang também negou que seja “negacionista” e disse ser favorável à vacinação, mas, ao responder a uma pergunta da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), declarou que não se vacinou contra a covid-19 porque possui “um índice de anticorpos altíssimo”.
Foram exibidos vídeos, publicados por Hang nas redes sociais, em que o empresário questionava as medidas de distanciamento social, defendia a compra de vacinas por empresas privadas e colocava em dúvida o número de mortos pela pandemia.
A inquirição do relator Renan Calheiros ocupou as cinco primeiras horas da reunião, restando pouco tempo para os demais inscritos. Senadores que defendem o governo, como Jorginho Mello e Eduardo Girão, chegaram a pedir que o depoente voltasse a ser inquirido nesta quinta-feira (30), mas Omar Aziz indeferiu o pedido.