O padrasto de um jovem autista encontrado morto com sinais de maus-tratos em Ponta Grossa, no sul do Paraná, afirmou em depoimento à Polícia Civil que “às vezes era necessário colocar um pano” na boca do menino “por causa dos gritos dele”. As informações são da RPC e g1/PR.
“Às vezes era necessário colocar um pano porque ele estava incomodando muito por causa dos gritos dele”, afirmou.
O homem foi preso no dia do crime e indiciado por homicídio triplamente qualificado, tortura e cárcere privado, assim como a mãe da vítima. Rômulo Luiz Fernandes Borges, de 19 anos, foi encontrado morto dentro de casa com sinais de violência.

Ainda no depoimento, o homem afirmou que tem um relacionamento com a mãe do jovem há quatro anos e que os dois “tentaram de tudo” para o jovem.
“Eu e a mãe dele a gente corria direto com ele, para cima e para baixo. E os órgãos públicos que podiam ajudar a gente não ajudavam. A gente não tinha mais o que fazer com ele, sabe? Ele estava tendo muita convulsão, muito ataque, caía, tinha ataque, caía, judiação da mãe dele, judiação de mim e das crianças”, disse ainda.
Segundo o delegado, as investigações apontam que foram agressões do padrasto causaram a morte de Rômulo.
Além disso, o inquérito da Polícia Civil afirma que na residência haviam dois quartos que não eram usados, porém o menino era mantido amarrado e amordaçado dentro de um banheiro desativado com mofo e sem iluminação da residência e que sofria maus-tratos desde 2018.
Na residência polícia não encontrou fotos, roupas, material escolar e nenhum outro pertence de Rômulo. À polícia, vizinhos relataram o casal morava há cerca de dois meses na casa onde Rômulo foi encontrado morto, mas que não sabiam da existência dele, apenas de outros dois filhos do casal.
Os professores de Romulo afirmaram que o jovem frequentou normalmente a escola entre os seis e os 15 anos, indo todos os dias. Disseram ainda que a mãe era participativa e que a vítima era calma.
Contudo, em 2018, os profissionais perceberam uma mudança nele. O período foi quando a mãe iniciou o relacionamento com o padrasto, segundo as testemunhas.
Elas relataram que Rômulo começou a chegar com o olho roxo e sinais de cinta pelo corpo, machucado como se tivesse apanhado. Além disso, ele mudou o comportamento, antes calmo.
Depoimento da mãe
A mãe do jovem também prestou depoimento à Polícia Civil. Ela chegou a ser presa, mas foi liberada por ter outros dois filhos pequenos, de um e três anos.
Ao delegado, a mulher afirmou que os machucados de Rômulo eram por conta de tombos que o menino levava.
“Então, o machucado é por conta desses tombos. A gente tenta conter ele para não se machucar, não é agressão, né?”, afirmou.
Ela também definiu o menino como “louco”.
“Se você olhasse para ele, você não falava que era autista. Ele era louco. Eu falava ‘vamos ter que internar’, porque ele não parava quieto, ele saía correndo, ele grita, ele não, ele não para”, disse a mãe.
Ligação para o Samu e mudança no local do crime
Segundo o delegado Luiz Gustavo Timossi, as provas coletadas indicam que o padrasto agrediu com violência Rômulo, resultando na morte do jovem, e que o local do crime foi alterado antes da chegada do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu).
As investigações ainda apontaram que no momento da ligação para os socorristas, o menino já estava morto.
De acordo com o delegado, o padrasto afirmou no dia do crime que a vítima tinha tido uma crise de convulsão e que ele iniciou uma massagem cardíaca no jovem, ligando para a mãe sem interromper o procedimento.
Imagens de uma câmera de segurança da casa em frente, conforme a polícia, desmentem a afirmação pois mostram que no horário em que o padrasto afirmou estar fazendo massagem ele estava, na verdade, no telefone do lado de fora casa.
A Polícia Civil também identificou contradições no depoimento da mãe e do padrasto no dia do crime.
Apesar do indiciamento, o inquérito não foi concluído pois um novo prazo foi solicitado para outras etapas da investigação, como reconstituição do crime.















