Parlamentares criticaram na sessão desta quarta-feira (20), na Assembleia Legislativa, o uso de aeronave ambulância Arcanjo 6, do Corpo de Bombeiros Militar, por autoridades para campanha política na noite da última segunda-feira (18).
O deputado Jessé Lopes (PL) falou da agressão de um casal de cuidadores a uma criança de três meses em Caçador.
A criança deu entrada na emergência com várias lesões corporais e cerebrais e em quadro de parada cardiorrespiratória, mas na noite precisou ser transportada para Florianópolis e, como não havia avião disponível, teve que ser transferida por ambulância, percorrendo mais de 400 quilômetros e seis horas de viagem. “O avião estava em Caçador, mas não poderia ser utilizado porque estava sendo utilizado pelo imperador, o governador Carlos Moisés, mais uma vez utilizando o avião para fazer politicagem,” criticou o deputado.
Já o deputado Bruno Souza (Novo) disse que o avião estava sendo utilizado para campanha eleitoral.
“O avião estava sendo usado para um projeto de reeleição de um governador que esqueceu sua missão de bombeiro, que é de salvar vidas.”
Esta é a quarta vez, somente este ano, que Carlos Moisés se justifica pelo uso da aeronave (veja mais abaixo).
Governo desmente uso político da aeronave
Em nota, também nesta quarta (20), o Governo de SC classificou a afirmação de dois deputados estaduais, durante a sessão da ALESC como fake news.
Conforme a nota, o coordenador médico do Grupo de Resposta Aérea de Urgência, Bruno Barros, não recebeu nenhuma solicitação para transporte aéreo de bebê.
Veja a nota na íntegra:
“Fake news: É falso que criança agredida em Caçador foi transportada para Florianópolis de ambulância porque aeronave estaria em uso.
É falsa a afirmação proferida por dois deputados estaduais, durante sessão na Assembleia Legislativa, nesta quarta-feira, 20, segundo a qual um bebê de três meses de idade, vítima de espancamento na cidade de Caçador, foi transferido de ambulância para Florianópolis porque o avião Arcanjo 6 estaria em uso pelo governador.
O governo do Estado lamenta e repudia a exploração política irresponsável de dramas humanos por alguns parlamentares.
De acordo com Bruno Barros, coordenador médico do Grupo de Resposta Aérea de Urgência (GRAU), além de não ter chegado nenhuma solicitação para transporte aéreo do bebê, a gravidade do caso não permitiria esta opção.
“As aeronaves são preparadas para o transporte de pacientes em situação grave, mas com quadros estáveis. Elas não possuem configuração para atendimentos emergenciais como era a situação do bebê”, frisa Barros.
O coordenador médico ressalta ainda que durante o transporte da vítima pela Ambulância de Suporte Avançado (USA), o bebê sofreu três paradas cardiorrespiratórias e teve a chance de ser reanimado, manobra que não poderia ser feita dentro do avião, por exemplo. O bebê chegou com vida ao Hospital Infantil Joana de Gusmão”.
NÃO É A PRIMEIRA VEZ
São recorrentes os pedidos da Casa Civil do Estado para uso da aeronave, o que não corresponde com a finalidade da contratação do avião. A utilização do veículo, prevista tanto no edital como no contrato de locação do serviço, é para “operações de busca, resgate, salvamento, transportes de órgãos vitais, ações de Defesa Civil e apoio a órgãos públicos e dignitários”.
A primeira denúncia, sobre o uso do Arcanjo, envolveu um bebê que precisava de transporte. O tema teria chegado através de comentário da mãe da criança em uma publicação feita em rede social, em 12 de janeiro deste ano. Segundo o relato, o bebê teria esperado oito dias pela transferência de Lages a Joinville.
A transferência aconteceu, mas a criança, vítima de cardiopatia, não sobreviveu. A aeronave estaria a disposição do governador para agendas oficiais.
Outra história, também envolvendo um bebê, apontava que foi negado o transporte de um bebê de Caçador para o Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis, no dia 8 de março, porque um avião estava em manutenção e o outro – o Arcanjo 6 – estava à disposição do governador para roteiros em Joinville e Brasília.
Outro registro que chamou a atenção foi a viagem do governador Carlos Moisés e sua família para Bonito, no Mato Grosso do Sul, uma das principais cidades turísticas do País. A viagem foi realizada no dia 20 de janeiro deste ano, utilizando a aeronave Arcanjo 6.
Para todas as situações, o Governo do Estado emitiu nota, justificando-se. No caso da viagem à Bonito, o Governo frisou que “não há qualquer irregularidade no uso porque a lei prevê que a aeronave pode ser compartilhada”.
“O uso da estrutura colocada à disposição do chefe do executivo está amparado em lei e não há qualquer irregularidade nem tampouco ilegalidade. Já foi esclarecido que o contrato de uso compartilhado das aeronaves do Batalhão de Operações Aéreas (BOA) prevê que, quando disponíveis, podem transportar autoridades, mediante demanda da Casa Militar ou da Casa Civil.,” diz a nota.
Em todas as acusações, de uso irregular do avião-ambulância, o Governo de SC tinha a resposta na ponta da língua: são fake news.