A fome não espera! Na última terça-feira (2) o apelo de um menino de 11 anos comoveu todo o Brasil. O pequeno Miguel Barros ligou para o 190 e pediu ajuda à Polícia Militar porque estava passando fome. Contou que a família só tinha fubá com água para comer.
O pedido de socorro vinha de Santa Luzia, município na Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG).
A ligação, que é gravada pela Polícia Militar, registrou toda a conversa da criança com a central de emergência. O vídeo, compartilhado na web, mostrava a angústia do garoto: “Minha mãe estava chorando no canto, eu pedi o telefone e liguei”, disse o garoto à policial que a atendeu (veja print abaixo).
O pedido chamou a atenção dos policiais que foram verificar pessoalmente o que estava acontecendo, e constataram que não se tratava de abandono de incapaz ou caso de maus-tratos.
“A guarnição ficou bastante comovida ouvindo os relatos das crianças, que há quatro dias estavam se alimentando apenas com água e fubá”, afirmou o tenente Nilmar Moreira. “Há 24 anos na Polícia Militar, eu nunca me deparei com uma situação dessa. Realmente, nós ficamos todos comovidos, motivo pelo qual iniciamos contatos para tentar ajudar a família”, conta o tenente.
Miguel decidiu sozinho fazer a ligação, depois de ter visto a mãe chorar. É que os irmãos mais novos estavam reclamando de fome e a dona Célia, mãe de seis filhos, não tinha com que alimentá-los.
Dona Célia trabalhava como segurança civil, mas desde que a pandemia começou, não conseguiu mais emprego. A família sobrevive com o dinheiro de programas sociais.
“Eu só tinha fubá e farinha. Já tinha uns quatro dias que a gente estava assim. E que já tinha acabado as coisas, já tinha mais de 20 dias”, contou a mãe do menino.
Depois que o áudio do Miguel viralizou na internet, tocou o coração de tanta gente, e pessoas de várias partes do Brasil começaram a mandar ajuda.
A solidariedade iniciou com a equipe dos militares. Na quarta-feira (3), a corrente do bem ganhou as ruas da comunidade.
Agora Miguel olha tranquilo e cheio de esperança para o armário da cozinha. A despensa ficou cheia, como não acontecia há algum tempo. Nesta quinta-feira (4), o almoço da família foi feijão, arroz e linguiça. As crianças também ganharam brinquedos.
O pouco vale muito
Célia contou que a renda da família – formada por ela e mais seis filhos – é o Auxílio Brasil. “Eu vivo de auxílio emergencial, e o pai manda R$ 250, mas não é todo mês que manda”, disse.
A dona de casa, de 46 anos, chegou a trabalhar como segurança civil, mas, com a pandemia as chances diminuíram e as dificuldades só aumentaram. Conta que não quer mais ver os filhos passando necessidade e só gostaria de ter uma oportunidade para voltar a trabalhar dignamente.
Ela disse que ajuda é importante e não importa o tamanho. “O pouco vale muito para quem tem fome”.
A polícia vai continuar ajudando a família e disse que quem puder contribuir com cestas básicas e outras doações pode entrar em contato com o Batalhão de PM de Belo Horizonte.