Patrolamento, colocação de material em estradas do interior e manutenção é um assunto recorrente na Câmara de Canoinhas. E o tema voltou de uma forma intensa na sessão desta terça-feira (13).
Agricultores, representando a cultura do fumo no município, utilizaram a tribuna para reivindicar estradas em boas condições. Giovane Glevinski, da localidade da Serra das Mortes, e Gildo Stoker, fumicultor do Salto d’Água Verde, ‘provocaram’ os vereadores sobre o Projeto de Lei do Executivo sobre o polêmico empréstimo de R$ 30 milhões (destinado, em parte, para compra de máquinários para a Secretaria de Obras).
Stoker questionou em que o município auxilia o produtor de fumo. “O básico do básico são ruas, é nossa estrada”, disse ele, que em seguida comentou sobre o projeto do Executivo:
“Nobres vereadores, esse projeto não foi arquivado, só foi guardado. Com a compra de caçambas e máquinas, quem seriam as pessoas mais atendidas? Seria nosso meio rural. Com o perdão da palavra, mas às vezes a guerra política dentro da Câmara de Vereadores não impede certos andamentos no nosso município? [… ] Tenho certeza que todos que estão aqui receberam um voto de um plantador de fumo, assim como muitos receberam vários”.
E CADÊ A SOLUÇÃO?
O agricultor questionou qual então a sugestão dos vereadores para resolver o problema das estradas, já que o projeto para compra de maquinário foi retirado da urgência.
“Nós vivemos num município em que estamos todos no mesmo barco. Nós precisamos se ajudar. Não estamos pedindo pra vocês irem plantar fumo pra nós. Depositamos o nosso voto em vocês. Queremos um pouco de apoio, de retorno”, disse ele, lembrando que o produtor rural gasta seu dinheiro na cidade. E não é pouco.
Somente a cultura do fumo em Canoinhas, na safra 2022/2023, rendeu cerca de R$ 156 milhões. Reunindo todas as outras culturas (como soja e milho), o valor chega a R$ 500 milhões no ano.
“Esse dinheiro foi injetado na economia local, circulando no comércio e movimentando pequenas empresas e indústrias. Somente no município de Canoinhas cerca de 2.560 famílias trabalham com o tabaco. Isso envolve diretamente mais de 10 mil pessoas das quais muitas delas votaram nos senhores”, lembrou o fumicultor, pedindo que dêem o valor que o agricultor necessita e que repensem com atenção sobre o projeto de Lei que autoriza a prefeitura a realizar o empréstimo.
MAIS DO MESMO
Alguns vereadores se manifestaram sobre o assunto e levantaram a questão dos juros a serem pagos e de dívidas que o município já tem.
O vereador Maurício Zimmermann, que também trabalha na cultura do fumo, disse que a questão das estradas não é questão específica deste governo que está hoje. “Muita coisa que aconteceu no passado, muitos dos senhores também não sabiam. Quanto a questão dos 30 milhões a gente sabe que sem investimento não avança”, admitiu ele.
Adilson Steidel, bem humorado, foi mais além, lembrando que ‘encalhou muito” nas estradas do interior quando fazia entrega de compras: “Então não é só nesse governo da Juliana Maciel. No outro governo era muito pior. E eu só queria refrescar a memórias dos meus colegas aqui, e dizer que tá sendo pago R$ 6 milhões por ano, de conta do ex-prefeito Leoberto, do Beto Faria e do Beto Passo (somados juntos). E os precatórios? Sobrou pra Juliana pagar, mas quem sabe os nossos amigos que saqueram o munícipio, nosso prefeito e vice que tão presos, resolvam devolver um bom dinheiro e talvez dê para sanar todos esses problemas”, concluiu.
Já Gil Baiano, que falou bastante mas não concluiu metade de suas frases, diz que não é por falta de máquinas, tá faltando gestão. Segundo ele, maquinário tem, o que falta é gente para operar, e sugeriu que a prefeitura abrisse concurso público. “Tão entendendo a lógica”, perguntou ele. Difícil é saber se ele mesmo estava se entendendo.
EXAGERADO
Empolgado mesmo estava o vereador Vilmar Sudoski, que deu a entender não achar necessário a compra de máquinas para serem usadas na infraestrutura do município. Segundo ele, tem que se virar com o que tem, fazendo uma analogia, um tanto exagerada, consigo mesmo: “Eu queria comprar uma caminhonete SW4 que custa R$ 400 milhões. Mas tem que pagar né?”
Mais coesos estavam Zenilda Lemos e André Flenik. Ambos defenderam a importância de investir na área rural, na manutençao das estradas, nas pessoas que produzem e geram desenvovimento pra nosso municipio.
Zenilda afirmou que o projeto não foi engavetado e precisa voltar a discussão. Criar alternativas. Comprar maquinário e mudar a garagem da Secretaria de Obras que hoje está o Parque de Exposições: “Lá não é lugar, disse. Nós precisamos discutir e propor soluções. O que não dá é para ficar como está”.
André Flenik pediu uma Audiência Pública para debater o assunto, com a presença dos agricultores: ‘Se não temos os R$30 milhões temos que apresentar uma solução”.
O POLÊMICO PROJETO
Conforme já explanado pela prefeitura municipal, caso a operação de crédito seja contratada, ela terá garantia da União. Isto significa que, no empréstimo pleiteado, em caso de inadimplência, a União será a responsável pelo ressarcimento ao respectivo credor, neste caso, o Banco do Brasil.
De acordo com o apresentado, cerca de R$ 15 milhões serão investidos na compra de maquinários para a Secretaria de Obras. Serão adquiridos dez caminhões, quatro patrolas, quatro retroescavadeiras, duas escavadeiras hidráulicas e um britador móvel.
A ideia é criar 7 frentes de trabalho simultâneo, uma para cada localidade/distrito do interior. Para a área urbana, serão 3 frentes.
Desta forma, segundo a prefeita Juliana Maciel, não será mais preciso cronograma para atender uma demanda. Atualmente, para uma área ser atendida, espera-se cerca de 60 dias.
A outra parte será investida em pavimentação asfáltica, revitalização das avenidas Rubens Ribeiro da Silva, Expedicionários, Senador Ivo d’Aquino e Wendelin Metzger e no Centro de Controle de Zoonoses.
No sumário já apresentado aos vereadores, foi mostrado o impacto do custo anual aos cofres públicos na manutenção e contratação de serviço de terceiros, em maquinário para a Secretaria de Obras. O valor passa de R$ 4 milhões por ano. “O que iríamos pagar de juros no financiamento não é nem a metade desse valor”, informou Juliana Maciel.
Quando deixamos de gastar nisso, sobra dinheiro para custear melhor as políticas de Saúde”, por exemplo.
Qual o percentual detalhado do endividamento do município de Canoinhas?
Canoinhas tem um valor de R$ 250.686.120,16 milhões para endividamento. Considerando o limite atual de dívidas e o limite máximo, o município tem a disponibilidade de 107%, ou seja, mais R$ 224 milhões para endividamento. Resaltando que o valor não engloba apenas as operações de crédito, mas também precatórios, parcelamentos de FGTS e PASEP, INSS.
Atualmente o município de Canoinhas possui 5 operações de crédito, totalizando uma média mensal de R$ 402 mil reais.