Ontem (15), Nadine Heredia, esposa do ex-presidente Ollanta Humala, entrou na embaixada brasileira em Lima para pedir asilo, horas depois de ambos terem sido condenados a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro ilícito de empresas brasileiras para campanha política.
Nadine Heredia, 48 anos, era aguardada na audiência judicial. Não foi. Apareceu com o filho na Embaixada do Brasil e pediu abrigo.
Hoje, o Palácio do Itamaraty informou que Nadine já está em solo brasileiro após ter o pedido de asilo diplomático concedido pelo governo Lula. Ela veio acompanhada pelo filho Samir Ollanta Humala Heredia, que é menor de idade. Ambos desembarcaram nesta manhã, em local não informado.
O marido foi ao tribunal. Ollanta Humala, que governou o Peru entre 2011 e 2016, saiu preso, escoltado até à penitenciária suburbana de Barbadillo, reformada especialmente para abrigar os ex-presidentes do país.
Ali está encarcerado outro ex-presidente, Alejandro Toledo, 79 anos, cumprindo pena de vinte anos e seis meses por acumular 35 milhões de dólares em subornos da empreiteira Odebrecht (agora renomeada Novonor).
O presídio de Barbadillo foi reformado na virada do milênio no governo Alan García para receber o falecido ditador Alberto Fujimori, condenado por uma coletânea de crimes, entre eles o massacre de adversários políticos. Alan García se matou no momento da prisão, também, acusado de receber propinas da Odebrecht.
Condenação
O Terceiro Juizado Criminal de Lima, capital peruana, condenou Nadine Heredia e Ollanta Humala a 15 anos de detenção por lavagem de dinheiro, sob acusação de terem recebido valores ilícitos para campanha política, em 2011, em um caso envolvendo a construtora brasileira Odebrecht, que atua há décadas no país vizinho.
Os promotores acusaram Humala e Heredia de receber US$ 3 milhões em fundos ilícitos da Odebrecht para financiar a campanha. Eles argumentaram que o casal poderia fugir ou obstruir seu trabalho, a menos que fosse preso.
De acordo com a promotoria, Humala e esposa teriam aumentado suas riquezas pessoais graças à “contribuição ilícita” feita pela Odebrecht, agora conhecida como Novonor, e pela OAS, outra empreiteira brasileira.
Antes da divulgação das sentenças, Nadine e Samir se abrigaram na embaixada do Brasil em Lima, onde obtiveram a concessão de asilo diplomático do Governo Brasileiro.
O Peru tem outros três presidentes sob investigação: Pedro Pablo Kuczynski, por corrupção no caso Odebrecht; Martín Vizcarra, por subornos de empreiteiras nacionais; e, Pedro Castillo, por tentativa de golpe de estado.
Nadine Heredia resolveu abandonar essa confusão peruana, depois de dez anos de processo. Pediu a ajuda de Lula, que lhe respondeu com agilidade. O passado os une.
“Mas que casualidade que seja o Brasil” — ironizou o procurador Germán Juárez Atoche, da Lava Jato peruana, em entrevista ao canal RPP, de Lima. “Quem é o presidente? Lula da Silva. Aí está a conexão. Fica novamente confirmada essa relação que houve entre o Partido dos Trabalhadores, liderado por Lula da Silva, com o senhor Ollanta Humala. É por isso o apoio, por uma afinidade ideológica.”
Lula e o PT são personagens que pairam no caso de corrupção do casal Ollanta-Nadine pela Odebrecht.
Pagamentos foram confirmados por Marcelo Odebrecht, herdeiro da empreiteira. Preso em Curitiba, no final de 2017, ele contou que “na verdade é que não foi uma iniciativa minha. Fiz isso a pedido do governo Lula, por causa da minha relação com o governo Lula”.
O escritório de advocacia que defende Humala e Nadine levaram à Justiça do Peru os argumentos que, no Brasil, serviram para inocentar os acusados da Lava Jato, como a obtenção ilícita de provas e a falta de delitos antecedentes ao crime de lavagem de dinheiro — o que é exigido naquele país.
Segundo o advogado brasileiro, a Justiça peruana aceitou a palavra de delatores que se beneficiaram dos acordos que fizeram.
“Isso permitiu, inclusive, que eles se ausentassem do país levando enorme patrimônio, sem qualquer prova de corroboração das suas declarações”, diz o advogado Leonardo Massud, que assessora a defesa do ex-presidente peruano.
*Com informações da Agência Brasil, CNN e Veja.