Bolsonaro se manifesta após pedido de condenação: “Não sou bandido; bandido é esse que está no governo”
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se manifestou publicamente nesta terça-feira (15), um dia após a Procuradoria-Geral da República (PGR) pedir sua condenação por tentativa de golpe de Estado.
Em entrevista ao vivo ao canal Poder360 no YouTube, Bolsonaro classificou a denúncia como “completamente estapafúrdia” e afirmou que está sendo vítima de um processo em que precisa “provar que é inocente”.
“Eu não sou bandido. Bandido é esse que está no governo e foi solto. Condenado em três instâncias”, disse o ex-presidente, em referência indireta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sem citá-lo nominalmente.
Durante a entrevista, Bolsonaro também criticou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a quem acusou de ter “sequestrado” a Corte.
“É uma pessoa que sequestrou o Supremo Tribunal Federal e faz o que bem entende. Ele vai interrogar, ele vai julgar. Ele diz que é vítima porque tinha um plano para assassiná-lo”, declarou, ao classificar como “ridículo” o suposto plano para matar Moraes. “Ninguém faz um plano para matar alguém e bota no papel”, ironizou.
A fala ocorre após a PGR, comandada por Paulo Gonet, apresentar alegações finais pedindo a condenação de Bolsonaro por diversos crimes, incluindo:
- Liderança de organização criminosa armada;
- Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
- Dano qualificado pela violência contra o patrimônio da União;
- Deterioração de patrimônio tombado.
Se condenado, as penas podem ultrapassar 40 anos de prisão. A denúncia envolve também sete aliados do ex-presidente, entre eles ex-ministros e militares de alta patente.
A Procuradoria sustenta que Bolsonaro tentou se manter no poder mesmo após perder as eleições de 2022, por meio de um plano com cronograma, métodos e apoio de setores das Forças Armadas.
A PGR afirma que houve um movimento coordenado para questionar o sistema eleitoral, desacreditar as urnas, convocar protestos e tentar cooptar os comandos militares — o que só não teria sido bem-sucedido porque os generais resistiram.
Entre os pontos destacados na denúncia estão o uso da máquina pública contra a democracia, como a atuação da PRF no segundo turno, e a instigação à violência, culminando na invasão aos prédios dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023 — que, segundo a acusação, não foi espontânea, mas parte do plano.
“Sou obrigado a fazer prova negativa”
Bolsonaro voltou a negar qualquer envolvimento com tentativa de golpe e se disse vítima de uma inversão processual. “Eles não têm que dizer onde, por ventura, eu errei ou cometi um crime. Eu é que tenho que dizer que sou inocente. É difícil se defender desta forma”, lamentou.
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Mesmo inelegível após decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-presidente reiterou a intenção de disputar a Presidência da República em 2026. No entanto, evitou comentar sobre possíveis apoios a outros nomes, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), frequentemente citado como plano B do bolsonarismo.
Denúncia robusta, segundo a PGR
A PGR afirmou ter reunido provas robustas da tentativa de golpe, incluindo gravações, minutas de decretos de exceção, registros de reuniões, discursos públicos, vídeos e depoimentos. Para os procuradores, o ex-presidente foi “a inspiração e a determinação derradeira” dos atos antidemocráticos.
A Procuradoria-Geral da República apresentou dez pontos principais para embasar o pedido de condenação de Jair Bolsonaro:
1 – Existência de Provas Robustas: A denúncia afirma haver “provas de que os autos estão refertos [cheios, abundantes]”, incluindo minutas de decreto, gravações, testemunhos, vídeos e falas públicas, que comprovam o papel de Bolsonaro.
2 – Tentativa de Permanecer no Poder: A PGR alega que Bolsonaro e seus aliados tinham um plano para se manter no poder, mesmo após a derrota eleitoral, com método, ação e cronograma.
3 – Liderança de Organização Criminosa Armada: O Ministério Público Federal (MPF) descreve uma organização criminosa “armada”, coordenada pelo ex-presidente e composta por militares, ministros e servidores públicos, unidos pelo objetivo de desrespeitar o resultado eleitoral.
4 – Implementação do Golpe: A PGR afirma que não foi uma ideia vaga, mas uma operação ativa e concreta, com minutas de decretos de exceção, planos de prisão de autoridades, substituições ilegais de ministros e até rascunho de discurso pós-golpe.
5 – Dispensa de Ordem Escrita: A tentativa de golpe não exigiria uma ordem escrita, bastando a colocação da “máquina em marcha”, o que Bolsonaro teria feito de forma persistente.
6 – Uso da Máquina Pública Contra a Democracia: A denúncia aponta o uso da Polícia Rodoviária Federal para dificultar o acesso de eleitores, da Abin para vigiar adversários e das Forças Armadas para pressionar ministros e disseminar dúvidas sobre as urnas eletrônicas.
7 – Deslegitimação das Eleições como Tática: Os ataques às urnas eletrônicas tinham o objetivo de “gerar estado de coisas favorável a providências de desrespeito, pela força, do resultado apurado nas eleições de 2022”.
8 – Instigação da Violência: Eventos como bloqueios de caminhoneiros, atentados a bomba, acampamentos e a invasão de 8 de janeiro são vistos como parte de uma sequência, não obra do acaso.
9 – 8 de Janeiro de 2023 Arquitetado: O ataque às sedes dos Três Poderes é classificado como o “apogeu violento” de um plano de poder.
10 – Tentativa de Cooptar o Exército: A PGR sustenta que Bolsonaro apresentou o plano de golpe aos comandantes militares e tentou cooptá-los, falhando apenas pela resistência das Forças Armadas.