A suspeita de que o omeprazol, um dos remédios mais usados do Brasil, pudesse estar ligado à demência e Alzheimer vem sendo debatida há anos, mas até hoje não há prova científica de causa e efeito.
O omeprazol é um medicamento que diminui a produção de ácido no estômago e é usado para tratar condições como refluxo gastroesofágico, úlceras gástricas e duodenais, azia, gastrite e infecções por Helicobacter pylori. Com o tempo, o remédio passou a ser usado de forma rotineira por muitos pacientes, o que aumentou a incidência de efeitos adversos.
O que se sabe, segundo neurologistas e gastroenterologistas, é que o uso contínuo e sem reavaliação médica pode trazer riscos reais, mas eles não envolvem perda cognitiva direta.
O debate começou em 2014, quando um estudo alemão — publicado no periódico JAMA Neurology — observou uma possível associação entre o uso prolongado de inibidores de bomba de prótons (IBPs) e maior incidência de demência em idosos. Essa classe inclui o omeprazol, pantoprazol e esomeprazol.
Porém o estudo era observacional e não provava relação de causa e efeito. Pesquisas mais amplas e posteriores, como um trabalho finlandês de 2017 na revista Neurology com mais de 250 mil pacientes, não confirmaram a associação.
De acordo com o neurologista Carlos Eduardo Altieri, do Hospital Sírio-Libanês, esses estudos iniciais chamaram atenção, mas apresentavam limitações.
“Foram pesquisas observacionais, com amostras restritas. Elas mostraram uma incidência maior de demência entre usuários crônicos de omeprazol, mas não provaram causa e efeito. Estudos mais recentes e meta-análises não reproduziram essa associação”, explica.
A literatura médica reforça, no entanto, que o possível elo entre o uso prolongado de IBPs e o declínio cognitivo é indireto, e não resultado de uma ação tóxica sobre o cérebro.
O ácido gástrico é fundamental para liberar a vitamina B12 dos alimentos; quando ele é suprimido por muito tempo, a absorção diminui. Com isso, alguns pacientes podem desenvolver níveis baixos de B12, o que está associado a sintomas como fadiga, formigamento, lapsos de memória e dificuldade de concentração.
Mesmo assim, os trabalhos destacam que a reposição da vitamina reverte os sintomas e que os medicamentos continuam seguros quando usados sob supervisão médica.
O que se sabe
- Não há evidência científica de que o omeprazol cause demência ou Alzheimer.
- O uso prolongado pode reduzir a absorção de nutrientes como B12 e magnésio.
- A deficiência nutricional, e não o remédio em si, pode influenciar funções cognitivas.
- O uso contínuo e sem supervisão aumenta riscos gastrointestinais e metabólicos.
O foco é o acompanhamento. Usar com indicação correta, por tempo determinado e sob supervisão médica é o que garante segurança.





