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Histórias que o ciclone deixou: o dia que se fez noite em Santa Catarina

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COMUNICAÇÃO CELESC — O dia 30 de junho ficará marcada como o dia que se fez noite em Santa Catarina. Ainda de manhã, o céu mudou de cor na região Oeste e a ventania começou a carregar de tudo, entre placas, telhados e árvores.

Já no meio da tarde, essa chuva intensa chegou ao Litoral, acompanhada de ventos de mais de 100 km/h.

O ciclone bomba, assim chamado pelo seu caráter destrutivo, interrompeu o fornecimento de energia a mais de 1,5 milhão de unidades consumidoras. Isso significa que um em cada dois imóveis catarinenses ficou sem luz no auge da ocorrência.

Registro pós-ciclone na região de Lages. Divulgação

Embora a Celesc estivesse preparada para a passagem do ciclone com equipes de sobreaviso, o impacto no sistema de distribuição foi mais grave do que se poderia prever. 

Foi o maior dano da história na nossa rede elétrica”, resume o presidente Cleicio Poleto. “Já enfrentamos muitos desastres climáticos, porém sempre de forma localizada. Dessa vez atingiu o estado todo”, complementa o diretor de distribuição Sandro Levandoski.

Não bastassem os danos de proporções históricas em plena pandemia, as fortes tempestades romperam, ainda, cabos de fibra ótica que atendem o sistema de telecomunicação da empresa.

Com os serviços de telefonia e internet afetados, os jornalistas da área de Comunicação da companhia, não conseguiam contato com a gerente, nem com os colegas de equipe. 
Os pedidos de informação pela imprensa e pelos consumidores não paravam de chegar.

Fazer do carro um escritório foi a solução encontrada pela engenheira Silvia Pozzobom, gerente do Núcleo Meio Oeste, que reúne as Unidades Joaçaba e Videira. Como o ciclone chegou mais cedo por lá, ela enfrentou a falta de energia e comunicação bem antes do que o Litoral, tendo que gerenciar a situação nos 36 municípios atendidos pelo Núcleo. 

É a pior situação que eu já vivi na Celesc. Tá arrepiante”, contava por áudio do WhatsApp aos colegas, antes de enfrentar uma longa noite pela frente.

Os ventos foram perdendo a força conforme a madrugada avançava, mas não o suficiente para facilitar os trabalhos das equipes, que se depararam com um rastro de destruição por todos os cantos: postes caídos, cruzetas quebradas, árvores e objetos de grande porte jogados sobre a rede, além de quilômetros de fiação caída ou arrastada pelo vento. 

O estrago foi monumental! Atingiu por igual os 28 municípios da Unidade Rio do Sul, com mais de 250 postes caídos até agora”, comentou o gerente da Unidade, Manoel Arisoli, ainda contabilizando os danos causados pelo fenômeno até agora.

Todo o contingente da Celesc foi a campo e, em parceria com as equipes de empresas terceirizadas, foi formado um batalhão de 1,3 mil profissionais para recuperar o sistema, além de mais 200 técnicos e engenheiros na operação.

Com mais de 80 caminhões de manutenção pesada e 280 caminhonetes, a “tropa de choque” enfrentou destroços, água, lama e mau tempo e, na manhã seguinte, o fornecimento de energia havia sido restabelecido para metade dos clientes afetados. 

Passadas 24h, um milhão de unidades voltaram a ter energia em suas casas. Mas ainda havia muito trabalho pela frente.

Operação de guerra

Após um evento climático deste porte, muitos obstáculos precisam ser ultrapassados para recompor o sistema com segurança, a começar pela retirada de materiais pesados sobre os cabos. 

Em alguns locais, o estrago é tão grande que é necessário reconstruir longos vãos de rede e, no pior dos cenários, trocar postes – o que exige a atuação de equipes maiores, em caminhões com guindastes.

Neste período pós-ciclone, todos esses complicadores estiveram presentes. Somente na Grande Florianópolis, foram mais de 180 postes trocados e 35 transformadores substituídos. Para concluir os reparos necessários até o momento, foram usadas mais de cinco toneladas de cabos de alumínio e cobre.

Não bastassem essas dificuldades, conformem as equipes iam avançando nos trabalhos deparavam-se com situações ainda mais complexas, especialmente nas áreas rurais. 

Tiveram de enfrentar a escuridão, os terrenos íngremes e muita lama nas estradas; em várias ocorrências, foi preciso desbravar caminhos, atravessar riachos e matas densas.

Eletricistas da Celesc. Divulgação

Foi o caso dos eletricistas Edson Machado e Rudinei Mezacasa (foto acima), que tiveram de consertar um cabo rompido, o que exigiu a travessia do lago formado por uma barragem, em Passos Maia – e tudo sem perder o bom humor. Os colegas Ernesto, Leandro e Diego foram companheiros nessa “aventura aquática”, como descreveu Rudinei.

Inúmeras foram as situações onde o exemplo de dedicação e esforço se repete. O eletricista Paulo Miguel Filho, junto ao seu parceiro de trabalho, atravessou um córrego cheio de pedras para acessar o local dos reparos, no interior de Blumenau. 

Outra equipe não mediu esforços para reconstruir a rede no interior de Mafra, onde foi preciso abrir uma picada para poder transportar postes e equipamentos. Já na Costa da Lagoa, em Florianópolis, celesquianos e terceirizados chegaram de barco para trocar transformadores e trazer a luz de volta.

Alguns eletricistas enfrentaram, inclusive, protestos de consumidores frustrados pela demora no restabelecimento. 

Felizmente, são mais comuns os relatos de pessoas que ofereceram comida, agradeceram pelo esforço e até mesmo ajudaram nos trabalhos, como aconteceu na comunidade de São Domingos, no interior de Chapecó. 
Quando a caminhonete dos eletricistas Valdecir Gulin e Marco Antônio Ceccagno atolou na lama, os vizinhos vieram imediatamente para ajudar com o trator.

Cada esforço valeu a pena. Nós vestimos a camisa da empresa com muita gratidão e amor ao nosso trabalho; fizemos o máximo possível pra restabelecer a energia o quanto antes, com segurança, aos consumidores”, agradece Valdecir.

A luta continua

No décimo dia após o ciclone, mais de 99% do sistema está restabelecido. Na região de Mafra, uma das mais castigadas, cerca de 40 equipes continuam em campo para recompor a energia nos locais com acesso mais difícil, inclusive com reforço de outras regiões do estado. 

O maior desafio enfrentado, nesse momento, são as condições restritas de acessibilidade dos profissionais, do maquinário e das estruturas necessárias para os reparos.

O gerente da Unidade Mafra, Leandro de Oliveira, destaca o empenho das equipes em campo e faz um apelo à população:

Continuamos nessa batalha incansável para restabelecer o fornecimento de energia elétrica ao Planalto Norte catarinense. Juntos somos mais fortes. Pedimos compreensão com os nossos eletricistas, que estão trabalhando arduamente para levar energia com qualidade o quanto antes”.

Na reta final da “Operação Ciclone”, o sentimento é de união e ainda mais energia:

Foram dias e dias trabalhados das 6h às 22h. Não apenas eu, todos do setor. Uma força tarefa incrível se formou, eu nunca havia visto nada igual”, resume agora o técnico Ricardo Shulze, de Blumenau, com a voz cansada de quem trabalhou exaustivamente, mas que sabe que cumpriu bem o seu dever.

O gerente do Núcleo Grande Capital, Renato Rolim, faz coro aos colegas: “O trabalho feito pela Celesc é gigantesco. Não tenho dúvida de que, passado esse momento, haverá um grande reconhecimento ao corpo técnico!”.

O agradecimento final fica por conta do diretor Lavandoski, que enfatiza o esforço de todos os celesquianos envolvidos nessa grande força-tarefa:

Passada mais de uma semana do evento climático mais severo em Santa Catarina, estamos agora nas etapas finais para conclusão dos serviços, retornando à normalidade. Muitos foram os desafios, mobilização, logística de equipes e materiais, estresse, emoção, atendimento a reclamações diversas, críticas, mas também elogios da população ao incansável trabalho para recuperar o sistema. Assim, diante desse ‘ciclone’ de serviços e emoções, parabenizamos a todos os empregados que direta ou indiretamente participaram (e participam ainda) deste trabalho, mostrando a determinação e empenho em manter o fornecimento de um produto essencial à sociedade”.

A passagem do ciclone nos deixou relatos e registros surpreendentes; verdadeiros retratos da força e garra dos celesquianos que, em campo ou nos bastidores, constroem mais um capítulo de superação em nossa história. Mais do que tudo, nos deixou a certeza de que, aquilo que o vento levou, a Energia da Celesc reconstruiu.

Passagem do ciclone deixou um rastro de destruição e prejuízos, além de 14 pessoas terem perdido a vida por conta do fenômeno.

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