Um homem surdo, e alfabetizado apenas na linguagem brasileira de sinais (Libras), teve um intérprete disponibilizado para poder acompanhar seu próprio julgamento, em sessão do Tribunal do Júri na comarca de Chapecó.
Durante todo o julgamento, que aconteceu na última sexta-feira (24), o autor de 10 disparos de arma de fogo que resultaram na morte de um vizinho teve o acompanhamento de intérprete de Libras.
O crime ocorreu no bairro Universitário, no dia 16 de julho de 2019. Foi um desentendimento entre vizinhos. Durante o processo foi possível apurar que os dois tinham desavenças antigas pelo fato de o cachorro da vítima fazer as necessidades fisiológicas no terreno do acusado.
No dia do crime, a vítima jogava bola com o filho quando o brinquedo caiu perto da casa do réu, o que o irritou. O acusado efetuou seis disparos, que causaram a morte do homem. Após recarregar a arma, o agressor ainda atirou mais quatro vezes.
O réu pôde assistir e saber o que falou cada testemunha e também os encaminhamentos da ação judicial. No próprio júri, contou sua versão dos fatos.
Ao final, o réu foi condenado à pena de 18 anos e oito meses de reclusão, em regime fechado, por homicídio qualificado por motivo fútil e emprego de recurso que dificultou a defesa da vítima.
Intérprete de Libras há 11 anos, Cleiton Renato Joris atuou ao lado do réu. Ele já presta serviços ao Poder Judiciário catarinense há três anos. No dia a dia, trabalha como professor auxiliar em sala de aula.
“No julgamento é preciso ser extremamente profissional e transmitir a verdade ‘nua e crua’ para os dois lados, pelo risco de prejudicar o andamento do processo. Mas em qualquer ocasião o intérprete deve manter a ética, principalmente”, avalia Joris. Os debates entre acusação e defesa se estenderam por oito horas e meia.

















