Acompanhada de familiares e amigos, Maria Madalena Braatz Chraim recebeu, nesta terça-feira (21), das mãos do deputado Camilo Martins, na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), uma moção de aplauso pela graduação em Direito aos 74 anos de idade. A formatura aconteceu em março deste ano.
O parlamentar afirmou que soube do fato por intermédio da mídia. “Ela serve de exemplo para muitas pessoas, jovens que têm dificuldade de conciliar os estudos com o trabalho.”
“Uma honra, um orgulho para nossa família, uma mulher guerreira”, destacou Nabih Chraim, filho da homenageada. Ele e a irmã, Karime, assim como netos e outros familiares, atuam na profissão.
Moradora da Capital, Maria Madalena relatou que apenas recentemente teve a oportunidade de estudar.
“Foi uma batalha. Nasci na roça, filha de agricultor. Sai da casa dos meus pais aos 14 anos, eduquei meus filhos e após a aposentadoria conclui os ensinos fundamental e médio. Pensei em fazer História, mas optei por Direito porque tenho dois filhos advogados. Estou honrada com esta homenagem tão linda.”
O próximo passo, segundo ela, é estudar para a prova da Ordem dos Advogados do Brasil (AOB) para se tornar uma advogada, assim como os filhos e os netos.
Desafios
Criada na roça e filha de agricultores, Madalena precisou parar de estudar cedo para começar a trabalhar e ajudar na criação dos irmãos mais novos. Em seguida, se casou, teve três filhos e foi trabalhar como comerciante no Mercado Público de Florianópolis, onde ficou por 40 anos. Em 1997 ficou viúva.” Fiquei viúva jovem e trabalhei muito sozinha para educar meus filhos” — conta.
Aposentada desde 2013, disse que não queria ficar parada e resolveu voltar a estudar. Na busca por movimento, ela voltou para escola, fez todo o ensino fundamental, o ensino médio e se inscreveu para a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
“Depois que fiz o ENEM o meu genro falou assim “ô, sogrinha, vamos fazer um teste seletivo para entrar na faculdade”. Eu pensei que não ia passar. Fui fazer o teste e consegui, passei. Fiquei feliz”, diz.
A escolha pelo curso de Direito foi motivada pelos filhos, netos e enteado advogados. Segundo Madalena, ela queria conseguir participar das conversas que aconteciam na família e entender sobre os assuntos que eles falavam.
Em agosto de 2019, quando começaram as aulas, Maria Madalena se viu dentro de uma sala de aula cercada por alunos “jovens”, como conta. A primeira reação foi querer desistir do curso de Direito e nunca mais voltar para o local.
Além de se ver em uma sala de aula com pessoas na faixa etária dos 20 anos, Madalena também sentiu dificuldades em se adaptar com a tecnologia exigida pelo curso. Criada em uma época que as pesquisas eram feitas em livros, ela precisou contar com ajuda dos netos e bisnetos para se adaptar à nova realidade.
— Foi muito difícil, eu sou da era de escrever a punho, precisei aprender escrever e a manusear um computador, precisei aprender a fazer pesquisas. Mas foi um período bom, apesar de difícil por conta da pandemia. Mas eu consegui, sempre tive ajuda de um neto, ou de uma colega da turma da faculdade — diz.
Apesar das dificuldades enfrentadas no início do curso, Maria Madalena Braatz Chraim não desistiu do Direito. Agora formada, sente orgulho da sua trajetória e do exemplo que deu, não só para os filhos, como também para os colegas da faculdade.