Recentemente, um estudo publicado na revista Journal of Periodontal Research revelou dados alarmantes sobre a saúde bucal no Brasil. Em 2021, o país ocupava o terceiro lugar global em proporção de indivíduos desdentados, com aproximadamente 22 milhões de pessoas afetadas.
Este dado representa cerca de 9% da população brasileira, um cenário que tende a se agravar nas próximas décadas, com projeções indicando 44 milhões de desdentados até 2050. A perda de dentes é o segundo fator que mais prejudica a qualidade de vida de pessoas entre 45 e 70 anos.
A perda dentária é considerada um dos principais prejuízos à saúde bucal devido à sua alta ocorrência e aos danos estéticos, funcionais, psicológicos e sociais que acarreta. Porém, é uma perda evitável.
Periodontite: A principal causa de perda dentária
A periodontite, também conhecida como piorreia, é uma das principais causas de perda dentária. Diferente das cáries, que geralmente causam dor, a periodontite é uma doença bacteriana “silenciosa”, que causa inflamação nos tecidos e ossos que sustentam os dentes.
O que causa a periodontite?
A periodontite pode ocorrer quando a gengivite não é tratada. É causada pela formação da placa bacteriana na parte superior e embaixo da linha da gengiva (a área onde a gengiva e os dentes se encontram). Isso pode fazer com que os ossos e os tecidos que sustentam seus dentes tornem-se irreversivelmente danificados.
Esse dano no tecido pode fazer com que a gengiva se separe dos dentes, criando pequenos espaços ou “bolsões”, onde podem ocorrer mais formação de placa bacteriana e infecções. Com o agravamento da situação, o osso começa a sofrer erosão. Se não tratada, resulta em dentes soltos, que podem cair ou que precisem ser removidos por um dentista.
Os sintomas muitas vezes só se tornam evidentes em estágios avançados, dificultando a manutenção da saúde bucal. Isso ressalta a necessidade urgente de implementar políticas públicas que priorizem a saúde oral.
Os principais sintomas da periodontite são:
- Aumento do espaço entre os dentes
- Gengivas vermelhas e inchadas
- Sangramento da gengiva após escovar os dentes ou usar fio dental
- Mau hálito
- Dentes tortos ou amolecidos
- Aumento da sensibilidade dentária
A necessidade de mudanças nos hábitos de saúde
Apesar de contar com um dos maiores números de cirurgiões-dentistas do mundo, a prevalência de desdentados no Brasil continua estável. Contudo, para reverter essa tendência, é crucial adotar hábitos mais saudáveis.
É possível reduzir o risco de doença da gengiva mantendo uma boa rotina de higiene oral. Isso inclui escovação no mínimo duas vezes ao dia, uso do fio dental ou de uma escova interdental e check-ups dentários frequentes.
Entre as recomendações também estão alimentação balanceada, controle de doenças crônicas e a prática de exercícios. Essas medidas não só contratam o avanço da periodontite, mas também promovem uma melhoria geral na qualidade de vida da população.
Em termos de saúde pública, como mudar esse quadro?
O Brasil conta com a Política Nacional de Saúde Bucal, conhecida como Brasil Sorridente, que ampliou o acesso ao serviço odontológico. Entretanto, somente oferecer o acesso parece não estar sendo suficiente para diminuir a carga de periodontite e edentulismo no país.
Há uma concentração de dentistas nos grandes centros urbanos, enquanto zonas afastadas sofrem com a escassez de profissionais. Perpetua-se a prática clínica voltada à lógica curativa e não à preventiva, ou seja, o dentista ainda passa mais tempo extraindo e restaurando dentes que prevenindo doenças.
É preciso uma mudança de paradigma do atual modelo, que envolve a reestruturação dos currículos dos cursos de Odontologia, assim como uma melhor distribuição dos profissionais.