Uma família paranaense é guardiã de uma relíquia: um quadro de Nossa Senhora de Pochaev, feito no ano de 1700 na Ucrânia.
O ícone saiu da região de Ternopil escondido em um lenço usado na cabeça de uma imigrante. Desde então, o quadro passa de geração em geração em uma família de descendentes ucranianos que mora no Paraná.
Trezentos e vinte e dois anos separam a fabricação do quadro das preces feita à imagem de Nossa Senhora de Pochaev pelo fim da guerra entre Rússia e Ucrânia, que começou em fevereiro deste ano.

Marta Marina Starepravo Padilha é umas das guardiãs da santa – que mede aproximadamente um palmo. Segundo ela, o quadro saiu do país quando vieram os primeiros descendentes da família dela ao Brasil.
“Veio o meu tataravô que já era um senhor de 60 anos, a esposa dele que tinha 55, e os filhos. Não podia ter manifestação religiosa por causa dos conflitos, então ela trouxe essa santa escondidinha no cabelo para conseguir passar na fronteira. Meu pai é falecido, mas tinha um cuidado, um zelo por essa peça que ficava na cabeceira da cama dele em um relicário. Somos hoje em 14 irmãos e mantemos a tradição do respeito e oração por ela”.
A família reza ao redor da imagem durante esses mais de 300 anos e acredita que a imagem seja milagrosa.
“Ela é uma representação de uma mãe, uma divindade, então a gente acredita nessa proteção, que ela é mediadora de conflitos, quer ver seus filhos bem e em paz”.
A mãe de Marta, Helena Starepravo, mora na Colônia Marcelino, que reúne descendentes de ucranianos e poloneses, e está localizada em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba.
Na colônia, há uma das maiores igrejas ucranianas do Brasil, com mais de 30 metros de altura e capacidade para aproximadamente 450 pessoas. O projeto da Paróquia Santíssima Trindade foi inspirado em igrejas da Ucrânia.
As missas são celebradas em ucraniano e apenas uma vez por mês é celebrada em português.
“Minha mãe até falou que vai doar essa Nossa Senhora para o museu da própria colônia. Lá tem uma igreja grande que é uma ‘réplica’ de uma igreja da Ucrânia. Mas, para nós, tem um significado muito forte, um simbolismo muito grande […] Imagina quantas histórias, quantas orações, quantos pedidos, quanto clamor, imagina quantas pessoas rezaram para essa Nossa Senhora, e nós também desde que ela veio para o Brasil”.
Marta comenta que ela e os irmãos tentam repassar a cultura do povo ucraniano e o hábito de rezar para os filhos, deixando assim a tradição viva.
Não perder a esperança
A invasão da Ucrânia pela Rússia, iniciada na madrugada de 24 de fevereiro, causou mortes e destruição em um cenário de guerra. Trata-se do maior ataque militar de um país contra outro na Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
Para Marta, a guerra é uma estupidez, pessoas vão morrer por uma guerra que nem é delas:
“Idosos vão morrer, pense, um povo sofrido que, no finalzinho da vida, passa por isso novamente? comenta Marta.
É uma estupidez tão grande a guerra com armamentos porque não é isso que vai resolver. As pessoas vão lutar, morrer, por uma guerra que nem é delas. É triste, ainda no frio, tem toda uma questão de clima.
A gente só pode rezar por eles e não perder a esperança. Acho que o povo ucraniano tem isso, nunca perder a esperança. As coisas vão melhorar. Слава Україні! [Glória à Ucrânia!]”.


























