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O bárbaro assassinato de jornalista catarinense e o silêncio da polícia

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A Associação Brasileira de Imprensa (ABI), informou que está acompanhado o caso.

Por Fábio Lau – Rio de Janeiro*

Os cerca de 55 mil moradores do município de Canoinhas, no Planalto Norte catarinense, jamais poderão reclamar que sofrem de tédio.

Com 43 mil eleitores, a cidade, autoproclamada “capital mundial da erva mate”, assistiu há três dias ao assassinato de uma das vozes mais expressivas do ambiente político regional: Paulo Ricardo Ferreira, 34 anos, foi encontrado morto em um local ermo à margem da estrada onde fica o Parque de Exposições Ouro Verde.

O caso acontece no mesmo ano em que houve um terremoto político na região: o prefeito Beto Passos (PSD) renunciou durante rumoroso processo que liga seu nome a organização criminosa, enquanto o vice, Renato Pike, sofreu um impeachment. O mesmo é réu, junto com Passos, em processo que investiga crimes de organização criminosa, peculato, fraudes à licitação, corrupção e lavagem de dinheiro. Ambos estão presos.

Ainda este ano a Justiça Eleitoral conduzirá um novo pleito municipal para a escolha do novo prefeito e vice. A eleição ocorrerá em outubro quando o país estará escolhendo governadores, deputados estaduais, federais, senadores e o novo presidente da República.

Mas enquanto a morte violenta de Paulo Ricardo se torna o centro de especulação na cidade, a polícia busca trabalhar em silêncio.

Contudo, é sabido que as diligências comandadas pelo delegado Darcy Nadal Júnior, da Divisão de Investigação Criminal, e de Eduardo Borges, o titular da comarca, podem surpreender. Mas o fato é que neste momento elas têm sido criticadas pela evidente lentidão.

“Um caso como este merecia uma resposta rápida da polícia. O jornalista foi visto em uma festa em uma casa noturna de Canoinhas conversando com dezenas de pessoas. O lugar é monitorado por câmeras. . Além disso, o trajeto seguido pelo carro da vítima, que cortou a cidade de um extremo ao outro, também conta com câmeras. O percurso é monitorado por antenas de celulares. Sabe-se, assim, quais aparelhos (e proprietários) fizeram o percurso naquele dia e horário. Não há razão para tanto segredo ou mistério”, disse um atento observador do ambiente do norte catarinense.

BARBÁRIE

Paulo Ricardo foi encontrado morto ao lado do seu automóvel. O carro, um Voyage, fora incinerado (provavelmente para apagar vestígios do assassino) e jogado de frente em uma vala que circunda o parque.

O corpo, abandonado a menos de dez metros do automóvel, apresentava sinais de que o jornalista fora morto a pedrada: ela estava ao lado do cadáver atingido nas costas, peito e cabeça.

– Crimes bárbaros remetem a crimes de ódio – lembrou um velho perito criminal que não revela otimismo quanto ao sucesso da investigação.

Para ele, Santa Catarina, um estado sabidamente conservador, é lugar onde autoridades se habituaram a jogar lixo para debaixo do tapete.

A frase ilustrativa encontra respaldo na história: há onze anos, um blogueiro famoso em todo o país, cheio de charme e ousadia, Amilton Alexandre, conhecido como Mosquito, foi encontrado morto e a polícia rapidamente classificou a morte como suicídio. Isso embora a vítima tivesse revelado estar sendo ameaçada de morte. Tais ameaças feitas a Mosquito coincidiam com denúncias publicadas em seu blog envolvendo gente poderosa no estado.

CRIME SEM DIGITAL

O caso de Paulo Ricardo, que não pode entrar também no rol dos insolúveis, é investigado, supostamente, em pelo menos duas frentes: passional ou político. Entretanto, ninguém até o momento tornou pública qualquer história de envolvimento amoroso conturbado relacionado ao jornalista ou de eventuais inimigos ou ameças na área política.

Paulo Ricardo era também colunista de jornal e site na internet, professor e locutor de rádio. Por já ter trabalhado como estrategista político em inúmeras campanhas eleitorais de Canoinhas e cidades da região, estava empenhado na campanha de um grande amigo a uma vaga na Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Também era assessor na Câmara dos Vereadores de cidade vizinha e um indignado com a velha política local.

  • Fábio Lau é jornalista com 36 anos de experiência no jornalismo policial com passagens nas redações dos jornais Última Hora, O Dia, O Globo, Jornal do Brasil e Rede Globo. Atualmente é professor de jornalismo investigativo.
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