Produção sustentável de mandioca ganha terreno em Santa Catarina

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Boas práticas de produção que permitem alcançar produtividade 28% superior à média do Estado e praticamente o dobro da média nacional.

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Com tecnologia e uma forte parceria entre agricultores, pesquisadores e extensionistas, a produção de mandioca se torna cada vez mais sustentável e rentável em Santa Catarina.

A fórmula de sucesso desenvolvida pela Epagri reúne um conjunto de boas práticas de produção que permitem alcançar produtividade 28% superior à média do Estado e praticamente o dobro da média nacional.

Já são mais de 1,2 mil hectares produzindo mandioca de forma sustentável, com boas práticas de produção. Isso inclui tecnologias como sistema de plantio direto, uso de plantas de cobertura e manejo da fertilidade do solo.

Responsável por um faturamento anual de R$331 milhões, o cultivo de mandioca para indústria e mesa (aipim) está presente em 12,9 mil hectares de lavouras em Santa Catarina. A produtividade média no Estado é de 21,7t/ha.

O objetivo da Epagri é elevar esse índice com práticas que garantam a conservação do solo e da água, oferecendo alimentos de qualidade para o consumidor e melhorando a vida dos agricultores.

Conforto das plantas

Nesse caminho sustentável, o plantio direto de mandioca ganha terreno ano após ano. O sistema funciona como uma transição da agricultura convencional para a agroecológica, pois, conforme se avança no processo, o uso de agroquímicos na lavoura se torna menor.

O plantio direto promove o conforto das plantas para que elas respondam com saúde e produtividade. Para isso, o agricultor adota práticas como cultivo de plantas de cobertura para proteção permanente do solo com palhada, revolvimento restrito à linha de plantio, rotação de culturas e nutrição baseada nas taxas de absorção de nutrientes.

O plantio direto é uma das tecnologias que integram o Plano Agricultura de Baixa Emissão de Carbono ABC+SC, construído pela Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária para tornar a agricultura catarinense mais sustentável e adaptada às mudanças climáticas.

Plantas de cobertura

No plantio direto, as plantas de cobertura, também conhecidas como adubos verdes, têm papel estratégico. Elas são plantadas na área da lavoura e nela permanecem na forma de palha, melhorando as condições físicas, químicas e biológicas do solo. Entre outros benefícios, elas formam matéria orgânica, retêm o carbono da atmosfera no solo, fornecem nutrientes para as culturas, evitam a erosão e a evaporação da água do solo.

Em 2023, as plantas de cobertura revelaram todo seu poder no combate à erosão em lavouras catarinenses onde ocorreram fortes chuvas. Mesmo em locais com intensidade superior a 50mm/hora, as áreas em plantio direto de mandioca permaneceram protegidas e sem perdas.

Adubação e correção

Outro fator que impacta na produção catarinense de mandioca é o manejo da fertilidade do solo. As indicações técnicas da Epagri ajudam o produtor a definir quais corretivos e fertilizantes usar com base no custo e no benefício do nutriente, além das doses, dos momentos e das formas de aplicação.

Para tornar essas recomendações mais precisas e ágeis, a Epagri desenvolveu o software AdubaManí. O programa permite, em poucos minutos, interpretar a análise de solo e recomendar o uso de corretivos e fertilizantes com precisão e economia.

Esse trabalho tem gerado ganhos de produtividade, redução de custos e melhoria ambiental nas lavouras. “Com a correta recomendação de adubação, é possível alcançar ganhos significativos em produtividade e atingir a meta de 30 toneladas por hectare, elevando a média estadual”, explica o engenheiro-agrônomo Darlan Marchesi, coordenador do programa de Olericultura da Epagri na extensão rural.

Sinergia em rede

Mas essas tecnologias não teriam o impacto necessário nas lavouras sem a participação dos produtores rurais. Por isso, o projeto Rede Maní segue metas definidas em grupo, unindo agricultores, pesquisadores e extensionistas.

Na área da pesquisa, são as necessidades da cadeia produtiva que definem as linhas de estudo, e os agricultores têm participação ativa no desenvolvimento das tecnologias. Na extensão rural, a rede estimula a confiança e o engajamento das famílias.

“A rede descentralizou o trabalho na Epagri: cada unidade da Empresa se comunica com as outras, multiplicando e trocando materiais, como ramas, e compartilhando informações e resultados”, explica Darlan. Dentro da rede, os produtores também interagem uns com os outros em eventos de capacitação, análise de resultados e atualização técnica.

Foco nos jovens

Santa Catarina produz mandioca para mesa (aipim) nas regiões Litoral Norte e Sul, Alto Vale Itajaí, Oeste e Extremo Oeste. Já a produção para a indústria de farinha está concentrada no Litoral Sul Catarinense e na Grande Florianópolis.

Levando em conta as características de cada região, em 2023, a Epagri atendeu 4 mil famílias e 248 entidades sobre a produção de mandioca. Ao longo do ano, foram realizados 235 eventos, como cursos e dias de campo, somando mais de 3,5 mil participantes.

Os jovens rurais são um público estratégico, por isso a Epagri oferece a eles cursos específicos sobre produção de mandioca. Em 2023, 643 jovens foram capacitados nas regiões de Tubarão e Criciúma.

O objetivo é despertar neles a liderança e incentivar a sucessão familiar qualificada nas propriedades. No mesmo ano, 1.622 mulheres rurais do Oeste Catarinense participaram de cursos sobre o uso da mandioca na alimentação.

Qualidade no DNA

Mesmo que a cadeia produtiva seja engajada e todas as tecnologias de cultivo sejam adotadas nas lavouras, ainda há um fator decisivo para garantir a competitividade da produção: a qualidade do que se planta.

Os agricultores precisam de plantas produtivas, resistentes a doenças e que facilitem o manejo. Aí é que entra o trabalho de melhoramento genético. Na Epagri, a Estação Experimental de Urussanga, localizada no sul do estado, desenvolve cultivares de mandioca de alta qualidade para toda a cadeia produtiva.

Um dos maiores sucessos é a mandioca ‘SCS254 Sambaqui’, lançada em 2014. Esse cultivar agradou a cadeia produtiva porque tem alto teor de amido na raiz e rende cerca de 30% a mais de farinha que as variedades usualmente plantadas no Estado.

A Sambaqui já ocupa 1,6 mil hectares de lavouras e responde por 24% da área plantada com mandioca para indústria em Santa Catarina. No Sul Catarinense, que é a principal região produtora, ela ocupou 46% da área na última safra. Em 2022, esse cultivar gerou impacto econômico de R$9,8 milhões em aumento de produtividade e agregação de valor.