A Polícia Civil de Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul, investiga ao menos 10 casos de suspeita de golpe contra sobreviventes e familiares de vítimas do incêndio na boate Kiss.
Os golpistas se passam por funcionários de um advogado que representa algumas famílias. Nas mensagens, eles trazem dados pessoais das vítimas, dizem que ações na Justiça liberaram indenizações que variam de R$ 70 mil a R$ 500 mil, porém serão liberadas desde que as pessoas pagassem uma quantia para regularizar uma falsa pendência fiscal. Para convencer as vítimas, os golpistas criaram até um falso documento da Receita Federal.
Das cerca de 10 pessoas que teriam recebido contato dos estelionatários, ao menos uma delas caiu no golpe e depositou cerca de R$ 3,7 mil aos golpistas, em uma conta que dizia ser do escritório, mas não é.
Um dos advogados que acompanha algumas famílias de vítimas disse que começou a receber ligações de clientes comentando sobre a falsa indenização.
“Não existe sentença positiva ou negativa, procedente ou improcedente que dará ou não direito a recebimento de valores indenizatórios sobre a tragédia. Então, fica o alerta. Pedimos que desconsidere totalmente essa situação”, diz o advogado Luís Fernando Smaniotto.
A Polícia Civil também orienta que nenhuma informação com dados pessoais ou valores sejam repassados sem que a pessoa fale pessoalmente com seu advogado.
A tragédia na boate Kiss ocorreu no dia 27 de janeiro de 2013, matando 242 pessoas e ferindo mais de 600. Na última sexta-feira (27), homenagens marcaram os 10 anos do incêndio. Até agora, ninguém foi responsabilizado.
O delegado regional de Santa Maria, Sandro Luís Meinerz, que conduziu a investigação do caso, lamenta a demora da justiça.
“Estamos fechando agora, dez anos dessa absurda tragédia e, infelizmente, nenhuma resposta final desse processo foi dada para sociedade e, principalmente, para os pais e familiares dessas vítimas que morreram, fora aquelas que ficaram sequeladas”, disse.
SÉRIE DA NETFLIX
Um grupo de 42 famílias de vítimas do incêndio na Boate Kiss estuda ir à Justiça contra a Netflix. O motivo é a série ficcional Todo Dia a Mesma Noite, que retrata a história do desastre do dia 27 de janeiro de 2013. Os parentes afirmam que não foram consultados e dizem estar incomodados com parte das cenas e com o que classificam como comercialização da tragédia.
O empresário Eriton Luiz Tonetto Lopes é um dos líderes do movimento, e alega ter sido pego de surpresa pela obra audiovisual. “A maioria não foi ouvida, então me achei no direito de protestar”, conta ele que perdeu a filha Evelin, com 19 anos na tragédia. De acordo com ele, os responsáveis pela série não procuraram os familiares de outras vítimas além das retratadas nas obras.
Segundo a advogada Juliane Müller Korb, as famílias que ela representa pretendem pedir uma explicação à Netflix sobre por que não foram ouvidas ou consultadas.
Ela alega que muitas só tomaram conhecimento da série no dia de seu lançamento, no último dia 27, marco de dez anos da tragédia. A Netflix ainda não se pronunciou sobre o caso.