Com mais de 3 milhões de seguidores, as gêmeas siamesas Lupita e Carmen Andrade fazem sucesso no TikTok detalhando a rotina compartilhada. Os vídeos que elas publicam na rede costumam viralizar com uma média de 8 milhões de visualizações.
As irmãs mexicanas, de 22 anos, se mudaram ainda bebês para os Estados Unidos, em busca de trataento específico, e atualmente vivem em Connecticut.
Na época, os médicos diziam que seria arriscado separá-las, uma vez que as duas compartilhavam muitos órgãos vitais, como o torso e o mesmo sistema reprodutivo, conforme publicou o jornal britânico “The Mirror”.
Cada uma delas tem dois braços, mas apenas uma perna. Carmen controla a perna direita. “Eu dirijo!”, diz ela. Já Lupita, se encarrega de escolher as músicas e olhar o GPS. Enquanto Carmen está na faculdade e estuda para ser enfermeira veterinária, Lupita pretende trabalhar na mesma área, como técnica, além de sonhar em escrever comédia.
Ainda que estejam unidas fisicamente, as jovens defendem que são bem distintas. A Carmen, por exemplo, é a mais falante. Lupita é a mais engraçada e não descarta o sonho de um dia escrever uma comédia.
Vídeos virais
Na redes sociais, um dos pontos que mais chama atenção dos seguidores é que Carmen namora e Lupita é assexual. “Conheci meu namorado, Daniel, em um aplicativo de namoro, em outubro de 2020”, conta.
“Nunca tentei esconder o fato de ser gêmea siamesa, o que significa que recebi muitas mensagens de caras com fetiches. Eu sabia logo de cara que Daniel era diferente dos outros, porque ele não começou com uma pergunta sobre minha condição”, explica.
“Estamos juntos há dois anos e meio e discutimos o noivado, mas queremos morar juntos primeiro. Daniel e minha irmã se dão muito bem. E engraçado porque fico acordada até mais tarde que a Lupita, mas quando o Daniel vai dormir comigo, eu adormeço rápido – e ele fica conversando com ela”, acrescenta.
Mesmo com o difícil entendimento para quem está de fora, as duas garantem que são felizes assim. “Compartilhamos uma correndo sanguínea, um fígado, muitas estruturas internas”, ressalta Carmem.
“Se fizéssemos a cirurgia de separação, qualquer uma de nós poderia morrer, nós duas poderíamos morrer ou acabar na UTI, sem nunca mais poder sair”, completa Lupita.
É claro que a rotina, na condição delas, não é só alegria. Ambas enfrentam desafios, mas, ao mesmo tempo, elas tentam aproveitar a vida, indo ao cinema, a shows, viajando… Elas até frequentam a academia!
E as roupas ? “Nossa vizinha costura roupas para nós desde os 5 anos de idade. Ela faz todas as nossas camisas, vestidos e uniformes e outras coisas”, conta Carmen. Segundo elas, a decisão sobre os looks também não costuma gerar brigas.
“Temos o mesmo estilo, mas tentamos ter nossos próprios looks distintos. Não costumamos deixar o cabelo do mesmo comprimento. Quando fomos ao oftalmologista, Lupita escolheu óculos completamente diferentes dos meus. Ela tem um piercing na lateral do nariz. Eu tenho um anel de septo”, afirma.
As irmãs também juram que não se cansam uma da outra. “Às vezes, no final do dia, estamos exaustas e não queremos conversar. É quando vamos usar dispositivos diferentes e fazer nossas próprias coisas. Eu tenho meu laptop para fazer trabalhos escolares e Lupita coloca fones de ouvido e ouve música”, conta Carmen. “Estivemos juntos a vida inteira, então não é como se sentíssemos falta da nossa independência. É tudo o que já conhecemos, certo?”, compara.
A condição de Carmen e Lupita
O neurocirurgião Felipe Mendes explica que os gêmeos siameses ou gêmeos xifópagos conjugados, ou seja, cujo os corpos unidos são resultantes de uma falha do processo de embriogênese, basicamente a fecundação.
“Existe uma incidência em torno de um para 50 mil casos, porém como até 60% desses casos acabam não nascendo, a incidência verdadeira acaba sendo de um para 200 mil. E, como no caso das meninas, há uma predisposição maior em que pessoas do sexo feminino sejam mais afetadas. A proporção é de três para um”.
Assim como Carmen e Lupita, os gêmeos siameses podem estar unidos pelo abdômen, tórax, cabeça e até coluna vertebral.
Cirurgia
O especialista também argumenta que nem sempre a cirurgia é recomendada, uma vez que o procedimento é complexo e precisa estar muito alinhado com os pais, familiares e a equipe médica.
“Há casos em que o risco de perder um gêmeos é muito alto e, nessas ocasiões, a separação não é indicada. Porém, naquelas situações em que se é constatado a possibilidade minimamente segura, aí sim há a recomendação”.
As irmãs têm contas separadas no Instagram, onde compartilham momentos da rotina e curiosidades. A ideia é normalizar a presença de gêmeos siameses no mundo.
“Recebemos alguns comentários desagradáveis. Muitas pessoas não estão acostumadas com pessoas com deficiência estabelecendo limites ou criando limites quando se trata de sua deficiência. Recebemos muitas perguntas sobre sexo, como vamos ao banheiro e coisas assim. Mas você deve se lembrar: não somos apenas gêmeas siameses, somos pessoas”, finaliza Carmen.