Em uma sessão do Tribunal do Júri, que iníciou na manhã de quinta-feira e foi finalizada na madrugada desta sexta-feira (11), uma mulher e seu filho foram sentenciados por homicídio triplamente qualificado, em um caso que chocou a cidade de Criciúma, no Sul catarinense, em novembro de 2022. Edson da Rosa, na época com 43 anos, foi brutalmente assassinado com 24 facadas pela ex-esposa e pelo filho, após tentar formalizar o divórcio.
O casal, já separado há mais de um mês, havia vivido juntos por mais de duas décadas. Edson, determinado a encerrar o relacionamento, procurou um advogado e iniciou o processo de divórcio. No dia seguinte, retornou ao escritório com a documentação necessária, mas sua ex-companheira o contactou, pedindo que buscasse pessoalmente alguns documentos em sua antiga residência.
Apesar do receio, Edson decidiu ir até a casa onde havia construído sua vida familiar. No local, foi surpreendido e atacado com extrema violência, sendo morto a facadas pela ex-esposa e pelo filho.
Após uma sessão de julgamento que durou mais de 16 horas, ambos foram condenados por homicídio triplamente qualificado. A mulher recebeu a pena de 18 anos de reclusão, enquanto o filho, que tinha 19 anos à época do crime, foi sentenciado a 16 anos, ambos em regime inicial fechado.
De acordo com a tese apresentada pelo Ministério Público de Santa Catarina, o crime foi planejado para que mãe e filho pudessem obter vantagem financeira com a morte da vítima. O objetivo deles era receber o valor do seguro de um financiamento bancário feito para a construção de um imóvel, pois o óbito da vítima quitaria o financiamento, além da pensão por morte.
Os réus também sacaram o FGTS da vítima, recebendo mais de R$ 11.500 de verbas rescisórias, e ingressaram com a ação de inventário, que está suspensa até a decisão definitiva sobre o crime.
O Ministério Público irá recorrer da decisão buscando o aumento das penas.
Amigos e familiares acompanharam o julgamento
O crime comoveu a região, atraindo uma grande quantidade de pessoas para acompanhar o julgamento. Entre os presentes, estavam ex-colegas de trabalho da vítima.
“Ele era um cara muito tranquilo, não era capaz de fazer mal a uma formiga, estava sempre disposto, brincando, querendo ajudar, acalmar as situações de dia a dia na empresa. Hoje a gente veio aqui em busca de ver a justiça sendo feita”, conta Rafael Custódia Dias, que trabalhava com a vítima.
O proprietário da empresa onde o homem trabalhava na época em que o crime ocorreu, Estevão Pierini, permaneceu em plenário desde o início da sessão até o término, por volta de 1h da manhã. Ele expressou a dor coletiva dos funcionários.
“Hoje a gente está aqui com um sentimento enorme de revolta, de todos nós, de todos os funcionários, alguns inclusive que quiseram vir aqui ver pessoalmente o julgamento. Ele era um dos meus funcionários de confiança, honesto, paciente. Estou aqui com o coração pequeno, apertado, apenas esperando que a justiça seja feita”, relatou aos prantos.
Uma das irmãs da vítima, que acompanhou todas as etapas do julgamento, relembra com carinho do irmão. “Casamentos não dão certo, acontece e faz parte, mas matar alguém por isso jamais poderia acontecer. Ainda lembro tanto dele, em momentos especiais. Estou aqui vendo tudo arrasada, sem chão. Justamente quando ele ia começar a viver uma nova vida, ia se separar, isso ocorreu. Só esperamos por justiça”, desabafou Vanusa Senna.
Três qualificadoras
O homicídio foi agravado por três qualificadoras. A primeira foi o motivo torpe, uma vez que o crime foi motivado pelo desejo de lucro financeiro. A segunda foi o emprego de meio cruel, visto que a vítima sofreu intenso sofrimento físico ao ser esfaqueada no tórax e no abdômen 24 vezes.
Por fim, houve a traição, já que a mulher atraiu o ex-marido ao local sob o pretexto de entregar-lhe documentos, aproveitando-se da confiança que ele ainda tinha nela.
“Hoje, depois de quase dois anos de um crime tão bárbaro e brutal, finalmente foi possível dar uma resposta à família, aos amigos e à própria memória do Edson. Infelizmente não é incomum termos homicídios e realizações de Tribunais do Júri, mas é, sim, incomum termos um caso tão vil como esse. O filho e a ex-esposa, com quem o Edson viveu 23 anos, colocaram um preço na vida dele, e isso é inaceitável. Infelizmente a pena não foi, no sentir da acusação, suficiente para reprovar um fato tão grave, então iremos recorrer para que seja dada uma resposta à altura, confirmando com veemência a decisão dos jurados”, relata a Promotora de Justiça Greice Chiamulera Cristianetti.
Os réus, que já estavam presos preventivamente, tiveram negado o direito de recorrer em liberdade.