Numa rápida passagem pelas redes sociais, um homem bem-vestido e de porte refinado oferece um método infalível para investir seu dinheiro, ao mesmo tempo em que uma suposta empresária bem-sucedida garante ter a fórmula perfeita para o sucesso profissional.
No mesmo embalo, um casal de famosos influencers, com seus corpos esculturais, sugere um jeito fácil de alcançar a perfeição física. Tudo isso, por um preço baixo e em poucos meses, ou pelo menos é o que dizem muitas ofertas de planos e cursos online anunciados em plataformas como o Facebook e o Instagram.
Infelizmente, o chamado mercado de milagres que se criou no ambiente virtual é bem diferente das bem-elaboradas publicidades e pode levar o consumidor a um cenário de decepção e prejuízos, como mostra a Campanha “Não Clica que é Golpe”, desenvolvida pelo Ministério Público de Santa Catarina, por meio do Centro de Apoio Operacional do Consumidor (CCO).
Segundo o Promotor de Justiça Leonardo Cazonatti Marcinko, além da necessidade de conhecer dicas e cuidados que devem ser tomados na hora de contratar um serviço online, o consumidor deve aprender a se esquivar de promessas milagrosas que não condizem com a realidade.
Investigue fornecedores e produtos
Que a internet é uma fonte inesgotável de conhecimento e informações isso não se discute. Dificilmente existe um tema ou assunto que não esteja disponível em algum lugar na rede mundial de computadores, assim como as ofertas ilimitadas de produtos e serviços. Diante desse universo a ser explorado, os consumidores precisam saber identificar ao menos os riscos e perigos mais frequentes que podem surgir durante a navegação em rede.
No caso das fraudes baseadas em cursos online, as estratégias utilizadas para ludibriar as pessoas não são muito diferentes daquelas utilizadas em outras práticas ilícitas e fraudes, a começar pelas ofertas tentadoras que prometem altos ganhos financeiros ou grandes resultados estéticos em poucos dias.
“Domine a língua inglesa sem estudar gramática”, “seque sua barriga em apenas quatro semanas sem fazer dieta e exercícios”, ou “triplique seus rendimentos com esse método infalível de investimento”. Essas são algumas das propagandas que podem levar o consumidor a perder dinheiro.
Com propostas exageradas e incisivas, como se o cliente precisasse comprar logo, esse tipo de publicidade costuma direcionar o consumidor a páginas com longos vídeos que supostamente vão lhe passar algum tipo de solução incrível ao final, o que não acontece.
Para prender a atenção da vítima até o momento da efetiva compra vale todo tipo de artimanha, incluindo hospedagem em plataformas conhecidas como Facebook e até falsos depoimentos de profissionais e clientes se dizendo satisfeitos com o produto.
Leonardo Marcinko destaca que os desfechos mais comuns são a perda do dinheiro em razão da compra de um curso inexistente ou a contratação de um curso que não entrega o resultado prometido ou não condiz com o que foi vendido.
“É importante que as pessoas percebam que, mesmo em plataformas bastante conhecidas, podem existir riscos, pois nelas estão hospedados sites desconhecidos. Os criminosos utilizam exatamente a credibilidade desses ambientes para tornar sua fraude mais atraente e confiável.
Por isso, quando clicar em um anúncio e for direcionado para outro ambiente virtual, observe atentamente as características da página e procure detalhes suspeitos. Páginas fraudulentas costumam apresentar erros de português e falhas grotescas. Outro ponto de atenção é que os endereços de sites seguros começam com https:// e possuem um cadeado ao lado da URL no topo da tela“, explica.
O Promotor de Justiça reforça que os consumidores não devem efetuar compras clicando diretamente nas publicidades das redes sociais. É essencial consultar outras formas de contato e fontes de informações sobre a empresa fornecedora e o produto ofertado.
Vale lembrar que, em caso de golpe, os criminosos farão de tudo para mantê-lo preso ao ambiente criado para enganá-lo. Portanto, fuja de possíveis ciladas e pesquise dados mais aprofundados em outros canais, como CNPJ, endereço físico, informações de contato e avaliações reais de clientes. Utilize recursos como sites de pesquisa e de reclamações relacionados a empresas, como, por exemplo, o Reclame Aqui.
Além do perigo de perder dinheiro com falsas vendas, o consumidor também deve se precaver contra cursos de baixa qualidade, que não correspondem ao que foi ofertado pelo fornecedor. É essencial pesquisar a reputação da instituição ou plataforma de ensino, analisar a grade de programação e verificar a qualificação dos professores e instrutores.
Compare os resultados prometidos com o conteúdo programático, certificando-se de que a plataforma oferece suporte adequado ao aluno e uma estrutura apropriada para as aulas.
Ofertas de empregos e bolsas de estudos
O MP alerta para golpes relacionados a cursos online, como a falsa vaga de emprego. Nesse tipo de prática criminosa, o cidadão é convidado para uma entrevista de emprego ou atraído por um anúncio de uma boa oportunidade. Entretanto, durante o processo de seleção, ele é surpreendido com a oferta de um curso obrigatório para conquistar a vaga.
Muito cuidado com esse tipo de proposta, pois, além de ter que desembolsar dinheiro para a contratação do curso, muitas vezes de baixa qualidade, não há qualquer garantia de que a vaga será sua.
Também está crescendo no Brasil a prática conhecida como o golpe da falsa bolsa de estudos. Tudo começa com um e-mail dizendo que o cidadão foi selecionado para participar de um curso ofertado por alguma universidade, até de outros países. Geralmente, ou a oferta de vaga é em uma instituição que não existe ou a oferta de bolsa de estudo é fraudulenta. O objetivo é ganhar dinheiro com taxas de falsa matrícula ou roubar dados pessoais para invadir contas bancárias e praticar outros crimes.
O prometido e o entregue
Em relação aos cursos online, o ponto chave das maiores insatisfações dos consumidores é a publicidade enganosa, com o uso de informações vagas que insinuam possíveis ganhos e criam falsas expectativas sem qualquer transparência. O discurso – muitas vezes lançado por personalidades famosas – é baseado em falsas promessas de resultados incríveis, que seduzem, conquistam e causam grande frustração ao não entregar o prometido.
O Coordenador do CCO, Leonardo Marcinko, ressalta que a falta de clareza, mesmo que não planejada, fere os direitos do consumidor e deve ser combatida.
“O consumidor tem o direito de acesso a informações claras, corretas e objetivas em relação aos produtos e serviços contratados. De forma proposital ou ainda que por descuido, muitas estratégias de venda usadas na internet, principalmente nas redes sociais, pecam pela falta de transparência e pela comunicação ineficiente que fere o Código de Defesa do Consumidor. Os consumidores que se sentirem lesados com alguma prática devem procurar os órgãos de proteção, como os Procons e, nos casos mais graves, até mesmo uma Delegacia de Polícia Civil. O Ministério Público atua de forma conjunta com esses órgãos.”